Folha de S. Paulo
Tentativa de limpeza de imagem não resiste a
ações que desmoralizam a atividade parlamentar
Isenção do IR e projetos da área de segurança
servem de biombo a toda sorte de manobras casuísticas
A Câmara dos
Deputados está fazendo um jogo de aparências. Na superfície,
investe numa agenda popular, aprovando
isenção de Imposto de Renda e urgência para medidas da área de
segurança.
Tentativa de limpeza de imagem que não resiste a um olhar para a face interior da Casa. Ali suja-se a Lei da Ficha Limpa, alivia-se a barra de amotinados, avança-se no Orçamento da União sem cerimônia, urdem-se manobras casuísticas para salvar golpistas e tenta-se manter parlamentares fora do alcance da Justiça.
Se faltou algum item à lista, aguardemos,
porque logo de outros teremos notícia, ainda mais se o Senado sair
do modo resistência para ceder aos intentos dos vizinhos. Executivo e
Judiciário tampouco podem ser excluídos dessa dança de luz e sombras.
O presidente Luiz Inácio da Silva (PT) esteve
nela quando vetou dois
pontos mais escandalosos, mas manteve a essência do enfraquecimento
da Ficha Limpa, que é a redução da inelegibilidade dos infratores para quase
nada.
O Supremo Tribunal Federal, em decisão
monocrática do ministro Luiz Fux,
concordou em deixar para
2030 a reorganização das cadeiras na Câmara, adiando o cumprimento
da regra da proporcionalidade populacional, que implicaria perdas para alguns
estados depois de Lula vetar o aumento do número de deputados de 513 para 518.
Até lá, a proposta voltará.
Na sexta-feira (3), o presidente da Câmara
deu uma série de entrevistas a emissoras de notícias para defender os trabalhos
da Casa, alegando que estavam perfeitamente alinhados com os interesses da
população. Como se isso não fosse o mínimo da obrigação.
Hugo Motta (Republicanos-PB),
contudo, não assumiu posição sobre temas sensíveis como a anistia e os destinos
de uma deputada condenada e presa na Itália e de um colega autoexilado em luta
contra o país, ambos no exercício dos mandatos. Em contrapartida, foi muito
claro na defesa da PEC da Blindagem, cujo alinhamento popular foi o que vimos
nas ruas há 15 dias.
A despeito do esforço, a face interior
prevaleceu.
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