O Estado de S. Paulo
Estava escrito nas estrelas que, mais dia,
menos dia, o presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), iria mandar prender
um depoente mentiroso. O que não se sabia, nem se esperava, era que ele fosse
passar a mão na cabeça dos peixes graúdos e dar voz de prisão para um miúdo,
Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde.
Motivos não faltaram, já que Dias insistiu horas a fio num conto da carochinha, dizendo que o jantar num shopping de Brasília com um militar, um empresário e um atravessador que oferecia 400 milhões de doses de vacinas, teria sido por “pura coincidência”. Nesse jantar, ele, Dias, teria falado em propina de US$ 1 por dose. Só um ou outro senador governista acreditou, ou fingiu acreditar, na versão da “coincidência”. Mas que ele é peixe miúdo, diante de tantos outros, lá isso é.
Deixando de lado o ex-secretário de
Comunicação Fábio Wajngarten, o ex-ministro e general da ativa Eduardo Pazuello
e o ex-secretário executivo do ministério coronel da reserva Élcio Franco –
que, na opinião da cúpula da CPI, mentiram descaradamente – foram poupados por
Aziz e ainda ganharam cargos lustrosos no Palácio do Planalto, a metros do
gabinete presidencial. Pazuello até sonha em enveredar por uma carreira
política.
Já o civil Roberto Dias, ligado ao líder do
governo na Câmara, Ricardo Barros (Progressistas-pr), foi punido duplamente,
pelo Legislativo, via CPI, que mandou prendê-lo, e pelo Executivo, que
determinou sua demissão do cargo na Saúde. A prisão e a demissão, porém, deixam
sérias dúvidas: Dias é o corrupto-mor do ministério? Agia sozinho ou
participava de um esquemão? Foi perseguido ou não por uma disputa interna entre
o grupo militar e o grupo político da Saúde?
Ninguém é santo e ninguém está contando
toda a verdade nessa história toda de desprezo das boas vacinas (Pfizer,
Coronavac e as do consórcio internacional Covax Facility) e principalmente de
interesse voraz por ofertas, empresas, atravessadores e vacinas para lá de
suspeitas. E a CPI conta com a possibilidade de, em algum momento, sob intensa
pressão, um deles finalmente abrir a boca. A expectativa é de que esse um seja
Roberto Dias.
Como detalhe mais do que só curioso: os
senadores governistas, como o líder Fernando Bezerra (MDB-PE) e o senador Marco
Rogério (DEM-RO), não deixaram claro se estavam se esforçando para defender o
governo ou Roberto Dias, o funcionário que quase foi demitido em outubro de
2020 e acabou defenestrado pelo próprio governo. E sob suspeita de corrupção.
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