sábado, 9 de agosto de 2025

Caos no Congresso e prejuízo na economia - Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Alheios ao tarifaço, os deputados do motim até agora não se mexeram para propor nada em defesa do setor produtivo

A semana de caos em Brasília, com o motim da oposição no Congresso Nacional, não poderia ser melhor retratada na foto do repórter fotográfico Pedro Ladeira, estampada na Primeira Página desta Folha na edição da quinta (7).

No centro da imagem, o presidente da Câmara, Hugo Motta, totalmente rendido, desmoralizado, cercado por parlamentares com gestos ameaçadores, que pediam anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro e o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes. A sua fisionomia é perturbadora.

Pouco antes, ele teve que passar pela humilhação máxima de não conseguir sentar na cadeira da presidência, ocupada pelo deputado Marcel Van Hattem (Novo). Motta só recuperou o comando da Câmara após uma bizarra negociação antipatriótica.

A foto congela um momento deplorável da história política do país, mas também retrata um Congresso de costas para empresas e trabalhadores, que começam a sofrer os prejuízos do tarifaço de Donald Trump.

A extorsão política ocorreu no mesmo dia em que entrou em vigor a sobretaxa de 50% sobre os produtos exportados pelo Brasil, a mais alta cobrada pelos Estados Unidos.

Alheios ao tarifaço que atinge suas bases eleitorais, os deputados da foto e aqueles que estavam do plenário apoiando o motim até agora não se mexeram para propor nada em defesa do setor produtivo.

Enquanto o Parlamento se digladia de forma vergonhosa, empregos são cortados, linhas de produção param e vendas são canceladas.

Lula pediu ao ministro Fernando Haddad (Fazenda) uma lista de medidas para eventual retaliação. Faz parte das armas que o país tem para negociar, mas não pode demorar para socorrer as empresas em maior apuros, como as da indústria de pescados.

Eduardo Bolsonaro se gabou porque nenhum produtor agrícola teria ligado para dizer que ele deveria parar com as ações contra o Brasil. Pelo contrário, disse que recebeu os parabéns. Esses empresários não mereciam receber um tostão de ajuda com dinheiro do contribuinte, que pagará a conta do tarifaço.

 

Nenhum comentário: