O Estado de S. Paulo
Lula ganhou nos erros dos adversários, mas adotou agora tática arriscada
Lula decidiu desafiar uma convenção do
marketing político segundo a qual, se a onda é forte, o melhor é passar por
baixo dela. E passou a criminalizar a atuação da polícia na megaoperação no
Rio, que desfruta hoje de um apoio na população tão inédito quanto o número de
mortos registrado no confronto com uma organização criminosa preparada para
combater.
Considerando que segurança pública é a preocupação n.º 1 do eleitor, o tipo de assunto no qual governos petistas apanham fácil, peitar a onda em favor da megaoperação é postura de alto risco. O que levaria um político experiente a optar por um cálculo que só promete desvantagens?
Relatos de quem esteve conversando com Lula
nas últimas semanas – antes da megaoperação, mas depois dos sucessivos erros
políticos da oposição (dos quais o apelo a Trump foi monumental) – dão conta de
que ele está convencido de vencer no primeiro turno. Lula já insinuou isso
publicamente.
Os profissionais em pesquisas são mais
cautelosos. Observam como são voláteis as alterações em termos de
aprovação/desaprovação do governo em função da velocidade com que se sucedem os
acontecimentos políticos dentro e fora do Brasil. A “arte” desse tipo de
interpretação de dados estatísticos consiste em separar a “volatilidade” da
“constância” nos números.
Lula ganhou nos erros dos adversários, mas
adotou agora tática arriscada
Trata-se dos tais “fatores estruturais”, que
teimam em permanecer negativos do ponto de vista do governo. Grosso modo eles
se dividem em dois grandes grupos. O primeiro é a disseminada noção de que o
“sistema” quebrou e que governos (qualquer um) nada resolvem. Muito menos o que
está de plantão.
O segundo é específico de Lula e o PT. O
velho em Lula não é a sua idade, mas a incapacidade atual de “vender” sonhos e
perspectivas. Há transformações importantes também nas periferias que o petismo
e seu único nome viável hoje não conseguiram acompanhar – resultado em boa
parte do mesmo tipo de “sociologia” que os levam a considerar criminosos como
“reflexos” de uma sociedade capitalista cruel.
Vem daí a combinação de duas conhecidas
táticas, a dos “ricos contra pobres” e o assistencialismo turbinado. Ocorre que
a primeira já não “cola” como em eleições anteriores, pois a pregação da
prosperidade avançou bastante em faixas do eleitorado que Lula há anos não
consegue atingir. E na segunda não há diferenças sensíveis em relação ao
Centrão de “centrodireita”, que vive da eterna expansão fiscal.
Assistencialismo virou política de Estado.
Lula é altamente competitivo sobretudo –
neste momento – em função de erros e omissões dos adversários. Mas parece que
resolveu devolver o favor.

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