Em entrevista presidente fez ataques a ministros do STF e colocou em xeque sistema eleitoral, sem apresentar provas
Mariana Muniz / O Globo
BRASÍLIA — O presidente do Supremo Tribunal
Federal (STF), ministro Luiz Fux, reagiu aos ataques a integrantes da Corte e
do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) feitos nesta quarta-feira pelo presidente
da República, Jair Bolsonaro, em uma entrevista a uma rádio do Rio Grande do
Sul, e disse que a "liberdade de expressão deve conviver com respeito às
instituições".
"O Supremo Tribunal Federal ressalta
que a liberdade de expressão, assegurada pela Constituição a qualquer
brasileiro, deve conviver com o respeito às instituições e à honra de seus
integrantes, como decorrência imediata da harmonia e da independência entre os
Poderes", disse Fux em nota divulgada pela assessoria de imprensa do
Supremo.
Ainda segundo Fux, o STF "rejeita
posicionamentos que extrapolam a crítica construtiva e questionam indevidamente
a idoneidade das juízas e dos juízes da Corte".
Durante a entrevista, enquanto falava de
sua intenção de indicar o advogado-geral da União, André Mendonça, para a vaga
do ministro Marco Aurélio Mello, Bolsonaro criticou o ministro Luís Roberto
Barroso, por, segundo ele, não acreditar em Deus e por defender coisas que
"não encontram amparo nenhum" na Bíblia.
Em outros momentos da entrevista, o
presidente também fez diversas críticas a Barroso, dizendo que ele "quer
destruir nossa democracia" e é um "péssimo ministro". Barroso,
que preside o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tem sido alvo de ataques de
Bolsonaro por ser contrário à proposta de impressão do voto que está sendo
articulada na Câmara dos Deputados.
Também por meio de nota, a assessoria de imprensa do TSE informou que Barroso está em um "compromisso acadêmico fora do Brasil e pediu para não ser incomodado com mentiras e miudezas".
O presidente da República também disse
durante a entrevista, sem qualquer prova, que o deputado federal e ex-candidato
à presidência da República Aécio Neves (PSDB-MG) foi eleito em 2014 - quando
foi derrotado por Dilma Rousseff (PT).
— O nosso levantamento aqui, feito por
gente que entende do assunto, acompanhou toda votação, garante que sim. O que
eu vi foi comprovada a fraude em 2014, O Aécio foi eleito em 2014. Não vou
entrar no mérito de quem é melhor, mas o que as urnas apontaram dado esse
levantamento deu Aécio Neves em 2014 —, afirmou o presidente, que já havia
dito, sem provas, que houve fraude na eleição de 2018, que ele venceu.
Além de fazer críticas ao presidente do
TSE, Bolsonaro citou nominalmente outros ministros, como Edson Fachin, Cármen
Lúcia e Rosa Weber. E disse, sem citar nomes, que há ministros que negociam
voto para arquivar processo.
—É um absurdo o que o STF faz, o que uns supremos
fazem —, disse o presidente da República.
No final de junho, o corregedor-geral da
Justiça Eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, deu 15 dias para que Bolsonaro
apresente as provas que diz ter sobre uma suposta fraude no sistema eletrônico
de votação nas eleições de 2018. O presidente ainda não as apresentou.
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