terça-feira, 7 de outubro de 2025

As relações íntimas e milionárias entre jogo do bicho e polícia. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Batalhões da PM e delegacias receberam R$ 50O mil em dois dias em 2023

Cláudio Castro reintegra agentes de segurança expulsos por ligação com bicheiros

Mais de R$ 500 mil em propina a batalhões da Polícia Militar e delegacias da Polícia Civil em apenas dois dias —6 e 9 de maio de 2023—, com o objetivo de permitir o funcionamento de bingos e máquinas caça-níquel. É o que revela a investigação do MP-RJ sobre o bicheiro Rogério Andrade.

O esquema é tão velho quanto o samba "Acertei no Milhar", de Geraldo Pereira e Wilson Baptista, gravado por Moreira da Silva em 1940. Um ano depois, o jogo do bicho, já com status de instituição nacional, foi considerado contravenção, estabelecendo a cumplicidade entre banqueiros e homens da lei.

No romance "Agosto", Rubem Fonseca —que foi comissário de polícia entre 1952 e 1954— dá uma aula de como a coisa funcionava: "Toda delegacia tinha um tira que recebia dinheiro dos bicheiros para distribuir com os colegas. Esse policial era conhecido como ‘apanhador’. O dinheiro dos bicheiros —o ‘levado’— variava de acordo com o movimento dos pontos e a ganância do delegado. (...) Policiais lotados no gabinete do chefe de polícia também participavam desse conchavo venal. (...) A Delegacia Especializada de Costumes, que tinha como uma de suas finalidades a repressão ao jogo proibido, era a que mais suborno recebia".

Corta para 2025. Uma comissão criada pelo governador Cláudio Castro para reavaliar processos administrativos de agentes de segurança expulsos por envolvimento com o crime organizado ou recebimento de propina já autorizou o retorno de 144 policiais civis e militares aos quartéis e delegacias.

Um dos reintegrados é o delegado Álvaro Lins, chefe da Polícia Civil nos governos de Anthony e Rosinha Garotinho. Em 2008, ele foi preso sob a acusação de favorecer Rogério Andrade, da nova e sanguinária geração de chefes do bicho. Condenado em 2018 a 23 anos de prisão por formação de quadrilha, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Lins aproveitou uma decisão do ministro Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal, para voltar à ativa. Pretende agora pedir aposentadoria. Tem gente que acerta sempre no milhar.

 

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