O Estado de S. Paulo
O sequestro bolsonarista do
Parlamento ora serve de escada para que prospere a agenda geral de impunidade
do Congresso. Não terá sido à toa a liderança de Arthur Lira nas negociações
para que os sequestradores devolvessem a Câmara à República.
Câmara (mais ou menos)
devolvida à República, à custa de mais um pouco de República.
A agenda produzida pelo fim do assalto é aula de oportunismo corporativista: a blindagem de políticos contra investigações e denúncias de natureza criminal. Uma antiga bandeira de Lira, que ele não conseguira fazer avançar quando presidente da Câmara – agora com boas chances de andar. Grandes as chances de que o bolsonarismo tenha servido de bucha mais uma vez.
O que pactuaram – sem a
participação de Hugo Motta, ex-presidente em atividade – as lideranças
bolsonaristas e do tal Centrão: a proibição de investigações contra deputados e
senadores, enquanto a ordem não for avalizada pelo Parlamento, e o estabelecimento
de três graus de julgamento para processos contra parlamentares, caso em que o
Congresso tiraria o STF da frente.
Assim argumenta o
bolsonarismo, para explicar que a pauta da anistia tenha perdido protagonismo
na hierarquia do acordo: retirar o Supremo da parada, transformado o foro por
prerrogativa de função, seria forma de proteção contra Alexandre de Moraes,
donde mecanismo de encorajamento a que os parlamentares se sentissem seguros
para apoiar a reabilitação de Bolsonaro.
Esse é o texto que o
bolsonarismo tenta encaixar para justificar – como se houvesse método e
estivesse no controle – a mudança na ordem de prioridades. Primeiro a
blindagem, criada então a condição-garantia para votar contra os interesses do
STF. Grandes as chances – repita-se – de o bolsonarismo servir de bucha de
novo.
Partidos como PP, PSD e
União Brasil, e não faltará o Republicanos, abraçam o fim do foro privilegiado
no STF menos em função de Moraes e por Bolsonaro – e mais, muito mais, para se
livrar de Flávio Dino. A turma é objetiva e encontrou a brecha para se defender
contra inquéritos sobre as barbaridades feitas com emendas parlamentares.
Ao fim da jornada
delinquente de quarta no Congresso, a oposição bolsonarista saiu cantando
vitória sobre o que seria – em troca da libertação do Parlamento – um acordo
pela votação da anistia ao mito. É falso. O acordo de líderes sendo para que se
acelere e vote – haverá blitz na semana que vem – o pacote de blindagem. E –
atenção à parolagem – para que se discuta, para que se volte a discutir, o
projeto de anistia em busca de um texto de consenso. Para que se debata a
questão no colégio de líderes.
Para que se enrole,
instrumentalizada a campanha pela anistia a Bolsonaro – essa descartável – em
prol da anistia ao Congresso. Grandíssimas as chances – para o bem da
democracia e de Lira e Alcolumbre – de o bolsonarismo servir de bucha
novamente.
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