segunda-feira, 14 de outubro de 2013

OPINIÃO DO DIA – Carlos Guilherme Mota: aproximação surpreendente

Vivemos e assistimos à crise de um regime em que as parcerias fazem parte do jogo político. Elas se dão num patamar inesperado, mas são, do ponto de vista histórico, bastante apreciáveis. Marina tem a tradição de movimentar e pensar as classes populares. Campos esboça contornos de projeto nacional - e que não vem dele apenas. Ele está num Estado importante, fala da principal capital do Nordeste, cuja tradição histórica vem de 1817, 1818, 1824, 1848, depois a Revolução de 30, depois todo o movimento das ligas camponesas. Vem de um clima histórico-cultural que, além de Jarbas Vasconcelos, contou com seu avô, mas também com Gregório Bezerra. Enfim, ele sabe que tem história embaixo dele, com a qual não precisa concordar nem a ela aderir. E ele também tem interlocutores, alguns deles pernambucanos de muito valor, como Roberto Freire, afora sua circulação bem razoável no meio empresarial, inclusive em São Paulo.

Carlos Guilherme Mota, historiador, In entrevista “Teste de pragmatismo”, O Estado de S. Paulo / Aliás, 13/10/2013

Campanha antecipada: Partidos jogam a rede

Desafio na corrida para 2014 é conquistar votos de Marina, que não participará da direção do PSB

Cristiane Jungblut

BRASÍLIA- O PSB e o PSDB, os principais adversários da presidente Dilma Rousseff na eleição presidencial do ano que vem, vão redimensionar suas estratégias depois dos resultados da última pesquisa Datafolha, que mostrou uma pulverização dos votos da ex-senadora Marina Silva, da Rede Sustentabilidade. No PSB, o desafio do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, é conquistar a maior parcela dos votos da ex-senadora, com quem fez aliança depois que ela não conseguiu criar seu novo partido a tempo de disputar a eleição. Para isso, o comando do PSB quer aumentar a exposição da dupla na mídia. Pretendia também formalizar a presença de Marina na Executiva Nacional do partido, em encontro já marcado para quarta-feira — mas a Rede recusou essa proposta, criando mais um ruído na aliança.

Durante o fim de semana, dirigentes do PSB davam como certa a entrada de Marina e de outro integrante da Rede no comando do partido. Ontem, porém, após longa reunião em Brasília, os seguidores da ex-senadora informaram que agradecem o convite, mas ficarão de fora. Marina participou da reunião, mas evitou entrevistas.

— Nenhum membro da Rede vai participar das instâncias do PSB — disse Bazileu Margarido, da comissão nacional provisória do partido em criação, agradecendo a proposta do PSB.

Segundo ele, a intenção é manter a identidade da Rede e deixar caracterizada que o que existe é uma aliança com o PSB. Em vez de integrar organicamente o PSB, a Rede decidiu formar uma comissão com cinco membros, incluindo a ex-senadora Marina Silva, para fazer a interlocução com o partido de Eduardo Campos.

Os socialistas minimizaram a recusa da Rede, para evitar novos constrangimentos. Mas não negam uma decepção.

— Os espaços que oferecemos, oferecemos com alegria. Mas ninguém é obrigado a aceitar. Aos poucos, vamos afinando a orquestra —- afirmou o Kder do PSB na Câmara, Beto Albuquerque (RS).

— Marina tem que reafirmar a Rede. Acho que é nesse sentido — disse Mário França, presidente do PSB de São Paulo.

A mais recente pesquisa Datafolha sobre a disputa presidencial, a primeira após a aliança de Marina com Eduardo Campos, mostra Dilma com 42% das intenções de voto, Aécio com 21%, e Campos com 15%. Indica também que a presidente é a maior beneficiária da não candidatura de Marina Silva, com os mesmos percentuais: 42% dos que declararam voto em Marina podem votar em Dilma; Aécio Neves ficaria com 21% dos votos de Marina; e o governador Eduardo Campos, com 15%.
A briga dos três principais concorrentes, agora, é pela maior parcela dos votos de Marina Silva, que, por enquanto, estão pulverizados. A mesma pesquisa Datafolha indica que Marina é mais competitiva: se disputasse a eleição, ficaria com 29%, e Dilma, 39%. Por isso, a estratégia do PSB é clara: além de mostrar Eduardo Campos como o real parceiro da ex-senadora, a meta é torná-lo mais conhecido (ainda é desconhecido para 43% dos entrevistados), mas com o desafio de administrar, e minimizar, os aspectos negativos. E também fugir da armadilha do PSDB sobre quem será, de fato, o candidato da oposição.

— Não estamos na ótica dã divisão entre candidato do governo e da oposição. Estamos em outra ótica: de sermos novidade na política. O nosso adversário no primeiro turno é o Aécio, e não a Dilma. Não adianta, o segundo turno não terá três vagas — disse Márcio França, salientando que a hora é de mostrar ao Brasil a dupla Eduardo-Marina. — Temos que solidificar a relação Eduardo-Marina.

