O Globo
Sora 2, o novo modelo de vídeo da OpenAI, é
melhor e mais surpreendente do que as outras inteligências artificiais
Sora 2, o novo modelo de vídeo da OpenAI, é melhor e mais surpreendente do que as outras inteligências artificiais que fazem vídeo por aí. Nada de extraordinário. A cada dois meses, mais ou menos, surge um modelo de vídeo novo melhor e mais surpreendente dentre os que existem. Em agosto, saiu o Seedance, da ByteDance, dona do TikTok. Dava um controle incrível a quem pensa o vídeo sobre diversos planos — frente, trás, um traveling. Em maio, saiu o Veo 3, do Google, que permitia pela primeira vez que os vídeos tivessem voz. Tudo indica que seguirá sendo desse jeito. Ainda assim, Sora 2 levanta algumas questões novas em que vale mergulhar.
Como modelo, o atraente nele é a precisão.
Sora 2 oferece, a quem cria um vídeo, um tipo de controle que começa a permitir
brincadeiras mais cinematográficas. É questão de deixar claro o que se deseja
no prompt: o primeiro plano é um close no rosto da personagem; aos dois
segundos abre-se uma porta à direita, e um vulto surge, aos três segundos
percebe-se o pânico nos olhos da protagonista; aos cinco segundos o sacar de
uma faca reluzente. É estar no controle da cena que será criada quadro a
quadro. Basta descrever com palavras no detalhe que o vídeo nascerá.
Mas não é nisso que a OpenAI aposta. Afinal,
modelo novo e mais bacana haverá outro antes de o ano terminar. A aposta da
empresa do ChatGPT é um app em que os inscritos compartilhem suas criações. Sam
Altman, CEO da empresa, quer disputar espaço de atenção com TikTok e Instagram.
Estamos na economia da atenção. Nós,
jornalistas, os serviços de streaming, as TVs a cabo, as plataformas sociais, o
rádio, os livros, o cinema, todos estamos na disputa por alguns minutos da
atenção do público. Quem ganha vende assinatura, vende publicidade, ou ambos. E
esses números oscilam. Segundo o repórter John Burn-Murdoch, do Financial
Times, o pico de audiência das redes sociais já passou — foi em 2022. Desde
então, ela vem lentamente caindo em todo o mundo, com exceção da América do
Norte.
De acordo com a pesquisa feita pelo FT, as razões
que levam pessoas a participar das redes mudaram. Estão em queda “conhecer
gente nova” e “compartilhar minha opinião”. Estão em alta “acompanhar
celebridades” e “fazer o tempo passar”. Isso quer dizer, ora, que redes sociais
deixaram de ser sociais. O engajamento emocional, portanto, começa a diminuir.
Elas vão se tornando, fundamentalmente, mídias de entretenimento.
Entretenimento simplesmente não tem a mesma força de atração que tinha o
contato humano.
Isso certamente cria um espaço para que
conteúdo sintético comece a disputar alguns minutos de nossa atenção. Sim,
parece que chegou a hora de enfim testarmos essa briga. Três anos passados
desde o início da Era da Inteligência Artificial, vamos enfim assistir a uma
disputa entre aquilo que seres humanos fazem para nos distrair e o que foi
criado pelas máquinas.
Claro, os vídeos de IA têm por trás a
imaginação de alguém que pensou na cena, que criou algum clima visual. Mas a
verdade é que essas ondas de vídeo, e antes as ondas de imagens estáticas, não
duraram. Passamos algumas semanas criando nossas versões como boneco ou como
desenhos animados japoneses. Aí, passou. Houve a moda dos vídeos Veo 3, que
tomaram Instagram e TikTok com cenas mais ou menos engraçadas, programas de
auditório inusitados. Nada durou. Não como entretenimento.
Isso não quer dizer que não tenha utilidade.
Dinheiro com efeitos especiais tem sido poupado em produções com atores de
carne e osso. São dez segundos aqui, cinco ali, no meio de um filme ou uma
série. Imagens em apresentações com slides, ilustrações que acompanham conteúdo
jornalístico digital, as capas de vídeos no YouTube, muita gente usa IA. Mas é
como apoio, não como objetivo principal.
Há muitas razões, mas a principal ainda é
sutil: o olhar sintético. A gente tem empatia por gente. E as criações por IA
não parecem de verdade. Não são capazes de emocionar. Ao menos, não ainda.
Serão um dia? Talvez. Esse é o mistério fundamental.
Sora 2 já tem um uso que fará despencar o
custo em audiovisual. Para testar um conceito cinematográfico antes de ligar a
câmera que custa dezenas de milhares de dólares, diretores podem testar o
conceito fazendo um esboço com IA. Já tem muita gente fazendo isso.
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