sábado, 9 de agosto de 2025

Netanyahu ataca Israel, de novo - Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Decisão do governo de ocupar Cidade de Gaza vai contra os interesses de longo prazo de Tel Aviv

O premiê israelense, Binyamin Netanyahu, decidiu ocupar a Cidade de Gaza. Faz isso apesar das fortes objeções do comando militar israelense e do crescente isolamento diplomático do país. Isso é puro suco de Bibi, o apelido pelo qual é conhecido.

O compromisso do premiê é apenas consigo mesmo. E, para ser fiel a si, ele precisa manter-se no poder, a fim de adiar seu julgamento por corrupção. Para manter-se no poder, ele precisa preservar a coalizão de governo, que depende de partidos da extremíssima direita ultrarreligiosa.

E, para preservar a coalizão, ele precisa tentar contornar a decisão da Suprema Corte que pôs fim à isenção de serviço militar para os estudantes de "yeshivot" (escolas de religião) e prolongar a guerra, acenando com a possibilidade de reinstalar assentamentos judaicos em Gaza.

Para Bibi, pouco importa que o plano seja militarmente insustentável, coloque os reféns em perigo, converta Israel num Estado pária e vá contra os interesses de longo prazo do país. Bibi vem antes.

Há, porém, uma novidade no cenário. Israelenses começaram a protestar contra a guerra por considerá-la imoral. Já havia manifestações antibelicistas antes, mas elas eram puramente instrumentais: negociar era a melhor forma de trazer de volta os reféns. Agora, um número pequeno mas crescente de israelenses aponta a imoralidade intrínseca da carnificina a que os palestinos estão sendo submetidos.

Não sei se os terroristas do Hamas têm PhD em psicologia, mas eles desenharam os ataques do 7/10 com o propósito de maximizar entre os judeus o sentimento de ameaça existencial e, com isso, ampliar o desengajamento moral entre israelenses e palestinos, eternizando o conflito.

Em alguma medida, eles conseguiram. A paz hoje está bem mais distante do que estava em setembro de 2023, mas é positivo constatar que alguns israelenses começam a sair do estado de anestesia moral em que se encontravam. Se existe chance de entendimento, ela passa pelo reconhecimento da humanidade dos adversários.

 

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