Aliado de Marina, o deputado Valter Feldman (PSB-SP) avalia que a migração dos votos da ex-senadora para Campos é uma questão de tempo:

— Na hora em que tiver o desdobramento da informação, nossa avaliação é que uma parte ponderável virá para cá. Até porque Marina representa uma parte daquilo que não se representa na Dilma e não reconhece em Aécio as condições para ser o destinatário. É uma questão de tempo.

Nos bastidores, a cúpula do PSB diz ser vantajoso manter o clima de disputa entre Eduardo e Marina sobre quem seria cabeça de chapa em 2014, como forma de galgar os votos dos "marineiros". Beto Albuquerque já comemora o quadro atual.

— O Eduardo praticamente dobrou a sua intenção de voto: tem 15% de apoio, sendo que apenas 8% admitem conhecê-lo bem. Imagina quando ele ficar conhecido! Há muito espaço para crescimento — disse Albuquerque, negando que o bom desempenho de Marina aumente as pressões sobre quem será o candidato em 2014. — A Marina não está disputando conosco. É óbvio que ela tem um recall maior, porque foi candidata em 2010. Mas não há nenhum tipo de receio. A Marina não veio para ficar na frente ou atrás, e, sim, ao lado do Eduardo Campos.

No caso do PSDB, a corrida é para mostrar que o senador Aécio Neves (MG) é o candidato que representa a oposição ao governo petista. Para o presidente em exercício do PSDB, senador Cássio Cunha Lima (PB), será preciso lembrar que Eduardo Campos e Marina já foram ministros na gestão de Lula, e ao lado da então ministra Dilma. A ordem é apresentar os tucanos como opositores históricos do PT e evitar que Aécio perca o segundo lugar nas pesquisas para o PSB.

— Quem sempre esteve na oposição somos nós. E de forma coerente e clara. A candidatura Eduardo-Marina é legítima, mas é uma divisão dentro de uma base que está junta há algum tempo. Além disso, qual será a capacidade de Eduardo Campos capitalizar os votos de Marina? — afirmou ontem o senador Cássio Cunha Lima.

Já no Palácio do Planalto e no PT, a intenção é ampliar a força em seu eleitorado cativo, intensificando as viagens da presidente pelo país, no Nordeste em especial, além de maior exposição nas redes sociais e em programas populares. Os resultados do Datafolha indicam que Dilma reduziu o ritmo de recuperação de sua popularidade: ela havia crescido seis pontos percentuais em agosto e agora cresceu apenas dois. Fortalecer os palanques regionais é outra estratégia da petista.

— O PT tem que continuar priorizando os palanques nos estados. Sempre disse que a aliança deles (Eduardo Campos e Marina) não significava votos. Os votos dela se pulverizaram — disse o líder do PT na Câmara, José Guimarães (CE).

Fonte: O Globo

PT entrega cargos em Pernambuco

Lideranças do PT de Pernambuco vão entregar postos no governo Eduardo Campos (PSB). O partido deve se posicionar nesta semana sobre a ruptura. Em reunião com Marina Silva, a Rede manteve o plano de virar partido e não aceitará integrar a cúpula do PSB.

Dirigentes próximos de Lula anunciam ruptura do PT com Campos no Estado

Angela Lacerda

RECIFE - As principais lideranças do PT em Pernambuco anunciaram ontem que o partido entregará os cargos ocupados no governo Eduardo Campos (PSB). O grupo segue orientação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que quer um distanciamento do governador, provável candidato à Presidência com apoio da ex-ministra Marina Silva. A posição foi tomada pelo senador Humberto Costa, pelo deputado federal João Paulo e pelo atual presidente estadual da sigla, deputado federal Pedro Eugênio, mas parte dos petistas é contra a ruptura.

Um anúncio oficial do PT, porém, só será feito nesta semana. O grupo do ex-prefeito do Recife, João da Costa, e do presidente do diretório municipal, Oscar Barreto,defende a manutenção dos cargos, sem ruptura com o PSB pernambucano.

"Nos antecipamos para defender nossa posição dentro do partido", afirmou Humberto Costa. Segundo ele, a partir do momento em que o PSB de Eduardo Campos entregou os cargos que tinha no ministério da presidente Dilma Rousseff, não faz mais sentido manter os cargos do PT no Estado. "De lá para cá as coisas ficaram cristalizadas e não faz mais sentido estar dentro do governo de Eduardo", afirmou o senador, ao citar a aliança de Campos com Marina Silva e o programa nacional do PSB com críticas ao governo Dilma Rousseff.

Aproximadamente 25 cargos serão entregues, a maioria na área da saúde, onde o PT tinha a secretaria executiva. O PT controlava as secretaria de Cultura e Agricultura." Foi um gesto político", disse João Paulo.

Prioridade. Segundo Costa, a prioridade do partido, depois da definição do PT estadual em relação ao PSB, será a organização de forças para dar sustentação à reeleição da presidente. Para o senador, ainda é cedo para saber se o PT terá candidato próprio ao governo de Pernambuco ou se apoiará a provável candidatura do senador Armando Monteiro Neto (PTB), que deixou o governo Campos na última sexta-feira, alegando a mesma razão dada pelo governador ao sair do governo federal: para ficar mais à vontade.

