quinta-feira, 8 de julho de 2021

Bruno Boghossian – Saltando etapas

Folha de S. Paulo

Prisão é reflexo da capacidade limitada de investigação da CPI

Em oito horas de depoimento, a CPI da Covid não conseguiu arrancar de Roberto Ferreira Dias provas de corrupção na compra de vacinas, mas exibiu o ex-diretor do Ministério da Saúde como troféu. "Não estamos aqui para brincar de ouvir historinha de servidor que pediu propina. Isso que está acontecendo não vai acontecer mais, declarou o presidente da comissão, Omar Aziz.

ordem de prisão por falso testemunho e a irritação do senador nos minutos finais da sessão refletem as limitações da capacidade de investigação da CPI. Até aqui, a comissão demonstrou dificuldades para desarmar as redes de proteção mantidas pelos suspeitos e obter elementos que possam desvendar negócios que ocorriam às escondidas.

Integrantes da CPI acreditam que Dias era peça de um esquema que envolve o centrão, militares, empresários e até um reverendo. A comissão já entendeu que os personagens do consórcio trabalham para resguardar segredos de contratos bilionários, mas ainda não teve força para ultrapassar essa barreira.

A frustração de alguns senadores resulta das restrições que regem o funcionamento da comissão. Uma CPI não tem autoridade para negociar delações premiadas e convencer investigados a entregar seus comparsas. Também não pode grampear telefonemas ou determinar a apreensão de documentos numa residência ou na sede de uma empresa.

"As pessoas precisam entender que uma investigação de corrupção e lavagem de dinheiro é uma investigação de alta complexidade", lembra o senador Alessandro Vieira (Cidadania), que foi delegado da Polícia Civil de Sergipe por 17 anos. "São necessárias diligências que vão superar o tempo de duração da CPI. E a comissão não tem perna para tudo isso."

A CPI deu só os primeiros passos ao encontrar pistas sobre os negócios suspeitos. A prisão de Roberto Ferreira Dias é uma tentativa de saltar algumas etapas e pressionar um ex-diretor que tinha o apoio de políticos do centrão, num Ministério da Saúde povoado por militares.

 

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