Correio Braziliense
A última do ministro da
Saúde foi retirar a CoronaVac, a vacina do Butantã, do programa de reforço
da imunizaçao, a chamada terceira dose
A notícia de que o ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga, havia pedido demissão foi a sensação nas redes sociais,
ontem, até ser desmentida pelo próprio. Em se tratando daquela pasta, cuja
atuação na pandemia de covid-19 é investigada pela CPI do Senado, tudo
poderia acontecer, ainda mais uma troca de ministros, porque três já passaram
pelo cargo. A notícia era uma “barriga”, ou seja, uma notícia falsa no velho
jargão jornalístico, geralmente publicada de forma involuntária, ou seja, algo
muito diferente de uma maldosa fake news. Se bem que não é incomum um fato como
esse se confirmar somente algumas semanas depois, por puro capricho de quem
demite, porque a informação “vazou”.
A história toda começou por causa de uma vírgula, na coluna publicada pelo jornalista Matheus Leitão, no site da revista Veja, intitulada “Queiroga, pede para sair”. O texto faz um balanço da atuação do ministro e conclui: “Assim como todos os ministros da Saúde que já passaram pelo governo de Jair Bolsonaro, Queiroga demonstra fraqueza e apatia no cargo. Ninguém supera os erros de Eduardo Pazuello, mas talvez seja hora de Queiroga cogitar sua saída da liderança da pasta que se tornou o foco e a responsável por administrar a crise no país nos últimos meses”.
Houve leitura apressada do texto, ignorando
a pontuação, ou seja, concluíram que Queiroga havia pedido demissão,
transformando o vocativo no sujeito da ação: “Queiroga pede para sair”. Quem
checou com alguma fonte dadivosa, provavelmente teve a confirmação antes de
publicar a notícia. Tropeçar na vírgula é um dos cavacos do ofício de
jornalista, daí a antológica campanha realizada pela Associação Brasileira de
Imprensa (ABI), ao completar 100 anos:
”A vírgula pode ser uma pausa… ou não:
Não, espere.
Não espere.
Ela pode sumir com seu dinheiro:
R$ 23,4.
R$ 2,34.
Pode criar heróis:
Isso só, ele resolve!
Isso, só ele resolve!
Ela pode ser a solução:
Vamos perder, nada foi resolvido!
Vamos perder nada, foi resolvido!
A vírgula muda uma opinião:
Não queremos saber!
Não, queremos saber!
A vírgula pode condenar ou salvar:
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!
Uma vírgula muda tudo!
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua
informação.”
Mais uma dose
São funções da vírgula: (1) representar uma pausa ou uma mudança na entonação;
(2) separar palavras ou orações que precisam
de destaque; (3) eliminar ambiguidades e esclarecer o conteúdo da frase. Há
situações em que é imprescindível empregar a vírgula, como nas orações
explicativas, e outras em que ela não deve ser usada, como nas orações
restritivas. Por isso, ao anunciar o nome do pre- sidente da República, Jair
Bolsonaro, usa-se vírgula; para falar do ex-presidente José Sarney, porém, não,
porque outros também exerceram o cargo: Fernando Collor, Itamar Franco,
Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Michel
Temer.
A vírgula é terminantemente proibida quando
separa o sujeito do verbo e seus complementos. Quando há apenas um substantivo
simples no sujeito, fica mais fácil: João saiu de casa à meia-noite. A mesma
lógica se aplica ao verbo e seus complementos: João pediu a Maria que fosse
visitá-lo. No caso Queiroga, realmente, a vírgula faz sentido, deve- ria
pedir pra sair. Não é competente como sanitarista, está no cargo porque atende
aos caprichos de Bolsonaro, um negacionista, que até hoje não se vacinou contra
a covid-19 ou o fez escondido, como o general Luiz Ramos, secretário-geral da
Presidência.
A última do Queiroga foi retirar a
CoronaVac, a vacina do Butantã, do programa de reforço da vacina, a chamada
terceira dose. Foram aplicadas, até agora, 57,4 milhões de doses dessa vacina.
Os que a tomaram não terão direito ao reforço? Ontem, o The New England Journal
of Medicine publicou o resultado de uma pesquisa realizada no Chile sobre a
eficácia da vacina chinesa, que usa o método tradicional, mas contra a qual
Bolsonaro até hoje faz campanha.
Realizada de 2 de fevereiro a 1o de maio de 2021, alcançou 10,2 milhões de pessoas vacinadas acima de 16 anos, com uma média de 600 mil pessoas/dia. Entre as que foram totalmente imunizadas, a eficácia da vacina ajustada foi de 65,9% para a prevenção contra a covid-19; de 87,5% para a prevenção de hospitalização; 90,3% para a prevenção de admissão na UTI; e de 86,3% para a prevenção de morte relacionada a covid-19. “Nossos resultados sugerem que a vacina SARS-CoV-2 inativada preveniu efetivamente a covid- 19, incluindo doença grave e morte”, concluiu o relatório.
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