Monteiro Neto trabalha para consolidar sua candidatura ao governo estadual com o apoio do PT. O deputado federal João Paulo acredita que a tendência será se aliar ao petebista.

Estranha inimizade. Para o primeiro-secretário nacional do PSB, Carlos Siqueira, o PSB não pode ser tratado pelos petistas como inimigo por conta do projeto presidencial de Campos. "É estranho ser tratado como inimigo. Diferentemente deles, não vemos o PT como inimigos. Essa visão (de isolar o PSB nos Estados, defendida por Lula) é fundamentalista e autoritária." Ele admite, porém, problemas na aliança estadual: "A saída dos secretários já era esperada. A relação do PT com o PSB em Pernambuco estava tumultuada desde 2012". "Em outros Estados o PSB e o PT continuarão juntos. No Espírito Santo, eles apoiam o (Renato) Casagrande. No Acre também devemos estar juntos", pontuou Siqueira.

Pesquisa. O senador Humberto Costa achou "muito boa" a aprovação da presidente na última pesquisa do Datafolha. A petista venceria Campos ou Aécio Neves (PSDB) no 1.° turno. "É natural que a superexposição tenha feito Eduardo crescer (de 8% para 15%)", disse.

Colaborou Pedro Venceslau

Fonte: O Estado de S. Paulo

Com brechas na lei, Lula antecipa tom de campanha

Ex-presidente testa limite da legislação para promover aliados Dilma e Padilha

Sem regras claras para a propaganda eleitoral fora do prazo, petista exalta pré-candidatos em discursos e na TV

Diógenes Campanha

SÃO PAULO - Sem mandato e sem pretensão de disputar as eleições de 2014, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vem elevando o tom de suas declarações para promover a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e o ministro Alexandre Padilha, seu escolhido para disputar o governo de São Paulo pelo PT.

O petista já disse que pretende substituir a presidente em comícios e, em São Paulo, trocou as afirmações sobre a importância de vencer pela primeira vez o PSDB no Estado por pedidos de votos.

Em dois discursos recentes em prol do ministro da Saúde, arrancou risos da militância ao declarar que não poderia falar sobre a candidatura porque estaria cansado de multas da Justiça Eleitoral.

"Cada vez que faço um discurso falando de campanha, me multam em R$ 5.000. Portanto, Padilha, não vou falar em seu nome", disse Lula no último dia 29. Em seguida, arrematou: "Por isso, quero terminar dizendo a vocês, sem ter falado de eleição, que nós precisamos eleger o Padilha para ele ajudar a Dilma".

A propaganda eleitoral só será permitida a partir do dia 5 de julho do ano que vem, e a divulgação antecipada é punida com multas de R$ 5.000 a R$ 25 mil.

Atualmente, tramitam no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) três representações de que Lula foi alvo, depois de deixar a Presidência, por promover aliados antes da hora.

Em 2012, ele recebeu duas multas de R$ 5.000 cada uma por declarações ao lado de Fernando Haddad (PT), que disputaria a Prefeitura de São Paulo, e do prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), que foi reeleito. Lula recorre das duas penas, ainda não executadas, no TSE.

O Ministério Público Eleitoral também pediu que ele fosse punido porque o PT teria usado inserções na TV, em abril e maio, para propaganda eleitoral antecipada de Dilma --Lula estrelava os filmes com a sucessora.
O vice-procurador-geral eleitoral, Eugênio Aragão, considerou improcedente a representação, por entender que a divulgação é parte do discurso político.

Ambiente fechado
Quando "não falou de eleição" em eventos do PT ao lado de Padilha, Lula disse que já foi multado em R$ 20 mil. Seus discursos com o ministro ainda não foram alvo de questionamento na Justiça.

Pela lei, não são considerados propaganda antecipada os encontros partidários realizados em ambiente fechado "para tratar da organização dos processos eleitorais, planos de governos ou alianças visando às eleições".

A legislação, no entanto, não é clara sobre o que pode ou não ser dito nesses atos.

O procurador Eugênio Aragão diz que não é permitido pedir votos ou apresentar alguém como candidato, mas não quis opinar sobre as manifestações do ex-presidente nos eventos pró-Padilha.

Ele reconhece que a lei é pouco precisa e quer definir parâmetros para a atuação do Ministério Público em casos de propaganda antecipada. Pessoalmente, é contra "reprimir qualquer manifestação que cheire a campanha".

Fonte: Folha de S. Paulo

A estratégia estadual

Presidenciáveis intensificam conversas para garantir palanques em cada unidade da Federação

Adriana Caitano e Leandro Kleber

BRASÍLIA – Com as candidaturas em processo de definição, a pouco menos de um ano para a eleição de 2014, as articulações para a escolha de quem vai disputar os governos estaduais estão a todo vapor. Muito além da realidade local, o que está em jogo é o espaço que cada presidenciável precisa ter nos palanques regionais, decisivos para o resultado final. Levantamento feito pela reportagem com representantes dos principais partidos que fazem parte do jogo eleitoral aponta que a presidente Dilma Rousseff é a única a já ter engatilhado pelo menos um palanque em todas as unidades da Federação, com exceção do Espírito Santo, onde as negociações ainda estão em curso. É ela também quem tem mais espaços exclusivos. O senador Aécio Neves (PSDB) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), dividem palanques em seis estados. Por enquanto, Eduardo é o pré-candidato com menos apoio estadual.

