terça-feira, 7 de outubro de 2025

E o projeto de nação? Por Ivan Alves Filho

O Brasil assusta. Por que afirmo isso? Por várias razões. 

Inicialmente, perdemos o projeto de nação. Ou seja, estamos sem diretriz e não sabemos para onde vamos. Não temos sequer projeto de governo. Quando muito, projetos de ordem pessoal e olhe lá.

Perdemos o que eu poderia denominar por contra elite, em estreita ligação com o movimento popular organizado. 

Não temos nem uma coisa nem outra. Tudo parece se resumir a uma disputa eleitoral cada vez menos criativa ou cada vez mais esvaziada.

Onde estão as centrais sindicais, o movimento estudantil, o campesinato organizado? Por onde passaram os nossos grandes formuladores, pessoas da qualidade de Darcy Ribeiro, Nelson Werneck Sodré, Josué de Castro, San Thiago Dantas, Alberto Passos Guimarães, Ignacio Rangel e Celso Furtado?

Ainda que tenhamos valores individuais no plano da Cultura, faz muita falta um movimento de caráter mais coletivo. 

E os problemas estão aí, diante de nós: continuamos com uma das piores divisões de renda do mundo, com cidades irrespiráveis, com índices de violência batendo no teto. Até quando?

Sem atacarmos ao menos quatro grandes eixos ou pontos de estrangulamento, talvez o país se enviabilize nos próximos anos.

São eles: repensar o mundo do trabalho, aprofundar os mecanismos da Democracia, enfrentar os dramas que rondam o nosso meio ambiente e refazer a identidade nacional.

Contudo, como no período que vai de meados da década de 40 a meados da década de 60, o país tem como se dotar novamente de um projeto e sair desse atoleiro em que se encontra. Um país que deixa como herança para as gerações atuais uma prática de lutas sociais memoráveis e conquistas extraordinárias no plano da Cultura não tem como nos decepcionar, independentemente dos erros cometidos no passado. Tivemos representantes do que o Humanismo tem de melhor, em vários campos do conhecimento.

Mesmo assim, eu tenho um receio: há, visivelmente, uma ofensiva contra alguns símbolos da nossa trajetória. Para alguns analistas – vá lá o termo –, parece que muitos dos nossos grandes personagens são inteiramente fabricados ou que não há episódio histórico realmente digno de nota no Brasil. Vale dizer, não sobra para quase ninguém. Acredito que seja preciso fazer uso de uma certa cautela: quando se quebra a autoestima de um povo, os caminhos ficam abertos para uma aventura autoritária. Talvez seja necessário um pouco mais de tolerância para com os limites e as fraquezas humanas, levando sempre em consideração que é impossível reescrever a História a cada cinco ou dez anos. A afoiteza nunca levou a nada.  

Vale dizer, precisamos restabelecer o fio da meada, voltar a ter uma contra elite, em sintonia com o povo organizado. Em muitos momentos cruciais da vida brasileira, essa aliança disse sim ao país. A ditadura militar interrompeu esse processo e a redemocratização não o retomou, ainda que sob novas bases (a única exceção nesse sentido se deu durante o Governo Itamar Franco).

Qualquer projeto está fadado ao fracasso se não envolver a sociedade civil, sempre maior do que o Estado.

 

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