Correio Braziliense
Ao longo dos últimos anos ampliou-se a
ambição de atingir o status de potência econômica em detrimento do anseio pelo
desenvolvimento integrado
Após a Segunda Guerra Mundial, mudou a
maneira de interpretar os antes chamados países economicamente atrasados. Até
1945, predominava a ideia de que alguns deles iriam progredir espontaneamente
graças ao adequado aproveitamento, via mercado, de suas vocações naturais e
vantagens comparativas.
Ao final da guerra, ganhou força a convicção de que a fuga da condição de atrasado ou pobre, sob o regime capitalista, exigia algo mais incisivo: a execução de intensas políticas governamentais. Esse seria o caminho que conduziria ao progresso e a profundas melhorias nos indicadores sociais. O processo que atendesse a tais requisitos foi denominado como desenvolvimento integrado.
Passou a ser discutida, então, a diferença
entre crescimento, onde há aumento do PIB sem alterações relevantes no perfil
da sociedade, e desenvolvimento, onde o incremento do PIB é acompanhado por
mudanças estruturais que ramificam a prosperidade pelos diversos segmentos da
sociedade e regiões do país.
Durante os anos 1960, o debate sobre
desenvolvimento versus crescimento foi sepultado, abatido pelo consenso de que
o que interessa mesmo é o desenvolvimento. Porém, os atuais comportamentos de
parte dos chamados países emergentes e do resto do mundo revelam a
possibilidade de surgimento de um novo estilo de debate. Isto é, ao longo dos
últimos anos ampliou-se a ambição de atingir o status de potência econômica em
detrimento do anseio pelo desenvolvimento integrado.
Sob esse prisma, o mais importante seria
brilhar no cenário internacional através do tamanho absoluto da economia,
menosprezando-se o panorama verificado no visual da qualidade de vida das
diversas classes sociais.
Esse enfoque induz à seguinte pergunta: qual
é a vantagem em figurar entre as maiores economias do mundo? Como resposta,
pode-se afirmar que ser potência econômica não garante a existência de
satisfatória equidade social, mediante a qual o nível de bem-estar da população
não apresente discrepâncias radicais.
Os Estados Unidos são o melhor exemplo de
nação que atingiu, concomitantemente, a condição de desenvolvido e de potência
econômica. Porém, isso não significa que destino semelhante esteja reservado
aos países hoje batalhando pela sua prosperidade.
Por exemplo: na Índia, por mais que a
economia aumente de porte, são remotas as chances de haver substancial redução
em seus enraizados desequilíbrios sociais e regionais e de rompimento de
estratificações de várias naturezas. A China já é uma potência econômica, mas
encontra-se longe de ser classificada como desenvolvida.
Em face da abundância territorial,
populacional e de recursos naturais, as possibilidades do Brasil caminhar em
direção ao desenvolvimento integrado são substanciais, inclusive pelo fato de
ser uma nação não engessada por tabus medievais, com elevado índice de
urbanização e detentora de mobilidade social superior à da maioria dos
emergentes. Porém, nosso país corre o risco de satisfazer-se com a honra de
subir ao pódio das economias de maior porte, a despeito de abrigar contrastes
acentuados no padrão de vida de seus habitantes.
Contrastando com o que foi exposto
anteriormente neste artigo e a título de provocação, vale a pena considerar
também mais uma alternativa conceitual, pela qual a definição pós-guerra de
desenvolvimento integrado seria interpretada como utópica.
Em outras palavras: aceitar que cada nação
tenha o direito de seguir os próprios parâmetros para definir seu grau de
satisfação com a realidade nacional, independentemente dos indicadores de
desenvolvimento consagrados internacionalmente. Mesmo porque em alguns países a
imposição desses indicadores pode até ser interpretada como agressão às suas
tradições. Sob a ótica dessa alternativa teríamos que admitir o ostracismo de
parte dos atuais símbolos de desenvolvimento e, assim, conviver com a
heterogeneidade entre os perfis sociais, econômicos, políticos e culturais das
nações tidas como bem-sucedidas.
Seria oportuno haver uma reflexão da
comunidade mundial sobre qual das alternativas descritas merece ser
classificada como desejável.

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