Os articuladores das legendas não escondem: a chance de vitória é apenas um dos itens levados em conta na escolha de quem será lançado ao comando de cada unidade federativa. "Faz parte da negociação a posição do pré-candidato na campanha presidencial. Um dos critérios é ter um palanque para a presidente", frisa o secretário-geral nacional do PT, deputado federal Paulo Teixeira (SP). Na reunião do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Dilma e o núcleo político na última quinta-feira, ficou claro que a ordem é isolar o agora assumido adversário Eduardo Campos, pressionando inclusive líderes estaduais que apoiam Dilma, mas que continuaram no PSB, a, no mínimo, serem neutros na questão nacional. A presidente já não pode reclamar de espaço: chega a ter mais de um palanque provável em vários locais, como São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.

Espaço dividido
Em torno da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, os passos ainda são incipientes. A aliança anunciada na última semana pegou os próprios pessebistas de surpresa. O pacto de não agressão acordado semanas antes entre Eduardo e Aécio, em que concentrariam as armas contra Dilma, se dissolveu por completo quando a ex-senadora verde apareceu ao lado do governador pernambucano, reforçando seu nome nacionalmente. "Até aquele evento da Marina era uma coisa, agora é outra, a tática tem que mudar", advertiu o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral. Com os caminhos sob nova análise, os apoios e as candidaturas locais estão sendo reorganizados. Os números, por enquanto, não são favoráveis a Eduardo Campos, para quem faltam palanques em nove estados e vai ter que dividir espaço com os adversários em outros sete.

No espaço tucano, a ordem é dar preferência a candidaturas próprias em detrimento das alianças, para garantir que Aécio tenha espaço certo em todos os cantos do país. "Até porque, é disputando eleição que o partido cresce e se consolida", justifica o presidente do PSDB paulista, deputado federal Duarte Nogueira. Por enquanto, falta para o projeto tucano definição de candidatos em três estados: Amapá, Ceará e Rio Grande do Norte. Em todos os demais o senador presidenciável tem ao menos um palanque. E, mesmo ainda tendo que dividir as atenções em alguns estados com Eduardo Campos, chega a levar vantagem em cinco lugares onde seus candidatos estão à frente nas pesquisas: Paraná, São Paulo, Goiás, Paraíba e Rondônia. Com o reforço na campanha do pessebista, porém, a estratégia tucana também deverá ser revista, principalmente onde um palanque duplo pode impedir o projeto de um dos dois, que já começam a se ver, de fato, como adversários nessa disputa.

Rede recusa convite
A Rede Sustentabilidade decidiu que não vai integrar a Executiva do PSB. Em reunião realizada ontem, a comissão nacional provisória resolveu criar um grupo com cinco membros, incluindo a ex-senadora Marina Silva, para fazer o diálogo com o partido com o qual está coligado. "Nenhum membro da Rede vai participar das instâncias do PSB", disse Bazileu Margarido, coordenador-executivo da comissão. Bazileu agradeceu a proposta do PSB para que membros da Rede integrassem a executiva, mas disse que a intenção é manter a identidade da Rede e deixar caracterizada a aliança. Marina Silva decidiu, de última hora, fazer uma coligação com o presidente do PSB, Eduardo Campos, com vistas à eleição presidencial e não comunicou aos demais simpatizantes da Rede. De acordo com Bazileu, ontem o grupo aprovou oficialmente a iniciativa. Ele admitiu, no entanto, que a questão ainda não está pacificada no partido. "Esse momento ainda não está superado. Mas houve uma expressão forte de apoio à decisão de Marina e vamos abrir um diálogo com a militância", afirmou. Marina deixou o local da reunião sem dar entrevista. Ao chegar pela manhã a Brasília, a ex-senadora (foto) foi assediada por fãs e admiradores, e não se furtou a posar para fotos.

Fonte: Correio Braziliense

Governo terá 12 pastas para seduzir PP e PSD

A presidente Dilma Rousseff pretende usar cerca de 12 vagas deixadas por ministros que vão disputar as eleições em 2014 para amarrar o apoio do PP, PTB e PSD a seu projeto de reeleição. A reforma deverá ser feita no fim de dezembro ou em janeiro.

Caso uma aliança formal com esses partidos não seja possível, sobretudo por conta dos palanques regionais, a ideia do governo é que as siglas seduzidas, se não apoiarem Dilma, ao menos não deem palanque para os adversários da petista.

A estratégia é considerada fundamental para neutralizar a capilaridade do PSDB, do senador Aécio Neves (MG), e do PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, agora apoiado pela ex-ministra e ex-senadora Marina Silva.

O governo não descarta que o PMDB, numa reforma ministerial, possa ceder mais espaço para partidos que ganharam mais importância com o troca-troca protagonizado por parlamentares até o último dia5.

