O Globo
Todo mundo sabia que a economia seria o
tema central da eleição de 2022. Mas quiseram a subida do dólar, a guerra na
Ucrânia e a consequente alta na inflação que os dois principais candidatos à
Presidência da República fossem confrontados já sobre temas centrais como a
política de preços para os combustíveis ou a importância das reformas em seus
futuros governos.
Estamos atravessando uma quadra capaz de
delimitar os rumos da campanha. Se a cotação do petróleo escalar demais, será
impossível conter o preço dos combustíveis e o efeito cascata sobre a inflação,
o que favoreceria Lula e sepultaria as chances de Bolsonaro.
Do contrário, se o valor do barril de petróleo parar de subir, e o governo conseguir estabilizar os preços dos combustíveis sem quebrar as contas públicas, o presidente ganha um respiro. Todos os movimentos têm sido feitos de olho nesse cenário, e o que se tem visto até agora é puro populismo.
Sob a justificativa de impedir que a
economia vá para o buraco, Bolsonaro vem acelerando o uso da máquina e as
benesses indiscriminadas. Façamos as contas: serão R$ 30 bilhões em saques
antecipados do FGTS, R$ 56 bilhões com o adiantamento do décimo terceiro para
pensionistas e aposentados do INSS, R$ 90 bilhões para o Auxílio Brasil e até
R$ 120 bilhões num fundo de estabilização dos preços dos combustíveis. Sem
contar os cortes de impostos e subsídios fiscais, que poderão chegar a R$ 230
bilhões. Só aí vão, por baixo, uns R$ 500 bilhões.
Pode acontecer, porém, de todo esse
dinheiro ser gasto e, ainda assim, Bolsonaro não conseguir nem reativar a
economia, nem ganhar a eleição. A experiência já demonstrou que distribuir
recursos de forma indiscriminada não é necessariamente a solução mais eficaz.
Além do mais, não está ao alcance do
presidente da República fazer a cotação do petróleo e a do dólar caírem. E
intervir na política de preços da Petrobras já foi, no passado, um tiro no pé.
O presidente sabe disso, então esperneia contra a Petrobras e tenta empurrar a
culpa para o general Silva e Luna, mas não resolve o problema.
O PT assiste de camarote, contando com o
cenário pessimista. Em suas projeções, os conselheiros econômicos de Lula
estimam que os estragos provocados pela alta do petróleo e pela guerra da
Ucrânia serão tão grandes que tornarão a reeleição impossível para Bolsonaro.
Por esse cálculo, basta a Lula jogar parado, como se diz no futebol, esperar o
adversário se afundar e partir para o abraço.
É uma aposta com razoável probabilidade de
sucesso. Mas embute riscos, porque, no caso do PT, existe um componente nada
desprezível a combater: o antipetismo, professado por mais ou menos 45% dos
eleitores, a depender da pesquisa. É menos que os quase 60% que não votam de
jeito nenhum em Bolsonaro, mas ainda assim uma parcela relevante. Nessa batalha
de rejeições, o presidente aproveitará todas as oportunidades possíveis para
reativar esse antipetismo. E a missão de Lula, pelo menos em tese, é aliviar o
peso dessa rejeição.
Não dá, por isso, para entender muito bem
por que Lula tem feito um discurso excessivamente voltado para suas bases. Só
nas últimas semanas, ele prometeu que o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto
(MTST) fará parte de um futuro governo seu e defendeu os regimes autoritários
de Cuba e da Venezuela.
Também afirmou que, se eleito, revogará a
política de preços da Petrobras. A razão por que Lula tem recorrido a essa
estratégia é um mistério até para alguns aliados. Ninguém discute que o petista
não será vitorioso em 2022 falando para convertidos, mas até agora é exatamente
isso o que ele tem feito.
Sempre que questionados, seus auxiliares
mais próximos sugerem que o petista deve migrar para o centro quando o prazo
para troca de partido terminar, e as alianças estiverem definidas. Foi o que
Lula fez em 2002, com a Carta aos Brasileiros — divulgada só em junho, quando a
campanha eleitoral já estava mais adiantada.
Por ora, no entanto, tudo o que os dois
principais candidatos à Presidência têm oferecido para as questões complexas
com que fatalmente terão de lidar são soluções simplistas que custam caro e
adiantam pouco. Não se vê, nessa disputa tão precocemente polarizada, nenhum
incentivo para uma discussão mais aprofundada sobre o que pode ser feito para
reduzir nossas vulnerabilidades e evitar repetir erros do passado.
Tudo gira em torno de chavões eleitoreiros,
enquanto esperamos a guerra acabar para ver o que sobra para nós. Como se já
não houvesse razões suficientes, está aí mais uma boa razão para torcer pela
paz.
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