Correio Braziliense
O comportamento da esquerda diante dos vídeos
de Nikolas Ferreira e Erika Hilton revela um problema crônico entre políticos
progressistas: a distância do povo
Na última semana, um vídeo publicado pelo
deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) tomou as redes sociais e bateu
seguidos recordes de reprodução. Foram mais de 300 milhões de visualizações
somente no Instagram, superando marcas obtidas até mesmo por cantoras de música
pop famosas globalmente. O engajamento do discurso do parlamentar, que criticou
mudanças realizadas pelo governo que permitiam o monitoramento de valores
transferidos pelo Pix por parte dos cidadãos, assustou políticos, movimentos e
personalidades da esquerda no país.
Nikolas é famoso por fazer discursos críticos, mas também carregados de informações falsas e muitas vezes preconceituosas. Porém o vídeo viral tem elementos diferentes de discursos anteriores. Não contém informações falsas, trouxe um discurso apelativo que gerou medo e contou com uma produção profissional de audiovisual. Independentemente do conteúdo, a dimensão que o vídeo ganhou mostra não só a força da direita na internet, mas a fraqueza da esquerda em dialogar com as novas gerações e com a sociedade conectada de todas as idades.
Qualquer publicação, vídeo ou ataques contra
a esquerda feita por nomes da direita geram compartilhamento imediato. Grupos
de WhatsApp, páginas no X, Facebook, Instagram e sites desse campo tratam logo
de propagar o que foi publicado e impulsionar o conteúdo. Na esquerda, o
cenário é bem diferente. O alívio dos progressistas veio com o vídeo da
deputada Erika Hilton (PSol-RJ), que rebateu Nikolas, explicou a resolução
sobre o Pix e ganhou engajamento estrondoso, com mais de 100 milhões de
visualizações no Instagram. Porém, Erika foi criticada nas redes por colegas de
esquerda, que a chamaram de deputada influenciadora. Ao mesmo tempo, foi alvo
de transfobia e racismo por parte de grupos odiosos de extrema-direita. Surgiu
até a infundada acusação de que ela teria recebido ajuda de uma grande agência
de publicidade que agencia influencers digitais.
O vídeo entrou no ar no começo da tarde do
último sábado. Somente às 20h, o governo começou a mobilizar sua base política
no Congresso para apoiar o conteúdo. Nos bastidores, uma mensagem foi enviada
para líderes da base no Congresso pedindo apoio das assessorias dos partidos.
Houve resistência no PT, por se tratar de uma congressista do PSol. Outros
nomes da esquerda resistiram em ajudar, afirmando que a produção trazia de
volta uma polêmica que o governo queria enterrar. Para outros, a sensação foi
de que Erika retirou o protagonismo de Nikolas e mostrou que seu lado político
também pode conversar com o público na internet e alcançar todas as camadas da
sociedade.
O comportamento da própria esquerda no episódio revela um problema crônico entre políticos progressistas: a distância do povo. Ao contrário dos colegas de centro e da direita, deputados progressistas, com algumas exceções, são inacessíveis, fecham as portas dos gabinetes para a população, evitam contato com a imprensa e dificultam o acesso a eles por parte de grupos sociais, líderes comunitários, agentes culturais, sindicatos e organizações. Não sabem falar a linguagem popular, veem a internet como um fenômeno alheio à política e têm aversão à entrada de pessoas mais jovens no alto escalão dos partidos.
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