Folha de S. Paulo
Enquanto organiza um putsch, presidente
sofre derrotas no Congresso e no empresariado
Jair Bolsonaro enfim conseguiu arrumar um
turumbamba com boa parte da elite econômica. Seu pacote
eleitoral e popular corre mais risco de ir para o ralo, ainda que, com
pacote e com tudo, o povo vá passar mal por muito tempo. Por exemplo, nos
últimos três anos, a inflação da comida aumentou quase 31%; o salário médio,
14,3% (o dos mais pobres, menos ainda). A poucos dias da pororoca
golpista armada para o 7 de Setembro, vários caldos azedam.
A Fiesp soltou nota contra a reforma do
Imposto de Renda, essa mixórdia tosca aprovada pela Câmara, aliás com apoio da
esquerda. A Fiesp de Paulo Skaf quer apenas umas reduções de impostos, mas esse
lobby pode dificultar ainda mais a aprovação
dessa barafunda tributária no Senado.
Sabe-se lá o que vai sair do Senado, se é
que vai, mas essa “reforma” do Imposto de Renda inclui um item do pacote
eleitoral de Bolsonaro, a redução do IR para parte menor da classe média. De
resto, pode ser que mexidas adicionais diminuam a receita de impostos, ajudando
a piorar as perspectivas para a dívida pública, o que leva os donos do
dinheiro, credores do governo, a cobrar mais caro pelos empréstimos, elevando
os juros na praça em geral.
A Febraban soltou nota a favor do “manifesto” das associações empresariais, aquele avacalhado pela Fiesp e atacado pelo governo, em particular pelos seus sequazes na economia, Paulo Guedes e Pedro Guimarães, presidente da Caixa, e pelo premiê colaboracionista, Arthur Lira, presidente da Câmara. De passagem, a nota da Febraban dá umas caneladas na Fiesp e diz que “respeita”, mas na prática ignora, as ameaças de Caixa e Banco do Brasil deixarem a associação. Deram uma banana para o governo. Os bancos, note-se de passagem, não gostaram nada da reforma do IR.
Mesmo divididas pelos ataques do governo,
pelo governismo das decrépitas federações estaduais da indústria e pela
colaboração da Fiesp quinta-coluna, as associações empresariais ajudam a azedar
o caldo bolsonariano.
A mudança no IR causa revolta desde que
apareceu. O “manifesto” das associações empresariais acabou indo para a rua,
ainda que de modo desordenado. Além disso, empresários mineiros graúdos, vários
deles bolsonaristas até ontem (ou talvez até hoje), assinaram
um manifesto meio parnasiano e adoidado, mas que pinga mais um limão no
caldo do governo e confronta a Federação das Indústrias de Minas, que atacava o
Supremo, colaborando com Bolsonaro.
O agronegócio
racional soltou um manifesto por conta própria quando viu a desordem
nas hostes empresariais, que não sabiam o que fazer com seu “manifesto” quando
Skaf lhes dava uma rasteira e o governo fazia ameaças. Bateram bem no governismo.
Até o agro ogro corre o risco de rachar.
A aprovação da mudança no IR ajudou
a derrubar a Bolsa. São os donos do dinheiro votando com os pés, vendendo
ativos, ações, no caso. A “reforma” afeta rendimentos do capital e os bancos.
Na quarta, o Senado
derrubou a reforma trabalhista picareta e outros desejos de Guedes.
Em resumo, o salseiro aumenta. Se criar
ainda mais caso com o Supremo, Bolsonaro pode perder a mãozinha estendida por
Luiz Fux, presidente do STF, que tentava ajudar o governo a dar um calote
provisório nos precatórios (coisinha de R$ 50 bilhões). Essa moratória
arrumaria dinheiro para Bolsonaro engordar o Bolsa Família e pagar o aluguel
dos parlamentares do centrão.
Convém não esquecer: ainda morrem 20 mil
pessoas por mês, de Covid. Enquanto isso, Bolsonaro nem mais finge que governa,
ocupado em organizar um putsch.
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