Valor Econômico
A posição mais branda com Pequim parece ser
uma vitória do empresário Elon Musk e deve provocar um alívio nos mercados
O presidente dos EUA, Donald Trump, falou por
horas na segunda-feira (20). Discursou na posse, depois se dirigiu por duas
vezes a apoiadores e, por fim, respondeu a perguntas de jornalistas enquanto
assinava decretos à noite. E assinou dezenas de decretos. Curiosamente, o mais
importante para a economia foi o que ele não disse e não fez.
Trump ignorou os principais desafios globais e econômicos dos EUA e, principalmente, não hostilizou a China em nenhum momento ontem. Essa talvez tenha sido a indicação mais importante dada pelo novo presidente. A posição mais branda com Pequim parece ser uma vitória do empresário Elon Musk e deve provocar um alívio nos mercados.
A contrário do que havia prometido, Trump não
anunciou tarifas contra produtos chineses importados no primeiro dia de
governo. Em vez disso, disse que ordenou um estudo sobre práticas comerciais
injustas e para saber se Pequim cumpriu as promessas comerciais feitas no seu
primeiro mandato. Como se costuma dizer, quem não sabe o que fazer ou ainda não
decidiu o que fazer em relação a um assunto cria um grupo de estudos.
Questionado diretamente na entrevista sobre as tarifas contra a China, ele
desconversou.
Trump pegou leve com a China ao longo do dia.
Citou o país em seu discurso de posse apenas para falar que os chineses
controlam o Canal do Panamá, o que, aliás, é incorreto. A ameaça de retomar o
canal já fez o governo panamenho abrir uma auditoria sobre um operador chinês
do canal, mas isso não fará ninguém perder o sono em Pequim.
Além disso, Trump repetiu várias vezes ao longo do dia que conversou recentemente com o presidente chinês Xi Jinping. Pequim enviou o vice-presidente Han Zheng para a posse, um aliado muito próximo de Xi, em um sinal de deferência.
Por fim, à noite Trump assinou o decreto que
suspende temporariamente a proibição ao aplicativo chinês Tik-Tok nos EUA, o
que dá tempo para que seja encontrada uma solução que evite a interrupção do
serviço. O presidente não explicou porque mudou de posição em relação ao
aplicativo, considerado um risco à segurança de dados de usuários americanos.
Mas isso foi amplamente visto como um gesto de boa-vontade com Pequim.
Tudo isso ocorreu dias depois de o jornal
“The Wall Street Journal” afirmar que Trump pretende visitar a China nos
primeiros cem dias de governo.
Essa aparente moderação do tom com Pequim
parece indicar que Elon Musk venceu a disputa interna na Casa Branca contra
setores mais anti-China. O empresário, controlador da Tesla, tem negócios
importantes na país asiático e mantém uma boa relação com o governo chinês.
Não foi apenas a China que Trump ignorou na
segunda-feira (20). Ele não anunciou nenhuma sobretaxa comercial, apesar de
manter as ameaças. Uma guerra comercial poderá ser prejudicial à economia
americana.
O presidente praticamente não falou de temas
espinhosos da economia, além de uma breve menção a reduzir a inflação recorde,
o que é enganoso, já que o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) americano
fechou dezembro com alta anualizada de 2,9%, já muito perto da meta de 2% do
Fed.
Houve um silêncio eloquente sobre o corte de
impostos para empresas, sobre cortes de gasto público (que enfrentarão
resistência no Congresso), sobre a redução do déficit do governo (que deve
fechar 2024 em 6,4% do PIB, um recorde em tempos normais) e da dívida pública
(que neste ano vai superar US$ 30 trilhões).
Trump também evitou falar de desafios globais
importantes. Não citou a guerra na Ucrânia no discurso de posse e, quando
questionado, tergiversou, mas não atacou nem Putin nem a Rússia. O presidente
se vangloriou pelo acordo de cessar-fogo em Gaza, mas não tratou dos problemas
de fundo do Oriente Médio, como a situação palestina e o Irã.
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