Em nome do fortalecimento da chapa Dilma-Michel Temer está sendo discutida dentro do Palácio do Planalto a possibilidade de o PMDB abrir mão de alguma das pastas que comanda para ajudar a recompor o jogo partidário na máquina.

O senador José Sarney (PMDB-AP), que já não é mais presidente do Senado, ainda ostenta duas indicações ministeriais e poderia abrir mão de uma delas. Com a saída de seu apadrinhado Gastão Vieira do Turismo para disputar o Senado pelo Maranhão, a pasta pode ser repassada ao PP.

Flerte do PP. O interesse de Dilma em evitar o rompimento com o PP e sufocar o flerte do partido com o PSDB foi potencializado pelo crescimento da bancada do partido no Congresso, que chegou a ter 37 deputados federais e agora detém 44. Isso significa, numa aliança formal, mais tempo de TV para emprestar ao futuro coligado. Influente no PP, o senador Francisco Dornelles (RJ) - presidente de honra do partido - é tio do tucano Aécio Neves. O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), porém, é fiel aliado de Dilma.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Marina critica Dilma e defende volta do tripé

Durante encontro fechado, na sexta-feira, com cerca de cem empresários, investidores e profissionais do mercado financeiro, a ex-ministra Marina Silva (PSB) fez duras críticas à política econômica do governo Dilma Rousseff e defendeu o retorno do tripé - geração de superávits primários nas contas públicas, câmbio flutuante e metas para inflação - que vigorou nos governos Fernando Henrique Cardoso e Lula.

Segundo relatos do encontro ouvidos pelo Valor, Marina afirmou discordar do expansionismo fiscal adotado pelo atual governo e apoiou a geração de superávits primários "expressivos, sem manobras contábeis". Para a ex-ministra, o câmbio deve voltar a flutuar livremente sem tantas intervenções do Banco Central. Além disso, é preciso promover uma sinalização firme para que a inflação volte ao centro da meta (4,5%) - na gestão atual, a inflação média anual está girando em torno de 6%

Marina diz a investidores que é preciso restaurar o tripé econômico

Por Talita Moreira

SÃO PAULO - A ex-senadora Marina Silva (PSB) defendeu o retorno à austeridade fiscal, empenho no combate à inflação e a adoção de uma agenda para simplificar a economia em apresentação a clientes do banco Credit Suisse na sexta-feira.

Marina criticou a política econômica da presidente Dilma Rousseff e apontou como exemplos positivos algumas medidas adotadas nos governos Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva, apurou o Valor.

A ex-senadora defendeu a volta do tripé macroeconômico baseado na adoção de metas de inflação, câmbio flutuante e política fiscal geradora de superávits primários. Conforme relato de investidores que estiveram no encontro, ela disse que o tripé "ficou comprometido e é preciso restaurá-lo".

Segundo uma dessas fontes, Marina afirmou discordar do expansionismo fiscal adotado pelo governo e defendeu que o país volte a gerar superávits primários "expressivos, sem manobras contábeis". Para a ex-senadora, o câmbio deve voltar a flutuar livremente, sem tantas intervenções do Banco Central (BC) e deve haver um combate mais firme à inflação.

Na avaliação dela, o combate à inflação foi relegado pelo governo. Para recuperar a credibilidade, afirmou, é preciso dar ao mercado sinais claros, "quase teatrais", de que a inflação será levada ao centro da meta. Marina disse também que o BC precisa ter autonomia para operar, mas considera arriscado institucionalizar essa autonomia.

A apresentação foi feita a cerca de cem empresários, investidores e profissionais do mercado financeiro na sede do Credit Suisse em São Paulo. O evento fez parte de um ciclo de palestras que o banco tem promovido para discutir soluções para o Brasil. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, foi o palestrante da semana anterior.

Marina estava acompanhada do economista Eduardo Giannetti, do vereador Ricardo Young (PPS) e de outros assessores. Foi ela quem fez a apresentação. Giannetti só interveio a pedido dela na sessão de perguntas e respostas. Com um discurso marcado por questões caras ao mercado financeiro, a ex-senadora foi descrita como "impressionante" e "cativante" por fontes que assistiram à palestra.

Procurado, o Credit Suisse não fez comentários sobre o evento.

Além da defesa do tripé, Marina destacou a necessidade de reformas microeconômicas para simplificar o ambiente de negócios. Sem apresentar propostas, apontou a Lei de Responsabilidade Fiscal e os empréstimos consignados como exemplos de medidas que foram adotadas por FHC e Lula e surtiram efeitos positivos.

Ao mesmo tempo, a ex-senadora criticou as desonerações pontuais feitas pelo governo em alguns setores, alegando que são "danosas" e não melhoram as condições para se fazer negócios no país. Para ela, a estratégia de criação de "campeões nacionais" com apoio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) é feita sem transparência e não deu os resultados esperados.

Marina adotou tom conciliador ao falar de meio ambiente, bandeira que a tornou conhecida. Segundo ela, a análise dos processos de licenciamento ambiental tem de ser ágil para dar aos empresários clareza para investir. Isso, afirmou, se faz com um governo bem equipado. "Mas não se pode confundir agilidade com flexibilidade na concessão de licenças", disse.

