Revista Veja
As perspectivas para Jair Bolsonaro não são
nada boas
O 7 de setembro se aproxima e ninguém sabe
o que esperar. A promessa bolsonarista era algo realmente perigoso, com muita
gente armada, incluindo policiais, ameaça escancarada de invasão do Supremo e
golpe de Estado. Mas o tom baixou, e o foco foi deslocado para uma defesa vaga
da “liberdade” — não no conceito moderno, em que a liberdade de um termina onde
começa a do outro, mas no da lei do mais forte: liberdade para desmatar,
recusar máscaras e vacinas, comprar fuzil, mentir, difamar, ameaçar. É
repugnante, mas não configura risco real.
A mudança de foco, entretanto, não tranquiliza. Ninguém controla uma turba depois de insuflada, e ela vem sendo insuflada há muito tempo, e o próprio Bolsonaro voltou a subir o tom. “Nunca outra oportunidade para o povo brasileiro foi ou será tão importante quanto esse nosso próximo 7 de setembro.” “Chegou a hora de nós, no dia 7, nos tornarmos independentes para valer.” “Esse norte será dado com muita força no próximo dia 7.” “Eu tenho três alternativas: estar preso, estar morto ou a vitória.” “Todo mundo tem que comprar fuzil.” “Se você quer paz, prepare-se para a guerra.” Em que pese Bolsonaro ser bravateiro, o recado é claro.
Além disso, o presidente é naturalmente
beligerante, deixa-se açular com facilidade e age por impulso: uma vez no
palanque, diz o que a multidão quer ouvir. Não é impossível que uma frase sua
leve à invasão do Supremo ou do Congresso. (É bom lembrar que Trump jamais
ordenou a seus fãs que invadissem o Capitólio: disse apenas que protestassem. O
“protesto” foi o que se viu.)
“As manifestações do 7 de setembro não têm
o poder de melhorar a situação do presidente”
A situação no Brasil é crítica.
Aproximamo-nos dos 600 000 mortos, e vão morrer muitos mais antes que a
pandemia esteja sob controle. O crescimento está comprometido, o desemprego
está nas alturas, a inflação e os juros sobem, o risco de apagão é real. E há a
CPI. Ninguém no governo tem competência ou credibilidade para reverter a
situação.
Não apenas a esquerda reclama de Bolsonaro,
mas também jornalistas, economistas, empresários, industriais, banqueiros, o
setor moderno do agronegócio, até militares. E muitos mais. Ninguém mais
aguenta tanto desgoverno, a popularidade do presidente cai, a rejeição sobe. A
reeleição parece remota, e Bolsonaro dá mostras de que teme ser preso quando
deixar o poder (não sem motivo, pois se multiplicam as acusações de que cometeu
crimes).
As manifestações do 7 de setembro não têm o
poder de melhorar a situação do presidente. Se fracassarem, ele se tornará
ainda mais frágil do que está. Se forem grandes e pacíficas, Bolsonaro terá
dado uma demonstração de força, mas isso não tornará o cenário menos crítico
nem aumentará suas chances de vitória em 2022. Se houver arruaça à sua revelia,
o clamor pelo impeachment crescerá.
E se, acuado, o presidente partir para o
tudo ou nada e tentar o golpe, os militares, como já deixaram claro, não o
seguirão. O dano será grande, mas Bolsonaro cairá. Em vez de ser preso no
futuro, será preso agora. (O que não deixará de ser, de certa maneira, uma
proclamação de independência — para ele e para todos.)
Não há boas perspectivas para Bolsonaro.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de
2021, edição nº 2754
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