sábado, 9 de agosto de 2025

Anistia para o Congresso - Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

O sequestro bolsonarista do Parlamento ora serve de escada para que prospere a agenda geral de impunidade do Congresso. Não terá sido à toa a liderança de Arthur Lira nas negociações para que os sequestradores devolvessem a Câmara à República.

Câmara (mais ou menos) devolvida à República, à custa de mais um pouco de República.

A agenda produzida pelo fim do assalto é aula de oportunismo corporativista: a blindagem de políticos contra investigações e denúncias de natureza criminal. Uma antiga bandeira de Lira, que ele não conseguira fazer avançar quando presidente da Câmara – agora com boas chances de andar. Grandes as chances de que o bolsonarismo tenha servido de bucha mais uma vez.

O que pactuaram – sem a participação de Hugo Motta, ex-presidente em atividade – as lideranças bolsonaristas e do tal Centrão: a proibição de investigações contra deputados e senadores, enquanto a ordem não for avalizada pelo Parlamento, e o estabelecimento de três graus de julgamento para processos contra parlamentares, caso em que o Congresso tiraria o STF da frente.

Assim argumenta o bolsonarismo, para explicar que a pauta da anistia tenha perdido protagonismo na hierarquia do acordo: retirar o Supremo da parada, transformado o foro por prerrogativa de função, seria forma de proteção contra Alexandre de Moraes, donde mecanismo de encorajamento a que os parlamentares se sentissem seguros para apoiar a reabilitação de Bolsonaro.

Esse é o texto que o bolsonarismo tenta encaixar para justificar – como se houvesse método e estivesse no controle – a mudança na ordem de prioridades. Primeiro a blindagem, criada então a condição-garantia para votar contra os interesses do STF. Grandes as chances – repita-se – de o bolsonarismo servir de bucha de novo.

Partidos como PP, PSD e União Brasil, e não faltará o Republicanos, abraçam o fim do foro privilegiado no STF menos em função de Moraes e por Bolsonaro – e mais, muito mais, para se livrar de Flávio Dino. A turma é objetiva e encontrou a brecha para se defender contra inquéritos sobre as barbaridades feitas com emendas parlamentares.

Ao fim da jornada delinquente de quarta no Congresso, a oposição bolsonarista saiu cantando vitória sobre o que seria – em troca da libertação do Parlamento – um acordo pela votação da anistia ao mito. É falso. O acordo de líderes sendo para que se acelere e vote – haverá blitz na semana que vem – o pacote de blindagem. E – atenção à parolagem – para que se discuta, para que se volte a discutir, o projeto de anistia em busca de um texto de consenso. Para que se debata a questão no colégio de líderes.

Para que se enrole, instrumentalizada a campanha pela anistia a Bolsonaro – essa descartável – em prol da anistia ao Congresso. Grandíssimas as chances – para o bem da democracia e de Lira e Alcolumbre – de o bolsonarismo servir de bucha novamente.

 

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