Fonte: Valor Econômico

Chapa Campos-Marina é desafiadora, diz Tarso

Mesmo com as primeiras pesquisas e o quadro eleitoral ain* da indefinido, a formação de uma aliança entre dois ex-ministros do governo Lula-Marina Silva e Eduardo Campos para barrar a reeleição da presidente Dilma Rousseff já tornará o pleito mais desafiador para o PT. A avaliação é do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, que foi colega de Marina e Campos na Esplanada dos Ministérios e assumiu a presidência do PT durante a crise do mensalão.

"O ano de 2014 vai ser muito importante porque nosso projeto estratégico estará sendo testado no debate e nas urnas", afirmou Tarso ao Estado ."Uma polarização entre a presidente Dilma e o governador Eduardo
Campos e Marinavai ser um debate muito mais rico do que os que tivemos até agora. Não é mais um debate sobre heranças presidenciais e, sim, sobre o futuro."

Para o governador, a polarização entre PT e PSDB está esgotada e a movimentação de Campos e Marina não adquiriu ainda "substância social e programática" capaz de ameaçar Dilma. "O movimento que eles (Marina e Campos) estão fazendo não é de renovação", disse o petista, que viu o PSB do vice-governador Beto Grill deixar a base da administração gaúcha.

Na avaliação de Tarso, as primeiras manifestações feitas pelo governador de Pernambuco e pela ex-ministra do Meio Ambiente apontam que os dois estão se encaminhando mais para ocupar um espaço na centro-direita, "que está esvaziada pela impotência demotucana (em referência ao Democratas e ao PSDB), do que apresentar um projeto de centro-esquerda".

Mensalão. Sobre os possíveis efeitos na campanha presidencial do julgamento do mensalão, Tarso afirmou que o episódio já esgotou a sua influência no processo político e nas eleições. "O PT já está em recuperação desse desgaste", disse.

Indagado se os novos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) indicados por Dilma poderiam mudar o resultado do julgamento, o petista respondeu: "Acho que se tiver alguma modificação, será feita dentro das regras do jogo e temos de acolher com naturalidade, seja para um lado, seja para outro."

Fonte: O Estado de S. Paulo

Presidente intensifica viagens a reduto de Aécio Neves

Por Andrea Jubé

BRASÍLIA - Na estratégia de ampliar as viagens pelo país - duas por semana, em média -, a presidente Dilma Rousseff vai priorizar o Sudeste, com foco em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral, com 15 milhões de votos. Dilma aterrissa hoje em Itajubá, sul de Minas. Em dois meses, é a quinta visita ao berço eleitoral do senador Aécio Neves, potencial adversário na sucessão presidencial.

Esse número mostra que Dilma foi mais vezes a Minas neste semestre que no último ano. A ofensiva se evidencia se confrontada com o vácuo das agendas presidenciais no Estado. Em 18 meses - de janeiro do ano passado a agosto - Dilma desembarcou em Minas em quatro ocasiões. Agora, em dois meses - de agosto até hoje - ela terá visitado o Estado cinco vezes.

Hoje Dilma inaugura a fábrica da Balteau S/A, de transformadores de energia, que anunciou investimentos de R$ 50 milhões. Nos últimos dois meses, ela visitou Varginha, Uberlândia, São João Del Rey, e a capital, Belo Horizonte.

Há pelo menos dois objetivos nessa ofensiva. O primeiro é neutralizar a hegemonia da oposição no Sudeste, região que concentra quase metade do eleitorado nacional. O PT se sente resguardado no Rio com um pré-candidato petista competitivo, o senador Lindbergh Farias. Mas vai precisar de mais musculatura para encerrar, no ano que vem, 12 anos dos tucanos em Minas e 20 em São Paulo.

Nos bastidores, até mesmo aliados de Dilma reconhecem que, dificilmente, ela conseguirá derrotar Aécio em seu berço eleitoral, caso ele seja confirmado como o candidato tucano à Presidência. "O eleitorado de Minas é bairrista, vota em mineiro", diz fonte governista.

Nesse contexto, a ofensiva petista busca, pelo menos, reduzir a eventual margem da derrota, e, simultaneamente, turbinar o palanque petista no Estado. O pré-candidato do PT ao governo, o ministro de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, lidera as pesquisas, com cerca de 35% das intenções de votos. Por ora, Pimentel navega em céu de brigadeiro, já que Aécio ainda não definiu seu candidato à sucessão de Antônio Anastasia.

O presidente do PSDB em Minas e pré-candidato ao governo, deputado Marcus Pestana, diz que a oposição vê com "tranquilidade" a ofensiva dilmista, porque a posição de Aécio no Estado é "sólida". Ele ainda fustiga a tentativa da presidente de impor uma "identidade mineira". Segundo ele, em uma agenda na capital mineira, ela se dirigiu ao "prefeito de Porto Alegre". Cita, também, que na campanha, Dilma confundiu Governador Valadares e Juiz de Fora, duas cidades mineiras.

