quinta-feira, 17 de março de 2022

Bruno Boghossian: O domínio da direita

Folha de S. Paulo

Presidente busca posto de candidato dominante na direita, apesar de ameaça da inflação

Jair Bolsonaro sentiu em 2020 um primeiro aperto em sua eterna campanha pela reeleição. A demissão de Sergio Moro e a gestão mortífera da pandemia desorganizaram seu campo político. Em abril, o presidente caiu para 20% das intenções de voto numa pesquisa Ipespe, enquanto o ex-juiz e o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta somavam quase 30%.

A ideia de fabricar uma direita não bolsonarista para a sucessão do presidente tomou fôlego naquele momento, mas não chegou inteira ao ano da eleição. Números recentes de diversos institutos sugerem que o próprio Bolsonaro reconquistou parte dos eleitores que flertavam com outros candidatos que correm (ou já correram) em sua raia.

Com sinais de retomada da popularidade, o presidente se aproximou da casa dos 30% em simulações de primeiro turno. Ele ainda enfrenta incertezas em relação ao cenário econômico, mas o quadro atual mostra um Bolsonaro com vantagem sobre concorrentes diretos (Moro tem 7% ou 8%), em busca do posto de candidato dominante nesse campo.

O cenário indica que o presidente pode e star se beneficiando de um retorno de seus eleitores. Parte das pesquisas mais recentes mostra que ele recuperou terreno em segmentos que impulsionaram sua vitória em 2018, mas se distanciaram do governo em algum momento –nas faixas de renda mais altas e nas regiões Sul e Centro-Oeste, por exemplo.

A principal hipótese é que esses eleitores olharam as vitrines da vizinhança, mas não encontraram o que procuravam. Bolsonaro voltou a ser visto por muitos deles como um nome que defende seus interesses e é mais competitivo do que os demais para enfrentar Lula.

As dificuldades da tal terceira via fizeram com que o presidente conseguisse retomar o favoritismo dentro dessa fatia do eleitorado, apesar de sustentar altos níveis de rejeição fora dela. Um possível repique na inflação representa uma ameaça a essa posição. Até aqui, no entanto, boa parte da direita não bolsonarista ainda tem olhos para Bolsonaro.

 

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