O Estado de S. Paulo
Este é o chamado do nosso tempo: transformar desafios globais em oportunidades de inovação, prosperidade e cuidado com o planeta
Em suas mais diversas formas, reportar
balanços exige um trabalho profundo e substancioso. Requer visitas atentas ao
passado, permite ponderações serenas sobre o presente e incita um arguto olhar
para o futuro. Ciente disso, encho-me de satisfação e esperança ao me deparar
com os resultados recém-divulgados no Relatório Anual da Ibá, entidade que representa
o setor de árvores cultivadas para fins industriais e de restauração de
nativas.
O documento traz dados referentes a 2024 e resulta de trabalho colaborativo com empresas associadas, a consultoria ESG Tech e a startup Canopy, responsável por captar os dados de área plantada e conservada, a partir de avançada tecnologia via satélite.
Os números refletem a história de sucesso de
um setor que, enquanto cresce, amplia os esforços para a conservação do
planeta, garantindo um futuro próspero e seguro. Chegamos, em 2024, a 10,5
milhões de hectares de árvores plantadas no País. Faça chuva, faça sol, nosso
setor planta diariamente 1,8 milhão de árvores que, ao crescerem, sequestram e
estocam carbono da atmosfera, prestando um serviço ecossistêmico extraordinário.
Da mesma forma, ultrapassamos os 7 milhões de hectares de florestas nativas
preservadas. Trata-se de uma das indústrias que mais protegem áreas naturais do
mundo – um feito notável, em tempos de reações globais morosas no combate à
emergência climática.
Em termos econômicos, ao todo, exportamos US$
15,7 bilhões em artigos de base florestal, o que inclui celulose, os diversos
tipos de papéis, placas e painéis de madeira, entre inúmeros outros. O Brasil é
hoje o maior exportador de celulose do mundo e o segundo maior produtor, além
de ocupar a 7.ª posição na produção de papel – a 6.ª se considerarmos apenas o
papel ondulado – e a 8.ª na produção de painéis de madeira. Em tempos
desafiadores, com crescente protecionismo, nossos produtos têm o mundo como destino.
Nos últimos meses, tivemos exemplos que reforçam a vitalidade e a capacidade de inovação desse setor. A Greenplac, por exemplo, anunciou investimento de R$ 120 milhões para a produção de MDF revestido, com a ampliação de sua planta industrial em Água Clara (MS), gerando empregos e fortalecendo o desenvolvimento regional. A Bracell, por sua vez, inaugurou sua nova fábrica de tissue em Lençóis Paulista (SP) – a unidade é totalmente automatizada e livre de combustíveis fósseis.
A Suzano iniciou em setembro as operações de
sua nova fábrica de papel tissue em Aracruz. Com isso, a empresa concluiu um
ciclo de investimentos de mais de R$ 1,1 bilhão no Espírito Santo, que incluiu
também a substituição da caldeira de biomassa do parque industrial de Aracruz,
passando a reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Também inovou ao
aprovar, em agosto, a emissão de 2 milhões de Cédulas de Produto Rural com
liquidação financeira (CPR-Fs), em uma oferta de R$ 2 bilhões destinada
integralmente à formação de florestas homogêneas, bem como à conservação de
florestas nativas. Semanas antes, a Klabin havia anunciado a captação de R$ 1,5
bilhão com emissão pública de CPRs, em transação inédita.
Recentemente, estive no extremo sul da Bahia
e pude ver de perto a potência transformadora das florestas. Na Veracel, em
Eunápolis, conheci projetos que unem produção florestal e desenvolvimento
humano. A parceria com apicultores para a produção de mel e o lançamento de
novas turmas de capacitação em colaboração com o Senai, uma das quais exclusiva
para pessoas com deficiência, demonstram como a floresta vai além da madeira e
da celulose.
Estive em Itagimirim, onde conheci o Projeto
Muçununga, da Biomas e Carbon2Nature Brasil, que está reflorestando áreas da
Veracel com 70 espécies da Mata Atlântica. Na Symbiosis, em Trancoso,
atualizei-me sobre a pioneira iniciativa de cultivo de espécies nativas em um modelo
inovador de silvicultura. A Symbiosis conta com recursos do Restore Fund,
criado pela Apple, o que permitiu elevar a produção para 5 milhões de mudas
anuais, sendo 4 milhões destinadas à restauração de suas áreas e 1 milhão para
comercialização.
Em setembro, como parte dos preparativos para
a COP30, tivemos um lançamento inédito para o setor: o documentário “Novas
Raízes – Escolhas do Futuro” (HBO Max), que revela a contribuição da indústria
de árvores cultivadas no debate sobre o planeta. A Ibá também lançou o caderno
“Setor Florestal Brasileiro pelo Clima”, que mostra ao mundo casos de sucesso
de nossas empresas. Outro movimento importante é a participação da Ibá na
Coalizão de Florestas, grupo que reúne parceiros como Instituto Arapyaú,
Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura e CEBDS na construção de um
posicionamento a ser entregue ao embaixador André Corrêa do Lago, presidente da
conferência.
Não são poucas as conquistas apresentadas nas páginas de nosso anuário, disponível no site da Ibá (iba.org). Espero que esse documento, um diligente olhar para nossa trajetória e suas perspectivas, inspire em direção a uma economia mais sustentável e inclusiva. Este é o chamado do nosso tempo: transformar desafios globais em oportunidades de inovação, prosperidade e cuidado com o planeta. Que o setor de árvores cultivadas, seja para fins industriais, seja na restauração de nativas, continue a servir de farol para uma caminhada que garanta qualidade de vida às futuras gerações.
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