terça-feira, 4 de abril de 2023

Vagner Gomes de Souza* - O que podemos fazer pela Frente Democrática?

A vitória eleitoral de Lula no segundo turno não foi acompanhada de uma derrota política do bolsonarismo. A margem de diferença foi exígua e exige das forças democráticas muita serenidade em suas ações nesse Governo que se fez vitorioso pela Frente Democrática, porém apresenta contradições típicas de uma Frente de Unidade Popular. A maior oposição desse governo está no sectarismo tanto de segmentos da Esquerda quanto daqueles que defendem uma recomposição do Centro Democrático na geografia política de nosso sistema partidário.

O afastamento do Ex-presidente Jair Bolsonaro do Executivo ainda não se faz sentir na melhoria das relações políticas uma vez que o Congresso Nacional está prisioneiro de forças mais extremadas a Direita que colocam a República e a Democracia numa crise constante. Além disso, não podemos colocar todos os nossos esforços políticos no aguardo de ações do Supremo Tribunal Federal uma vez que poderemos despolitizar ainda mais o nosso cenário político.

O sistema partidário brasileiro está se reestruturando pela via conservadora da “cláusula de desempenho” que, em todas as eleições gerais, vai “afunilando” o número de agremiações partidárias com representação no Congresso Nacional. O Governo se for entendido como parte de uma Frente Democrática, precisa de uma base partidária ampla para isolar as forças políticas alinhadas ao bolsonarismo. Tudo se deve fazer pela via de um debate programático das forças políticas do campo democrático que ainda se apresentam reféns de cálculos eleitorais em vistas das próximas eleições municipais.

Na verdade, a postura das lideranças partidárias em 2023 ainda não assimilaram as amarguras do que foram as manifestações de 2013. A postura reativa de muitas lideranças do campo que considero ser uma Frente de Unidade Popular se deu pela fragmentação do debate político universal através de movimentos identitários. Muitas vezes o “Lugar de Fala” tem calado o diálogo pela via democrática e os partidos se deixam levar pelo “populismo eleitoreiro”.

Ao mesmo tempo, a sociedade brasileira com sua natureza “barroca” na política reage com outro identitarismo que tem seu eixo na mobilização política dos grupos religiosos evangélicos e no neoconservadorismo católico. Mesmo assim, depois da fusão do PSC ao PODEMOS, somente o DC do folclórico Eymael que mantém o nome cristão em sua sigla partidária. Sugerimos que os valores cristãos modulam o conservadorismo na política pela via mobilização de sujeitos políticos espalhados em um mosaico partidário. Entretanto, as fusões partidárias e as Federações podem se ativer a essa situação como uma oportunidade para melhor levar o debate da República e da Democracia para muitos militantes das camadas subalternas que emergem dos núcleos religiosos.

Fazer uma política de Frente Democrática no redesenho do sistema partidário brasileiro nos impõe a dialogar com as forças conservadoras para impedir sua captura para os setores mais extremados da Direita. A natureza política da Frente proposta pela cultura política do PCB na luta pela derrota política da Ditadura Militar e seu autoritarismo na sociedade sempre foi nunca vetar as demais forças políticas que tenham interesse em estar em aliança. Sejam liberais ou até conservadores uma vez que estamos numa situação política desfavorável a Democracia na sociedade e muito menos na representação parlamentar.

Podemos sempre fazer muito mais pela Democracia. Podemos sempre contribuir no processo de reforma moral e intelectual das novas lideranças partidárias e na organização da militância política ao centro através de cursos de formação política. Podemos ousar muito mais com todas as siglas dispostas a votar nos pontos positivos do atual Governo e devemos já mobilizar nossos esforços para que tenhamos um Seminário em Defesa da Democracia com todos dessa Frente nos municípios com mais de 100 mil habitantes.

*Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRRJ

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