terça-feira, 7 de outubro de 2025

Por campanhas a pão e água. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Comissão reserva R$ 6,3 bilhões para partidos gastarem no pleito de 2026

Proposta vai na contramão do interesse público e deveria ser revista

A cada par de anos a história se repete. Parlamentares discutem o tamanho do fundo eleitoral destinado aos partidos políticos para as campanhas do próximo pleito, o montante é considerado acintosamente alto por segmentos da sociedade civil, a imprensa publica editoriais e colunas contra a proposta, que mesmo assim acaba passando.

Para as eleições de 2026, a Comissão Mista de Orçamento reservou R$ 4,9 bilhões para o Fundo Especial de Financiamento de Campanha, que se somariam ao R$ 1,4 bilhão do Fundo Partidário (distribuído anualmente às agremiações), perfazendo um total de R$ 6,3 bilhões.

Para a conta ficar completa, deveria incluir os gastos tributários (desconto no IR) em que o poder público incorre a título de ressarcimento a emissoras de rádio e TV pelo tempo utilizado no horário eleitoral obrigatório. Estamos falando de mais algumas centenas de milhões de reais.

Não sou contra o financiamento público de campanha. Ele me parece melhor que a situação anterior, na qual as campanhas eram bancadas principalmente por doações de empresas, o que tornava os políticos eleitos ultrassensíveis aos interesses de quem os financiava.

Daí não se segue que as verbas pagas aos partidos precisem ser exorbitantes, generosas e nem mesmo confortáveis. Ao contrário, não vejo mal algum em que as campanhas sejam extremamente modestas, para não dizer franciscanas.

Há atividades em que o valor do investimento afeta a qualidade do produto. Pense num prédio construído com materiais muito vagabundos. Ele pode até ruir. Mas esse não é o caso de eleições. Não importa quanto se invista em campanhas, serão eleitos sempre o mesmo número de governantes e parlamentares —e não há nenhum indício de que gastando mais obtemos melhores representantes.

Mais, como a quase totalidade das verbas vêm do fundo eleitoral, uma redução uniforme dos montantes pouco afeta a disputa.

Se os parlamentares fossem movidos pelo interesse público, fariam as campanhas passar a pão e água. Ou seja, não vai acontecer.

 

 

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