Folha de S. Paulo
É risível a estridência de republicanos e
centristas com a vitória de Mamdani
Eleito concentrou campanha nos problemas
reais da cidade, não em moinhos de vento
"It is the economy, stupid!"
Tornou-se um jargão político lembrar o papel da economia nas eleições. A
expressão "é a economia, estúpido" —atribuída à campanha de Bill Clinton que
derrotou o republicano George W. Bush em 1992— força estrategistas a lembrarem
que eleitores se preocupam, e muito, com as condições materiais de suas vidas:
se seus filhos têm acesso à educação de qualidade, se a comida está cara, se os
aluguéis não são exorbitantes, se os mais ricos pagam a parte que devem em
impostos e assim por diante.
Chega a ser risível a estridência de republicanos e centristas diante da vitória do imigrante muçulmano e socialista democrático Zohran Mamdani —chamado por Trump de "lunático comunista completo". É uma mentira. Mamdani não vai estatizar os meios de produção numa das cidades mais ricas do mundo, nem nunca chegou perto de propor isso.
A radicalidade de Mamdani reside na
simplicidade de sua mensagem, segundo a qual desigualdade econômica numa cidade
de abundância é imoral. Mamdani concentrou sua campanha em resolver os
problemas reais da cidade, não em moinhos de vento. Quando questionado se
seguiria a tradição de outros prefeitos de Nova York de
visitar Israel,
Mamdani deu uma resposta certeira: permaneceria em Nova York resolvendo os
problemas e dialogando, inclusive, com a expressiva comunidade judia
nova-iorquina.
Políticos tradicionais têm medo de Zohran
porque políticos como ele têm a coragem de dizer que a desigualdade em meio à
riqueza não é um produto da natureza, mas, sim, consequência das escolhas
políticas que as cidades e seus dirigentes tomaram ao longo do tempo. Os
americanos, aliás, chamam de socialismo democrático políticas como acesso
universal a creches ou mobilidade urbana, que são, em maior ou menor grau, o
arroz e feijão em países com algum nível de estado de bem-estar.
Pode-se concordar ou não com as propostas de
Mamdani, mas centrar o debate em desigualdade serve de alento em um país
acostumado a mascarar a pobreza sob a lógica do fracasso individual.

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