Folha de S. Paulo
Tudo caminha para Lula solucionar o problema
nacional que Eduardo criou; não é a melhor ótica para a oposição
Para ser competitiva, a direita terá que
superar a pauta fracassada de um deputado que abandonou seu país
O mais recente ator político a pular fora do
barco do bolsonarismo é Trump. Ou ao menos é isso que sua conversa
com Lula indicou. Sempre é possível que ele esteja preparando alguma
armadilha, ou que no futuro mude de ideia, mas por enquanto
Bolsonaro desapareceu de suas falas e, no lugar dele, está a disposição a
discutir interesses econômicos de Brasil e EUA. Tudo caminha para Lula solucionar
o problema nacional que Eduardo
Bolsonaro criou. Não é a melhor ótica para a oposição.
Lideranças do PL e o próprio Eduardo continuam insistindo que seu plano de dobrar as autoridades brasileiras com sanções americanas vai às mil maravilhas, mas a essa altura só os fanáticos mais cegos ainda não perceberam que o navio já naufragou. Mesmo supondo que os pró-anistia consigam aprová-la no Congresso, o STF já declarou que dali não passa.
E, no entanto, parte da direita continua
refém de Eduardo Bolsonaro. Em vez de aceitar o "projeto da
dosimetria", continuam exigindo a anistia ampla, geral e irrestrita. Ao
agir assim, mostram não se importar com as penas excessivas dadas aos invasores
de 8/1.
Um ponto positivo desse projeto seria tirar
do regime fechado os mais de cem invasores, idiotas-úteis do bolsonarismo que,
sim, se prestaram a uma tentativa injustificada (e alucinada) de provocar uma
intervenção militar, mas que não mereciam pena maior do que assassinos e
estupradores. Os deputados ainda conseguiriam reduzir em 1 ou 2 anos o tempo
que Bolsonaro passaria em regime fechado.
Não aceitam o que poderiam ter e, em nome da
demanda impossível, sequestram o debate público e impedem a direita de se focar
no que importa: não Bolsonaro, e sim o Brasil.
Não faltam problemas no governo Lula que a
oposição poderá explorar. Por exemplo, a incapacidade de equilibrar as contas
públicas. Mesmo com o marco fiscal aprovado em 2023, o endividamento do Estado
brasileiro segue crescendo. E não é só pela conta de juros —o último freio para
a disparada da inflação; o resultado primário verdadeiro (que não desconsidera
as exceções ao marco fiscal) segue deficitário em cerca de R$ 70 bilhões, mesmo
com a alta na arrecadação. A conta desse desarranjo começa a ser sentida.
As estatais tiveram recorde de déficit este
ano, somando R$ 5,6 bilhões até agosto. O governo jura que a maioria dessas
estatais está fazendo grandes investimentos que trarão retorno. Será?
Apesar da queda continuada de homicídios
desde 2018, o Brasil só soluciona cerca de 36% dos casos, como divulgado em
pesquisa do Instituto Sou da Paz. O crime organizado domina partes do
território nacional e comete assassinatos planejados com total desfaçatez.
O clima político vem em ondas. No início do
ano, Lula estava nas cordas; agora, com a ajudinha de Bolsonaro, parece
invencível. Esta onda também passará e novas virão até outubro de 26. Para ser
competitiva, a direita terá que superar a pauta fracassada de um deputado que
abandonou seu país em nome de seu pai. Uma escolha que faz sentido para um
filho, mas que não tem o menor cabimento como o único assunto de todo um lado
do espectro político brasileiro.
Bolsonaro não será candidato em 2026. Cabe à
direita agir de acordo com a realidade incontornável.
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