Pestana afirma que o PSDB se prepara para abrir uma margem de até três milhões de votos sobre Dilma no Estado, com Aécio na cédula. O PT não tem histórico de derrotas no Estado. Em 2006, Lula (com um vice mineiro, José Alencar) venceu Geraldo Alckmin com 65% dos votos, e uma margem de 3,2 milhões de votos. E no último pleito, Dilma venceu José Serra, com vantagem menor, de 1,8 milhão - levou 58% dos votos.

Embora Aécio reine soberano em Minas, o PSDB prepara uma contraofensiva local. Em novembro, uma agenda com apelo histórico vai unir Minas e São Paulo. Aécio e o governador Geraldo Alckmin se encontram em Poços de Caldas para lembrar a assinatura do documento inaugural do movimento "Diretas Já", subscrito por Tancredo Neves e Franco Montoro. Há outras agendas programadas para Uberlândia e Montes Claros.

Fonte: Valor Econômico

Entrevista - Carlos Guilherme Mota: Teste de pragmatismo

Neopopulismo dá espaço a uma opção 'sonhática' mais razoável

Mônica Manir

Indeferida, Marina Silva enganchou sua rede no PSB. E agora estão todos a especular se Eduardo Campos continua no topo da chapa ou se entregará a vaga de presidenciável à nova parceira. Na cabeceira da mesa da sala, Carlos Guilherme Mota sorve o café feito por ele. Diz que parece um café turco, porque consegue ver o pó no fundo. Mas não parece preocupado em ler a sina de uma aliança que chacoalhou o cenário político brasileiro. Está mais ansioso por perfilar os personagens em cena e levantar uniões que pouco contribuíram para modernizar a sociedade brasileira. "Vivemos um clima de barbárie, com as categorias sociais embrulhadas num vazio mental."

No verso de uma folha, o historiador tica o que deseja pontuar: grã-burguesia deseducada, partidos sem ideologia, nacional-desenvolvimentismo precário, crise do regime democrático. Traça setas, liga uma coisa a outra, num raciocínio enciclopédico sapecado de referências. No verso do papel, ele circula um trecho da quarta edição de História do Brasil - Uma Interpretação, que assina com a mulher, Adriana Lopez. A nova versão, atualizada, sai em julho pela Editora 34. Carlos Guilherme quase entrega o unhappy end. Tem a ver com o fim de um ciclo histórico após a visita de Lula a Maluf durante a campanha de Fernando Haddad para a Prefeitura de São Paulo, algo envolvendo "república de coalizões estapafúrdias". Depois daquele encontro, escreve ele, ficaram para trás as esperanças de efetiva e sólida renovação político-social. Já sobre o enlace Marina-Campos, o historiador quer abrir um capítulo. Na entrevista a seguir, feita no seu apartamento na Oscar Freire, "nossa 5ª Avenida com casa grande e senzala", ele arrisca os primeiros parágrafos.

A aliança de Marina Silva com Eduardo Campos foi chamada de ‘golpe de mestre’. O senhor concorda com essa avaliação?

CARLOS GUILHERME MOTA - Marina não me parece ter uma biografia ligada a golpes. Não faz parte do perfil e da trajetória dela. E não estou seguro se caberia na de Eduardo Campos, porque ele tem uma genealogia respeitável. Ninguém é neto de Miguel Arraes impunemente, assim como ninguém é neto de Tancredo Neves impunemente. Então respeite-se a visão avoenga da história. No caso da Marina, ela foi braço direito, cria, amiga e interlocutora de Chico Mendes. Ou seja, descarto essa hipótese do golpe.

Como chamaríamos então essa aproximação surpreendente?

CARLOS GUILHERME MOTA - Vivemos e assistimos à crise de um regime em que as parcerias fazem parte do jogo político. Elas se dão num patamar inesperado, mas são, do ponto de vista histórico, bastante apreciáveis. Marina tem a tradição de movimentar e pensar as classes populares. Campos esboça contornos de projeto nacional - e que não vem dele apenas. Ele está num Estado importante, fala da principal capital do Nordeste, cuja tradição histórica vem de 1817, 1818, 1824, 1848, depois a Revolução de 30, depois todo o movimento das ligas camponesas. Vem de um clima histórico-cultural que, além de Jarbas Vasconcelos, contou com seu avô, mas também com Gregório Bezerra. Enfim, ele sabe que tem história embaixo dele, com a qual não precisa concordar nem a ela aderir. E ele também tem interlocutores, alguns deles pernambucanos de muito valor, como Roberto Freire, afora sua circulação bem razoável no meio empresarial, inclusive em São Paulo.

Mas quem vai encabeçar a chapa para presidente no ano que vem? Um aceitaria o outro encabeçando?

CARLOS GUILHERME MOTA - Falar em rixa nessa altura, uma semana depois do anúncio da aliança, acho que fica um pouco absurdo. Eles estão numa aposta. O que vai acontecer, nenhum dos dois sabe, nem nós. Eu poderia ter imaginado dificuldades no relacionamento entre Collor e Itamar, por exemplo. Ou entre Serra e Índio da Costa. Quando falamos de junções, acho que o Serra fez um programa de índio de fato, e depois fica perguntando por que não deu certo. O Tancredo com o Sarney, outra junção estranha. O Lula procurando o Maluf na casa de Maluf, não o Maluf na casa de Lula. E Fernando Henrique com o Marco Maciel, um professor de direito civil com certa compostura, que não se exporia a ser vaiado em Frankfurt, como o foi o grande poeta Michel Temer. Mas Marco Maciel tinha como contrapeso o ACM. Então, do que estamos falando exatamente? Marina e Campos são pessoas dignas. Do que se pode verificar, não existem manchas nas respectivas biografias. Já o caso do Caiado mostra que há choques anafiláticos, e nós vamos assistir a muitos outros assim. Mas não entre Marina e Campos, possivelmente.

