Correio Braziliense
Apesar das adversidades eleitorais e da
conspiração dos aliados, Doria não dá, até agora, nenhum sinal de que pretende
desistir. Pelo contrário, aposta na saída de Eduardo Leite do PSDB
Uma operação de cerco e aniquilamento da
pré-candidatura do governador de São Paulo, João Doria, como havíamos
antecipado, está em pleno curso. Praticamente todas as lideranças da chamada
terceira via se articulam para substituí-lo pelo governador do Rio Grande do
Sul, Eduardo Leite, como o candidato unificado da terceira via. As conversas de
bastidores no Congresso incluem, também, os deputados da bancada paulista
aliados do vice Rodrigo Garcia.
Derrotado por Doria nas prévias do PSDB, Eduardo Leite acredita que o cavalo está passando arreado para sua candidatura à Presidência, desta vez, para valer. Na primeira oportunidade, quem montou foi o governador paulista, que não está conseguindo bom desempenho na corrida presidencial. Doria empacou nas pesquisas. No levantamento do instituto Quaest/Genial, divulgado, ontem, pela CNN, Doria aparece empatado com o deputado André Janones (Avante), ambos em quinto lugar, com 2% de intenções de votos.
A pesquisa traduziu as dificuldades
enfrentadas pelos partidos de centro para construir uma candidatura de terceira
via, em razão da polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), que aparece com 44% das intenções de voto, e o presidente Jair Bolsonaro
(PL), com 26%. Empatados em terceiro lugar, com 7%, estão os pré-candidatos
Sergio Moro (Podemos) e Ciro Gomes (PDT). Outra postulante do apoio da terceira
via, a senadora Simone Tebet (MDB) aparece com 1%.
Eduardo Leite está de malas prontas para o
PSD, de Gilberto Kassab, com quem discutiu, inclusive, o apoio financeiro da
legenda à candidatura presidencial. O ex-prefeito de São Paulo garantiu ao
governador gaúcho que as resistências existentes na sigla estão sendo
superadas. Para o PSD, uma candidatura própria é vital para o partido, que hoje
tem 11 senadores e pode chegar a 50 deputados. Se for bem-sucedida, a legenda
estará entre as cinco maiores do país, ao lado de PT, União Brasil, PP e PL. A
candidatura própria, ainda mais com um político jovem, de perfil liberal e
ideais novas, daria mais identidade ao PSD. Sem uma candidatura com esse
perfil, a divisão da sigla será inevitável, com uma ala derivando para o apoio
à reeleição de Bolsonaro e outra, capitaneada pelo próprio Kassab, apoiando
Lula.
A conversa de Leite com Kassab provocou um
corre-corre na terceira via, com o deputado Aécio Neves (PSDB-MG), desafeto
figadal de Doria, mobilizando aliados para segurar o governador gaúcho no PSDB,
no pressuposto de que, na sua legenda de origem, teria mais possibilidades de
receber apoio de União Brasil, MDB e Cidadania. Dirigentes das três legendas
fizeram coro com Aécio, porque todos têm conhecimento de que as bancadas
federais dessas siglas em São Paulo começam a entrar em desespero com o fraco
desempenho de Doria nas pesquisas. Prometem remover Doria, caso Leite permaneça
no PSDB.
Maratona
O cenário eleitoral estimula a conspiração,
porque a polarização entre Lula e Bolsonaro em São Paulo está cristalizada e
começa a se refletir na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, com o
alinhamento de seus eleitores com os candidatos que apoiam o ex-prefeito
Fernando Haddad (PT) e o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. O
vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de Doria, que também não
decola, corre risco de virar marisco.
No último levantamento do Ipespe, nos dois
cenários principais, a posição de Garcia não era boa. Na disputa com Haddad
(PT), 28%; Márcio França (PSB), 18%; Guilherme Boulos (PSol), 11%; e Tarcísio
de Freitas (sem partido), 10%, o vice-governador tem apenas 5%. Brancos e nulos
somam 24%, e não sabe/não respondeu, 4%. No cenário mais provável — Haddad,
apoiado por Lula e Alckmin, com 38%; Tarcísio de Freitas, apoiado por
Bolsonaro, com 25% —, Garcia, com apoio de Doria, teria apenas 10%. Brancos e
nulos somariam 23%; não sabe/não respondeu, 4%.
Apesar das adversidades eleitorais e da
conspiração dos aliados, Doria não dá, até agora, nenhum sinal de que pretende
desistir. Pelo contrário, aposta na saída de Eduardo Leite do PSDB, que não
aceita o resultado das prévias, e considera as articulações de Aécio Neves um
gesto de desespero. Também não acredita que a bancada paulista desista, após
sua desincompatibilização, quando Rodrigo Garcia assumirá o Palácio dos
Bandeirantes, pois o acordo entre ambos já foi selado, na medida em que Doria
não pretende, de forma alguma, concorrer à reeleição.
A agenda do governador paulista está focada na maratona de inaugurações que programou para seus últimos dias no cargo. Somente depois começará a pré-campanha para a Presidência, articulando seus palanques regionais. Doria tem muitos problemas a resolver fora de São Paulo para consolidar a federação com o Cidadania e articular seus palanques majoritários. Em muitos estados, o PSDB está mais para Bolsonaro do que para Eduardo Leite.
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