terça-feira, 7 de outubro de 2025

A direita sequestrada por Eduardo Bolsonaro. Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Tudo caminha para Lula solucionar o problema nacional que Eduardo criou; não é a melhor ótica para a oposição

Para ser competitiva, a direita terá que superar a pauta fracassada de um deputado que abandonou seu país

O mais recente ator político a pular fora do barco do bolsonarismo é Trump. Ou ao menos é isso que sua conversa com Lula indicou. Sempre é possível que ele esteja preparando alguma armadilha, ou que no futuro mude de ideia, mas por enquanto Bolsonaro desapareceu de suas falas e, no lugar dele, está a disposição a discutir interesses econômicos de Brasil e EUA. Tudo caminha para Lula solucionar o problema nacional que Eduardo Bolsonaro criou. Não é a melhor ótica para a oposição.

Lideranças do PL e o próprio Eduardo continuam insistindo que seu plano de dobrar as autoridades brasileiras com sanções americanas vai às mil maravilhas, mas a essa altura só os fanáticos mais cegos ainda não perceberam que o navio já naufragou. Mesmo supondo que os pró-anistia consigam aprová-la no Congresso, o STF já declarou que dali não passa.

E, no entanto, parte da direita continua refém de Eduardo Bolsonaro. Em vez de aceitar o "projeto da dosimetria", continuam exigindo a anistia ampla, geral e irrestrita. Ao agir assim, mostram não se importar com as penas excessivas dadas aos invasores de 8/1.

Um ponto positivo desse projeto seria tirar do regime fechado os mais de cem invasores, idiotas-úteis do bolsonarismo que, sim, se prestaram a uma tentativa injustificada (e alucinada) de provocar uma intervenção militar, mas que não mereciam pena maior do que assassinos e estupradores. Os deputados ainda conseguiriam reduzir em 1 ou 2 anos o tempo que Bolsonaro passaria em regime fechado.

Não aceitam o que poderiam ter e, em nome da demanda impossível, sequestram o debate público e impedem a direita de se focar no que importa: não Bolsonaro, e sim o Brasil.

Não faltam problemas no governo Lula que a oposição poderá explorar. Por exemplo, a incapacidade de equilibrar as contas públicas. Mesmo com o marco fiscal aprovado em 2023, o endividamento do Estado brasileiro segue crescendo. E não é só pela conta de juros —o último freio para a disparada da inflação; o resultado primário verdadeiro (que não desconsidera as exceções ao marco fiscal) segue deficitário em cerca de R$ 70 bilhões, mesmo com a alta na arrecadação. A conta desse desarranjo começa a ser sentida.

As estatais tiveram recorde de déficit este ano, somando R$ 5,6 bilhões até agosto. O governo jura que a maioria dessas estatais está fazendo grandes investimentos que trarão retorno. Será?

Apesar da queda continuada de homicídios desde 2018, o Brasil só soluciona cerca de 36% dos casos, como divulgado em pesquisa do Instituto Sou da Paz. O crime organizado domina partes do território nacional e comete assassinatos planejados com total desfaçatez.

O clima político vem em ondas. No início do ano, Lula estava nas cordas; agora, com a ajudinha de Bolsonaro, parece invencível. Esta onda também passará e novas virão até outubro de 26. Para ser competitiva, a direita terá que superar a pauta fracassada de um deputado que abandonou seu país em nome de seu pai. Uma escolha que faz sentido para um filho, mas que não tem o menor cabimento como o único assunto de todo um lado do espectro político brasileiro.

Bolsonaro não será candidato em 2026. Cabe à direita agir de acordo com a realidade incontornável.

 

 

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