O Estado de S. Paulo.
O Banco Central se conteve em aumentar os
juros básicos (Selic) em apenas um ponto porcentual, de 10,75 % para 11,75% ao
ano, apesar da nova disparada da inflação, que levou muitos analistas a apostar
em aperto mais forte. São os juros mais altos desde fevereiro de 2017.
Preferiu se ater à indicação adiantada em
fevereiro, bem antes do início da guerra, que puxou para o alto os preços do
petróleo, das matérias-primas e que recomeça a atrapalhar os fluxos de produção
e distribuição. Em compensação, o Banco Central avisou que poderá aumentar mais
na próxima reunião.
A inflação é mundial e preponderantemente
de custos.
Não é provocada por aumento de emissões de moeda nem pelo aumento da demanda.
E é aqui que aparecem as mais importantes
perguntas à espera de resposta. Se a inflação é de custos e, portanto, não é
produzida por volume excessivo de dinheiro no mercado, por que o Banco Central
insiste no aumento dos juros, ou seja, insiste na redução do volume de moeda,
numa conjuntura em que a economia está nesse devagar quase parando, o
desemprego é de 11,1% e o poder aquisitivo vem sendo ralado todos os dias?
É que a inflação está se espalhando muito
rapidamente em quase todos os setores da economia, também por um movimento
puramente defensivo. É o encanador ou o técnico de informática que reajustam os
preços dos seus serviços “porque subiu a gasolina”. O dinheiro mais caro (em
juros) tende a conter a velocidade dessas remarcações (inflação secundária).
Mas leva tempo.
Outro efeito (também secundário) da alta
dos juros acontece no câmbio. As aplicações financeiras no Brasil ficam mais
atraentes, entra mais moeda estrangeira e as cotações do dólar tendem a cair ou
a subir menos. O real mais valorizado em relação ao dólar ajuda a reduzir os
preços dos importados, a começar pelos do petróleo, e a segurar a inflação.
A decisão tomada nesta quarta-feira pelo
Copom coincide com o início do processo de aperto monetário da principal
economia do mundo. Depois de quatro anos, o Federal Reserve (Fed, o banco
central dos Estados Unidos) aumentou os juros básicos ( Fed funds) em 0,25
ponto porcentual, para entre 0,25% e 0,50% ao ano, e prometeu mais seis altas
seguidas. Não chega a atrapalhar a migração de dólares para o Brasil, porque os
juros vêm subindo bem mais rapidamente por aqui. Mas é um processo que deve
aumentar a transferência das aplicações de capital em renda variável para a
renda fixa. Esse movimento talvez não aconteça imediatamente porque há outras coisas
graves acontecendo, como a guerra da Ucrânia e um novo avanço da covid-19 na
China.
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