O Estado de S. Paulo
O presidente Jair Bolsonaro sofreu três
derrotas relevantes nesta terça-feira, 10, e a principal delas foi a
decisão do plenário da Câmara de "enterrar definitivamente", como
disse o presidente da Casa, deputado Arthur Lira (PP-AL), a Proposta
de Emenda Constitucional (PEC) que recriaria o voto
impresso no Brasil. Esta era - ou é? - não apenas a principal bandeira, mas a
atual obsessão de Bolsonaro.
As duas outras derrotas: a Lei de Segurança Nacional (LSN) foi derrubada no Senado e a convocação de blindados militares para desfilar na Praça dos Três Poderes e na Esplanada dos Ministérios foi um fiasco, pelo espetáculo, pelas autoridades que participaram e pelo público que assistia. Em vez de ajudar, pode ter piorado as chances de aprovação do voto impresso na Câmara.
Se lhe serve de consolo, o presidente tem a favor dele o placar da votação do voto impresso na Câmara. A proposta perdeu porque não atingiu os 308 votos necessários para aprovar emendas constitucionais e nem mesmo os 257 de maioria absoluta, mas teve mais votos favoráveis (229) do que contrários (218). Arthur Lira, que conversou com ele antes da votação, anunciou que Bolsonaro acataria o resultado, qualquer que fosse ele. Mas, com Bolsonaro, nunca se sabe.
O fato é que o placar dá a chance ao
presidente de manter o discurso e o ataque à urna eletrônica, ao TSE e
a ministros do Supremo, atiçando suas bases na internet, tirando o foco da
pandemia, da CPI da Covid e da crise social e
insistindo que ele tem razão e tem maioria. Apesar de, na realidade, ter usado
todos os recursos à sua disposição e mesmo assim jamais ter comprovado uma
única fraude sequer do sistema eleitoral brasileiro.
A urna eletrônica, aliás, foi criada em
1996 e até hoje passou ilesa nesse quesito: jamais houve uma acusação séria e
com provas de fraudes nos resultados e, além de Bolsonaro, todos os atuais 513
deputados e 81 senadores foram eleitos justamente por esse sistema. E, como
lembraram durante a votação, nunca reclamaram.
A segunda derrota de Bolsonaro também foi
importante. O Senado derrubou à tarde a famigerada Lei de Segurança Nacional.,
um instrumento que foi criado e bastante usado na ditadura militar contra os
opositores do regime, mas vinha sendo utilizado pelo governo Bolsonaro e até
pelo ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.
E a terceira derrota é recheada de simbolismo:
o presidente da República e o ministro da Defesa, general Walter Braga Neto, deram um tiro no pé
ou melhor, um tiro n'água, já que se trata da Marinha - ao promoverem um
desfile de blindados e equipamentos militares na Praça dos Três Poderes e na
Esplanada dos Ministérios, justamente no dia da votação do voto impresso. O
resultado está nas redes sociais e até na mídia internacional: o desfile virou
motivo de chacota.
Além disso, Bolsonaro assistiu a ele
cercado de militares e um ou outro ministro ou líder do Centrão, como o
ministro Ciro Nogueira, da Casa Civil, e o líder do governo na Câmara, Ricardo Barros, que vai depor na quinta-feira na CPI da Covid no
Senado, mas nenhum dos seus convidados do Judiciário e do
Legislativo compareceu.
A foto da cerimônia e as manifestações na Câmara e no Senado mostram isolamento, não força, liderança e capacidade de união do presidente. E, se a intenção era amedrontar deputados, senadores e ministros, definitivamente não foi isso que aconteceu.
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