Folha de S. Paulo
Para não comparecer, ele estará em viagem
oficial ao exterior ou internado com nó nas tripas
Nas brechas do noticiário sobre a Ucrânia,
os jornais e TVs tentam cobrir as manobras dos políticos brasileiros rumo às
eleições —a luta para conquistar aliados, garantir apoios e assegurar votos nos
redutos deste ou daquele líder. O objetivo de qualquer político é o poder, e o
de Jair Bolsonaro é o poder absoluto. Ele sabe que, sem a imunidade do trono,
pegará 600 anos. Daí estarem todos em campanha. Menos Bolsonaro. Apenas finge
estar.
No fundo, sua preocupação com as eleições sempre foi superficial. Se não fosse, não teria ficado sem partido pela maior parte do mandato e se dedicado a, dia sim, dia não, ofender enormes massas de eleitores, como gays, mulheres, negros, artistas e estudantes. Há pouco, cuspiu em milhões de católicos ao dizer para os suspeitos evangélicos de sempre que levará o país "para onde eles quiserem". Mesmo sua preocupação com o preço da gasolina é perfunctória. É jogo para a galera, por causa da crise internacional —se colar, colou. Votos não contam.
Mas, vindo as eleições, seria fascinante
ver Bolsonaro diante do desafio de que foi salvo em 2018 por uma faca: os
debates pela TV. Como se sairia quando lhe jogassem na cara os crimes, mentiras
e absurdos que perpetra há três anos? Infelizmente, não teremos esse prazer
—porque ele não irá aos debates.
Sempre que houver um, ele alegará
compromissos oficiais, estará em viagem ao exterior ou será internado num
hospital militar com um inesperado nó
nas tripas. Seus adversários terão de debater com um púlpito vazio. Eles o
chamarão de imoral e covarde, o que o define à perfeição, mas, para Bolsonaro,
será melhor do que sair destroçado ao vivo.
Revelou-se há dias que, graças a ele, o
número de revalidações de armas de fogo no país caiu à metade desde 2019.
Significa que, agora, há o dobro de armas sem controle nas mãos das pessoas.
Esses são os votos de que ele precisa.
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