Folha de S. Paulo
Enquanto o governo patina em outras áreas,
relação com as Forças exibe avanços
Muita coisa ainda não funciona no
governo prestes
a completar cem dias, havendo quem prefira chamar de governo dos sem dias,
tantos são os atritos sem resultados.
Pois nas Forças
Armadas, onde o clima era mais acirrado e o problema parecia o mais grave,
é onde a reconstrução de pontes vai indo bem. Aqui surgem dois Luizes Inácios.
No palanque, o presidente arruma confusão
com o Banco Central, com o senador
que o condenou quando juiz, faz profissão de fé à esquerda e dá um peteleco
na frente ampla.
No chão da fábrica das necessidades cruciais, segue o roteiro montado no bastidor pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Nesse meio-tempo em que desagradou a muitos, Lula almoçou com os almirantes do Alto Comando; uma semana depois visitou obras no complexo naval de Itaguaí (RJ); cinco dias mais tarde esteve com a cúpula da Aeronáutica na inauguração da linha de produção de aviões de caça Gripen, da Embraer.
Com o Exército, o arranjo é conduzido pelo
comandante da Força, general Tomás
Paiva, que organiza um encontro provavelmente nesta quarta-feira (5) depois
da cerimônia de cumprimentos aos novos generais comandantes de áreas.
Há os gestos e há os atos. Dentre os quais
o "ok" de Lula para que José Múcio convença o PT a desistir de mudar
o papel das Forças Armadas na Constituição e o aval dele à proposta que obriga
a aposentadoria de militares candidatos em eleições.
Isso para evitar proselitismo nos quartéis.
Já proibido, mas alimentado no governo passado. A reaproximação em curso não
extingue o desagrado com a eleição de Lula entre a maioria dos militares.
Significa a retomada do preceito da
obediência à hierarquia. O êxito do trabalho depende também da disposição do PT
em abandonar gestos de retaliação.
Meio à brinca, meio à vera, ouvi o seguinte
num alto gabinete da Defesa: "No início, agimos para proteger o governo
dos militares; hoje, atuamos para proteger os militares do governo".
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