quinta-feira, 8 de julho de 2021

Vinicius Torres Freire – Boas novas sobre vacinação e riscos

- Folha de S. Paulo

Boas notícias levantam debate sobre vacina para adolescentes e dose 3 para idosos

As últimas horas foram de boas notícias sobre a vacinação. O cenário despiora, embora seja difícil chamar a atenção para essas melhorias relativas, mas importantes.

Não é possível competir com o “reality show” da CPI, com a prisão ao vivo de um depoente e com as reações cada vez mais bárbaras de Jair Bolsonaro a seu desprestígio e às evidências de que o Ministério da Saúde era (é?) um camelódromo sórdido.

Ainda assim, existe um pouco mais de esperança de que menos brasileiros sofram com a Covid-19. Problemas: 1) o país ainda padece de um número de casos e mortes do nível da “segunda onda” ou, melhor, de seu começo. Se a epidemia continuar a arrefecer, talvez saiamos dessa crise pior, que, no entanto, ainda será grave; 2) euforias com o avanço da vacinação APENAS PARCIAL com dose 1 e com a redução do número de casos e mortes podem levar ao relaxamento de medidas oficiais e pessoais de distanciamento e proteção. Seria um risco de qualquer maneira, piorado pela ameaça da variante delta.

Ainda assim, a provável aceleração do ritmo de vacinação já suscita novas, mas difíceis, discussões. Algumas prefeituras pensam em vacinar adolescentes. Especialistas pelo mundo e brasileiros ouvidos por este jornalista, no entanto, acham que, além de precoce, a discussão pode ser outra.

Primeiro, é preciso garantir a dose 2 ou vacinação integral, em particular das pessoas com mais idade, e já. Na cidade de São Paulo, falta vacinar integralmente 44% das pessoas de 65 a 69 anos, 84% daqueles entre 60 e 64 anos etc.

Segundo, na hipótese ainda distante de todos adultos estarem vacinados integralmente, é preciso pensar na conveniência de dar dose 3 para as pessoas com mais idade, dizem cientistas.

Quanto às boas notícias, o governo de São Paulo anunciou a compra de 4 milhões de doses extras de Coronavac e afirma ter garantias de que vai receber matéria-prima suficiente para entregar a vacina contratada pelo Ministério da Saúde, 100 milhões de doses, até o fim de agosto (seriam cerca de 37 milhões de doses entregues no mês que vem).

Fiocruz vai entregar as doses previstas para julho, mas ainda não adianta previsões de recebimento de insumos e de entregas para agosto. A Pfizer continua a fazer entregas no prazo.

Houve a “sobra” das Janssen inesperadas (doação americana de 3 milhões de injeções). No ministério da Saúde e no governo de São Paulo se diz que os Estados Unidos devem fazer nova doação de vacinas para o Brasil, mas não foi possível confirmar oficialmente a informação.

E daí? Com a compra de 4 milhões de doses extras, o estado de São Paulo poderia antecipar ainda mais o cronograma da dose 1. No ritmo de vacinação de junho e julho, até agora, o estado daria a primeira dose para todos os adultos até 30 de agosto.

Caso essas doses extras fiquem no estado (isto é, que o ministério não inclua tais vacinas no programa nacional), seria possível antecipar a meta para 21 de agosto. A vacinação integral ou com duas doses poderia ocorrer em algum momento de novembro.

No Brasil, no ritmo atual, haveria dose 1 para os adultos em meados de setembro. Claro, tudo depende da entrega de doses a partir de agosto, ora bem menos incerta, porém.

De resto, vacina apenas não resolverá nosso problema. Daqui até dezembro serão longos cinco meses, boa parte deles com vacinação parcial e grande circulação do vírus. O relaxamento na proteção, a falta de testes, de rastreamento de variantes e outras medidas de inteligência sanitária ainda podem renovar a nossa tragédia.

 

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