Folha de S. Paulo
Com Bolsonaro, Forças Armadas aceitaram
papel de personagens da arena política
As Forças Armadas aceitaram o papel de
personagens da arena política. O passeio de blindados da Marinha na praça dos
Três Poderes coroa uma sequência de episódios em que os chefes militares se
dispuseram a explorar o poder associado a suas fardas como uma ferramenta de
intimidação —sob o estímulo do governo Jair Bolsonaro e a complacência de
outras instituições.
O desfile começou com os generais. Em 2018, na véspera do julgamento do STF que decidiria se o ex-presidente Lula seria preso, o comandante do Exército lançou uma ameaça ao tribunal. Fingiu que cabia à Força fazer alertas ao Judiciário e afirmou que compartilhava um anseio de "repúdio à impunidade".
O próprio Bolsonaro reconheceu a
interferência política dos militares na eleição daquele ano. No segundo dia de
governo, sem citar um episódio específico, o presidente afirmou que o general
Eduardo Villas Bôas era "um
dos responsáveis" por ele ter chegado ao poder. "O que já
conversamos morrerá entre nós", declarou.
Bolsonaro e seus auxiliares tomaram gosto
pela coisa. Ainda no ano passado, o presidente usou a
entrada do quartel-general do Exército como palanque para atacar o Congresso.
"Não queremos negociar nada", disse, antes de abrir a porta da frente
do Planalto para o centrão.
Não é surpresa, portanto, que os militares
tenham se envolvido na mais recente obsessão bolsonarista, o voto impresso.
Além dos ataques públicos feitos pelo presidente a ministros do STF, o general
Walter Braga Netto (Defesa) decidiu agir como porta-voz
de uma ameaça à realização das eleições, segundo noticiou o jornal O Estado
de S. Paulo.
A Aeronáutica aderiu formalmente a esse
grupo no mês passado, quando seu comandante tentou
intimidar publicamente os senadores da CPI da Covid. O apoio da Marinha
chegou sem muita cerimônia: ao mandar seus tanques para a região do Congresso
nesta terça (10), a Força aceitou passar a mensagem de que se tornou um veículo
político do governo. O partido militar está completo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário