- Folha de S. Paulo
Boas notícias levantam debate sobre vacina
para adolescentes e dose 3 para idosos
As últimas horas foram de boas notícias
sobre a vacinação.
O cenário despiora, embora seja difícil chamar a atenção para essas melhorias
relativas, mas importantes.
Não é possível competir com o “reality
show” da CPI, com a prisão
ao vivo de um depoente e com as reações cada vez mais bárbaras
de Jair
Bolsonaro a seu desprestígio e às evidências de que o
Ministério da Saúde era (é?) um camelódromo sórdido.
Ainda assim, existe um pouco mais de esperança de que menos brasileiros sofram com a Covid-19. Problemas: 1) o país ainda padece de um número de casos e mortes do nível da “segunda onda” ou, melhor, de seu começo. Se a epidemia continuar a arrefecer, talvez saiamos dessa crise pior, que, no entanto, ainda será grave; 2) euforias com o avanço da vacinação APENAS PARCIAL com dose 1 e com a redução do número de casos e mortes podem levar ao relaxamento de medidas oficiais e pessoais de distanciamento e proteção. Seria um risco de qualquer maneira, piorado pela ameaça da variante delta.
Ainda assim, a provável aceleração do ritmo
de vacinação já suscita novas, mas difíceis, discussões.
Algumas prefeituras pensam em vacinar
adolescentes. Especialistas pelo mundo e brasileiros ouvidos por
este jornalista, no entanto, acham que, além de precoce, a discussão pode ser
outra.
Primeiro, é preciso garantir a dose 2 ou
vacinação integral, em particular das pessoas com mais idade, e já. Na cidade
de São Paulo,
falta vacinar integralmente 44% das pessoas de 65 a 69 anos, 84% daqueles entre
60 e 64 anos etc.
Segundo, na hipótese ainda distante de
todos adultos estarem vacinados integralmente, é preciso pensar na conveniência
de dar dose 3 para as pessoas com mais idade, dizem cientistas.
Quanto às boas notícias, o governo de São
Paulo anunciou a compra de 4 milhões de doses extras de Coronavac e
afirma ter garantias de que vai receber matéria-prima suficiente para entregar
a vacina contratada pelo Ministério da Saúde, 100 milhões de doses, até o fim
de agosto (seriam cerca de 37 milhões de doses entregues no mês que vem).
A Fiocruz vai
entregar as doses previstas para julho, mas ainda não adianta previsões de
recebimento de insumos e de entregas para agosto. A Pfizer continua a fazer
entregas no prazo.
Houve a “sobra” das Janssen inesperadas
(doação americana de 3 milhões de injeções). No ministério da Saúde e no
governo de São Paulo se diz que os Estados Unidos devem fazer nova doação de
vacinas para o Brasil, mas não foi possível confirmar oficialmente a
informação.
E daí? Com a compra de 4 milhões de doses
extras, o estado de São Paulo poderia antecipar ainda mais o cronograma da dose
1. No ritmo de vacinação de junho e julho, até agora, o estado daria a primeira
dose para todos os adultos até 30 de agosto.
Caso essas doses extras fiquem no estado
(isto é, que o ministério não inclua tais vacinas no programa nacional), seria
possível antecipar a meta para 21 de agosto. A vacinação integral ou com duas
doses poderia ocorrer em algum momento de novembro.
No Brasil, no ritmo atual, haveria dose 1
para os adultos em meados de setembro. Claro, tudo depende da entrega de
doses a partir de agosto, ora bem menos incerta, porém.
De resto, vacina apenas não resolverá nosso
problema. Daqui até dezembro serão longos cinco meses, boa parte deles com
vacinação parcial e grande circulação do vírus. O relaxamento na proteção, a
falta de testes, de rastreamento de variantes e outras medidas de inteligência
sanitária ainda podem renovar a nossa tragédia.
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