Folha de S. Paulo
Reentronização de presidente americano torna
o mundo um lugar menos seguro
Donald Trump é
de novo o presidente dos EUA. O mundo se torna, a partir de hoje, um lugar mais
perigoso.
Ao longo das últimas oito décadas, os EUA
foram a principal potência militar e econômica do planeta e atuaram com uma
agenda mais ou menos estável.
Não era uma agenda kantianamente principista
nem desinteressada, mas havia um norte. Washington procurava disseminar a
economia de mercado e a democracia. Quando não dava, se esforçava para que a
ditadura instalada fosse do tipo filoamericano, não socialista ou comunista.
Em relação aos países ricos aliados, preocupava-se em liderar e não apenas impor. Era um multilateralismo enviesado, mas pelo menos havia a ideia de que as decisões globais deveriam ser tomadas em conjunto.
Essa atitude contribuiu para forjar o que
podemos chamar de era de ouro da democracia liberal, em que, ainda que com
gritantes diferenças entre países, o mundo se tornou mais rico, mais pacífico,
mais saudável e mais instruído.
Eu não diria que a reentronização de Trump
põe fim definitivo a esse papel dos EUA, mas representa uma descontinuidade.
Trump se guia por uma agenda muito mais pessoal do que de Estado. Suas
prioridades são, pela ordem, satisfazer a seu ego narcísico, arranjar bons
negócios para suas empresas e só então entram itens como os interesses de longo
prazo dos EUA.
Outro ponto crítico é que Trump adota um
estilo caótico de gerência. Ele não se interessa nem em obter informações
corretas sobre um assunto antes de tomar decisões. Se, em tempos menos
intranquilos, tal nível de ignorância era administrável, hoje, diante das
crescentes tensões geopolíticas, erros tendem a ter consequências muito mais
graves.
Para não terminar numa nota tão negativa, o comportamento errático também traz uma vantagem. Trump não tem compromissos nem consigo mesmo. Seu desapego para com fatos e a verdade é tamanho que ele não tem nenhum problema em desdizer o que afirmara na véspera. Isso lhe dá flexibilidade. Dificilmente veremos Trump começar uma guerra porque traçou uma linha vermelha e depois não pôde recuar.
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