Folha de S. Paulo
Decisão do governo de ocupar
Cidade de Gaza vai contra os interesses de longo prazo de Tel Aviv
O premiê israelense, Binyamin
Netanyahu, decidiu ocupar
a Cidade de Gaza. Faz isso apesar das fortes
objeções do comando militar israelense e do crescente isolamento
diplomático do país. Isso é puro suco de Bibi, o apelido pelo qual é
conhecido.
O compromisso do premiê é
apenas consigo mesmo. E, para ser fiel a si, ele precisa manter-se no poder, a
fim de adiar seu julgamento por corrupção. Para manter-se no poder, ele precisa
preservar a coalizão de governo, que depende de partidos da extremíssima
direita ultrarreligiosa.
E, para preservar a coalizão, ele precisa tentar contornar a decisão da Suprema Corte que pôs fim à isenção de serviço militar para os estudantes de "yeshivot" (escolas de religião) e prolongar a guerra, acenando com a possibilidade de reinstalar assentamentos judaicos em Gaza.
Para Bibi, pouco importa que
o plano seja militarmente insustentável, coloque os reféns em perigo,
converta Israel num
Estado pária e vá contra os interesses de longo prazo do país. Bibi vem antes.
Há, porém, uma novidade no
cenário. Israelenses começaram a protestar contra a guerra por considerá-la
imoral. Já havia manifestações antibelicistas antes, mas elas eram puramente
instrumentais: negociar era a melhor forma de trazer de volta os reféns. Agora,
um número pequeno mas crescente de israelenses aponta a imoralidade intrínseca
da carnificina a que os palestinos estão sendo submetidos.
Não sei se os terroristas
do Hamas têm
PhD em psicologia, mas eles desenharam os ataques do 7/10 com o propósito de
maximizar entre os judeus o sentimento de ameaça existencial e, com isso,
ampliar o desengajamento moral entre israelenses e palestinos, eternizando o
conflito.
Em alguma medida, eles
conseguiram. A paz hoje está bem mais distante do que estava em setembro de
2023, mas é positivo constatar que alguns israelenses começam a sair do estado
de anestesia moral em que se encontravam. Se existe chance de entendimento, ela
passa pelo reconhecimento da humanidade dos adversários.
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