quinta-feira, 6 de novembro de 2025

Em Nova York, é a cidade, estúpido! Por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

É risível a estridência de republicanos e centristas com a vitória de Mamdani

Eleito concentrou campanha nos problemas reais da cidade, não em moinhos de vento

"It is the economy, stupid!" Tornou-se um jargão político lembrar o papel da economia nas eleições. A expressão "é a economia, estúpido" —atribuída à campanha de Bill Clinton que derrotou o republicano George W. Bush em 1992— força estrategistas a lembrarem que eleitores se preocupam, e muito, com as condições materiais de suas vidas: se seus filhos têm acesso à educação de qualidade, se a comida está cara, se os aluguéis não são exorbitantes, se os mais ricos pagam a parte que devem em impostos e assim por diante.

Chega a ser risível a estridência de republicanos e centristas diante da vitória do imigrante muçulmano e socialista democrático Zohran Mamdani —chamado por Trump de "lunático comunista completo". É uma mentira. Mamdani não vai estatizar os meios de produção numa das cidades mais ricas do mundo, nem nunca chegou perto de propor isso.

A radicalidade de Mamdani reside na simplicidade de sua mensagem, segundo a qual desigualdade econômica numa cidade de abundância é imoral. Mamdani concentrou sua campanha em resolver os problemas reais da cidade, não em moinhos de vento. Quando questionado se seguiria a tradição de outros prefeitos de Nova York de visitar Israel, Mamdani deu uma resposta certeira: permaneceria em Nova York resolvendo os problemas e dialogando, inclusive, com a expressiva comunidade judia nova-iorquina.

Políticos tradicionais têm medo de Zohran porque políticos como ele têm a coragem de dizer que a desigualdade em meio à riqueza não é um produto da natureza, mas, sim, consequência das escolhas políticas que as cidades e seus dirigentes tomaram ao longo do tempo. Os americanos, aliás, chamam de socialismo democrático políticas como acesso universal a creches ou mobilidade urbana, que são, em maior ou menor grau, o arroz e feijão em países com algum nível de estado de bem-estar.

Pode-se concordar ou não com as propostas de Mamdani, mas centrar o debate em desigualdade serve de alento em um país acostumado a mascarar a pobreza sob a lógica do fracasso individual.

 

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