Folha de S. Paulo
Batalhões da PM e delegacias receberam R$ 50O
mil em dois dias em 2023
Cláudio Castro reintegra agentes de segurança
expulsos por ligação com bicheiros
Mais de R$ 500 mil em propina a batalhões
da Polícia
Militar e delegacias da Polícia Civil em
apenas dois dias —6 e 9 de maio de 2023—, com o objetivo de permitir o
funcionamento de bingos e máquinas caça-níquel. É o que revela a investigação
do MP-RJ sobre o bicheiro Rogério Andrade.
O esquema é tão velho quanto o samba "Acertei no Milhar", de Geraldo Pereira e Wilson Baptista, gravado por Moreira da Silva em 1940. Um ano depois, o jogo do bicho, já com status de instituição nacional, foi considerado contravenção, estabelecendo a cumplicidade entre banqueiros e homens da lei.
No romance "Agosto", Rubem Fonseca
—que foi comissário de polícia entre 1952 e 1954— dá uma aula de como a coisa
funcionava: "Toda delegacia tinha um tira que recebia dinheiro dos
bicheiros para distribuir com os colegas. Esse policial era conhecido como
‘apanhador’. O dinheiro dos bicheiros —o ‘levado’— variava de acordo com o
movimento dos pontos e a ganância do delegado. (...) Policiais lotados no
gabinete do chefe de polícia também participavam desse conchavo venal. (...) A
Delegacia Especializada de Costumes, que tinha como uma de suas finalidades a
repressão ao jogo proibido, era a que mais suborno recebia".
Corta para 2025. Uma comissão criada pelo
governador Cláudio
Castro para reavaliar processos administrativos de agentes de
segurança expulsos por envolvimento com o crime organizado ou recebimento de
propina já autorizou o retorno de 144 policiais civis e militares aos quartéis
e delegacias.
Um dos reintegrados é o delegado Álvaro Lins,
chefe da Polícia Civil nos governos de Anthony e Rosinha Garotinho. Em 2008,
ele foi preso sob a acusação de favorecer Rogério Andrade, da nova e
sanguinária geração de chefes do bicho. Condenado em 2018 a 23 anos de prisão
por formação de quadrilha, corrupção passiva
e lavagem de dinheiro, Lins aproveitou uma decisão do ministro Nunes Marques,
do Supremo Tribunal Federal, para voltar à ativa. Pretende agora pedir
aposentadoria. Tem gente que acerta sempre no milhar.
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