O Estado de S. Paulo
Brasil e EUA ‘vão se dar bem juntos’, sem ‘caça às bruxas’, ‘censura’, ‘comércio desleal’ e... Bolsonaro
Se o encontro nada casual entre Trump e Lula
na abertura da Assembleia Geral da ONU selou o cessar-fogo entre EUA e Brasil,
ou melhor, dos EUA contra o Brasil, a conversa de meia hora entre os dois
presidentes, ontem, foi mais do que uma ótima surpresa para o governo
brasileiro e a indústria nacional: abriu uma avenida de negociações e acertos
bilaterais.
Lula considerou a conversa “excepcional”, mas quem consolidou essa sensação no governo, no Brasil, nos EUA, quiçá mundo afora, foi o próprio Trump, antes tão belicoso, agora simpático com Lula e acenando com uma aproximação para valer: “Nossos países vão se dar muito bem juntos”, divulgou pela internet, após a conversa, que classificou como “ótima”.
Experts em distribuir charme e criar
intimidade, Trump e Lula conversaram mais e melhor do que o previsto, com troca
de seus telefones privados, brincadeira sobre a idade de ambos e anúncio de um
encontro olho no olho, que Lula sugere ser na Malásia, no fim do mês, à parte
da reunião da Asean (bloco do Sudeste Asiático), e Trump não descarta ser nos
EUA, no Brasil ou nos dois.
O centro da conversa, negociada com discrição, detalhes e boa vontade lado a lado, foi o comércio, já que Brasil e EUA perdem com um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, mas Lula também pediu o fim da proibição de vistos americanos para autoridades brasileiras, do Executivo e do Judiciário.
Foi um início de conversa, mais um passo
depois do encontro e da “química” em Nova York, e pode ir longe. Nada foi
decidido objetivamente no telefonema dos dois presidentes, nem era essa a
intenção, mas o caminho está aberto e o ambiente, desanuviado. As previsões são
bastante otimistas.
Marco Rubio será o líder das negociações que
vêm por aí, ou que vão simplesmente continuar, e foi recebido como um ponto
negativo, já que é um dos mais radicais de um governo já tão radical. Planalto
e Itamaraty, porém, trataram de minimizar: o importante é que Rubio é o
secretário de Estado, tem força e é próximo de Trump. Além disso, os três
negociadores brasileiros, Alckmin, Mauro Vieira e
Haddad, são habilidosos, sabem ouvir e falar
na hora certa, no tom certo. Agora vai?
Se Brasil e EUA “vão se dar muito bem juntos”, com a aproximação Lula-Trump, quem é que vai se dar mal? Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e, com eles, o bolsonarismo, que está definhando nas ruas, perdendo força no Congresso e foi desmascarado mundo afora, e agora em Washington: “caça às bruxas”, “censura”, “autoritarismo” e “comércio desleal” com EUA não passavam de... fake news. Trump, enfim, caiu na real.
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