Folha de S. Paulo
Prisão é reflexo da capacidade limitada de investigação da CPI
Em oito horas de depoimento, a CPI da Covid
não conseguiu arrancar de Roberto Ferreira Dias provas de corrupção na compra
de vacinas, mas exibiu o ex-diretor do Ministério da Saúde como troféu.
"Não estamos aqui para brincar de ouvir historinha de servidor que pediu
propina. Isso que está acontecendo não vai acontecer mais, declarou o
presidente da comissão, Omar Aziz.
A ordem de prisão por falso testemunho e a irritação do senador nos minutos finais da sessão refletem as limitações da capacidade de investigação da CPI. Até aqui, a comissão demonstrou dificuldades para desarmar as redes de proteção mantidas pelos suspeitos e obter elementos que possam desvendar negócios que ocorriam às escondidas.
Integrantes da CPI acreditam que Dias era
peça de um esquema que envolve o centrão, militares, empresários e até um
reverendo. A comissão já entendeu que os personagens do consórcio trabalham
para resguardar segredos de
contratos bilionários, mas ainda não teve força para ultrapassar
essa barreira.
A frustração de alguns senadores resulta
das restrições que regem o funcionamento da comissão. Uma CPI não tem
autoridade para negociar delações premiadas e convencer investigados a entregar
seus comparsas. Também não pode grampear telefonemas ou determinar a apreensão
de documentos numa residência ou na sede de uma empresa.
"As pessoas precisam entender que uma
investigação de corrupção e lavagem de dinheiro é uma investigação de alta
complexidade", lembra o senador Alessandro Vieira (Cidadania), que foi
delegado da Polícia Civil de Sergipe por 17 anos. "São necessárias diligências
que vão superar o tempo de duração da CPI. E a comissão não tem perna para tudo
isso."
A CPI deu só os
primeiros passos ao encontrar pistas sobre os negócios suspeitos. A
prisão de Roberto Ferreira Dias é uma tentativa de saltar algumas etapas e
pressionar um ex-diretor que tinha o apoio de políticos do centrão, num
Ministério da Saúde povoado por militares.
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