Valor Econômico
Avalia-se se ainda é necessária a
divulgação do documento, depois que ele já foi publicado de maneira não oficial
e teve repercussão inesperada na imprensa
Mesmo depois das manifestações de desagrado
do governo Bolsonaro e, em particular, das ameaças do presidente da Caixa,
Pedro Guimarães, aos bancos, não houve retirada de assinaturas do manifesto dos
empresários, conduzido pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São
Paulo). Ao contrário, na terça-feira, o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, enviou
e-mail às entidades empresariais reabrindo o prazo de adesão para até hoje,
sexta-feira, sob o argumento de que, além das representações do setor privado
que haviam apoiado o manifesto, inúmeras outras deixaram claro o desejo de
serem signatárias. “Em menos de 24 horas recebemos mais de 200 adesões das mais
representativas entidades brasileiras. Dezenas de outras entidades também
manifestaram interesse em participar”, diz o e-mail assinado por Skaf.
Nem mesmo a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), depois de alguns banqueiros terem recebido ameaças do presidente da Caixa de serem excluídos de negócios com o banco estatal - segundo reportagem da jornalista Malu Gaspar, publicada em “O Globo” -, retirou ou pretendia retirar sua adesão aos termos do manifesto. Aliás, Caixa e Banco do Brasil falaram em se desfiliar da Febraban, em protesto, caso a entidade mantivesse apoio ao texto, e pediram, ontem, uma nova reunião do conselho da federação para rediscutir o tema, o que foi negado. No fim do dia de ontem a Febraban soltou nota reafirmando os termos do manifesto e se desvinculando da Fiesp. O que significa que os bancos não se associam a eventual decisão da indústria de não mais divulgar oficialmente o texto.
Sob o título “A Praça é dos Três Poderes”,
o texto, que seria divulgado na terça-feira passada, teve a publicação adiada,
por decisão de Skaf, para depois do dia 7 de setembro, a pedido do presidente
da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sob pena de acirrar ainda mais os ânimos já
beligerantes que ameaçam as manifestações do 7 de setembro. A mera leitura do
manifesto não encontra razões para a reação do governo, a não ser a força das
entidades que o apoiam.
O manifesto chama a atenção para o clima de
tensão e de hostilidade criado pelas autoridades da República, não cita nomes,
pede “serenidade, diálogo, pacificação política, estabilidade institucional” e,
sobretudo, foco nas medidas de combate à pandemia, de recuperação da economia e
de superação das carências sociais.
Skaf teria dito para autoridades da área
econômica que teve que atuar para amenizar as críticas feitas em um rascunho
produzido na Febraban. A federação dos bancos nega que tenha participado da
elaboração de um texto que contivesse ataques ao governo ou oposição à atual
política econômica.
Tudo começou com um pequeno grupo de
banqueiros e de empresários do setor produtivo que discutia o que fazer para
interromper a escalada da irracionalidade que nos leva ao risco de uma ruptura
institucional. Alguns já haviam assinado o manifesto de teor semelhante que
tinha também o apoio de economistas, profissionais liberais e nomes
representativos da cultura nacional. Era preciso, agora, ir além e envolver o
setor empresarial nas suas mais diversas áreas.
Na semana passada discutiu-se o texto, e a
Fiesp passou a ser protagonista do manifesto. Enviou e-mail a todas as
entidades filiadas com o seu teor, assumiu os custos de sua divulgação na mídia
e deu prazo para uma resposta de concordância até sexta feira, dia 27 de
agosto, às 17 horas.
No sábado, Lauro Jardim, de “O Globo”,
noticiou em sua coluna que Caixa e Banco do Brasil se desfiliariam da Febraban
se ela se mantivesse como signatária do manifesto. O presidente Jair Bolsonaro
e o ministro da Economia, Paulo Guedes, avalizaram a decisão, concebida por
Pedro Guimarães. O argumento é o de que a federação dos bancos está assumindo
uma decisão política ao ser signatária de um manifesto que pede serenidade,
diálogo e respeito à harmonia e equilíbrio dos três Poderes.
No fim de semana Lira ligou para Skaf, que
pretendia divulgar o manifesto na terça-feira, para que suspendesse ou adiasse
a data da sua publicação. O presidente da Fiesp adiou a divulgação, mas não
marcou uma nova data.
Duas coisas aconteceram nesse episódio: 1)
a reação do governo foi de tal ordem que deu uma visibilidade ao manifesto que
provavelmente ele não teria, de uma semana de noticiário na mídia; e 2) expôs
com clareza o modus operandi do governo, principalmente através da atuação do
presidente da Caixa.
Avalia-se se ainda é necessária a
divulgação do documento, depois que ele já foi publicado de maneira não oficial
e teve repercussão inesperada na imprensa. Se isso ocorrer, será o manifesto
“viúva Porcina” - aquela que foi sem nunca ter sido.
Havia, no fim do dia de ontem, intensa
negociação para ver como solucionar esse caso sem que o desfecho gere grandes
perdas.
Exemplo: na guerra de manifestos, se o da
Fiesp não for mais publicado, a Caixa e o Banco do Brasil permaneceriam
filiados à Febraban?
Há uma maneira mais dramática de ver todo
esse episódio, olhando para o que pode acontecer no dia 7 de setembro.
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