A opção de Marina foi essencialmente pragmática?

CARLOS GUILHERME MOTA - Mais que pragmática: maquiavélica. E como fugir de um maquiavelismo tendo em vista o que tem acontecido com os outros partidos, com exceção do PSOL, daqueles mais à esquerda, inclusive de certos militantes do PT que querem acabar com a política de balcão? Nesse quadro, não estamos falando de política de balcão, nem de uma terceira via. Uma terceira via mais nítida seria ela se juntar ao PPS. Mas seguramente ela fez essa análise com muita mais cuidado do que imaginamos.

Acha que a aparente fragilidade dela, de alguma forma, chama votos?

CARLOS GUILHERME MOTA - O que temo na Marina é sua saúde messiânica, sobretudo quando ela olha para o céu. Ao mesmo tempo, durante a campanha em que obteve 20 milhões de votos, mais de uma vez ela disse que a questão religiosa estava à parte. Marina vai ter de se mostrar pragmática nisso e em outras questões, como as células-tronco, o aborto, porque os marqueteiros do outro lado vão provocá-la.

Se os marqueteiros a provocarem, seus clientes também serão provocados...

CARLOS GUILHERME MOTA - Aí todos estarão no fio da navalha. Esse, de fato, não seria um problema da Marina apenas. De qualquer forma, não seria muito pedir afirmação de laicidade do PSB.

Falando em marqueteiros, João Santana aposta na reeleição de Dilma já no primeiro turno devido à ‘antropofagia dos anões’. O que acha dessa previsão?

CARLOS GUILHERME MOTA - Em primeiro lugar, o João Santana deve entender dos anões porque esteve, ombro a ombro, com os aloprados. Em segundo, não consigo imaginá-lo como estadista à altura para estar no Aeroporto de Congonhas, num dia de crise, com Lula e Dilma pensando a República. Não vejo nele título para falar em nome da República, nem nele nem em nenhum marqueteiro. Numa sociedade em que há manipulação de massas, em que se tira dos documentos a ideia de luta de classes, o que é isso? É conversa de marqueteiro. Ficamos preocupados com a espionagem, e não com essa atuação nociva? Uma cultura que vive dos marqueteiros é uma cultura falida nas instituições principais, que são as escolas, os hospitais, as universidades, a Justiça.

Aécio Neves se apresentou como líder da oposição no Brasil. Ele o é, de fato?

CARLOS GUILHERME MOTA - Para ter uma liderança, precisa ter uma voz nacional bem formada, e ele tem alguma. Mas precisaria ter mais estrada. E precisaria ter um quadro de interlocutores em várias áreas. Não se ouve falar de equipe, senão dele sozinho, um pouco borboleteando por aí. E mesmo o legado da herança de Tancredo não é bem usado.

Ele não tem um bom marketing?

CARLOS GUILHERME MOTA - Seguramente, não tem. Mas acho que não é questão de marketing. Falta um interlocutor. O Juscelino, por exemplo, tinha o Pedro Nava, o Santiago Dantas, o Eduardo Portella, o Darcy Ribeiro, o Celso Furtado, uma constelação para pensar o Brasil. Com quem o Aécio de fato conversa?

Aécio quer a Presidência?

CARLOS GUILHERME MOTA - É uma pergunta tão profunda que só a namorada dele, agora esposa, pode responder. Eu não sei.

A política brasileira, no geral, é mais pragmática que programática?

CARLOS GUILHERME MOTA - Alguns conceitos das revoluções liberais, e mesmo socialistas, não atravessarão o Atlântico, já dizia Raimundo Faoro. Elas não chegarão ao Brasil. O liberalismo sempre foi uma ideia fora do lugar, como mostrou o Roberto Schwarz. Os socialismos que aqui chegaram, chegaram pela via stalinista em algum canto, depois superficialmente no pós-68 e não se adensaram em comunidades. O próprio PT hoje é um partido sem ideologia, como diz o Lincoln Secco, historiador petista muito competente e muito sério, militante inclusive.

O PT perdeu a ideologia ou tem outra hoje?

CARLOS GUILHERME MOTA - É a ideologia do neopopulismo, do nacional-desenvolvimentismo de araque. O projeto nacional-desenvolvimentista implica um plano em que o eixo econômico esteja bem definido. Não me parece que esteja definido, com um projeto histórico-cultural a ele associado e um projeto social que saia das prebendas e do assistencialismo.

E os demais partidos?

CARLOS GUILHERME MOTA - Os partidos já foram mais ideológicos e com melhor nível. Quando se discutia nacionalismo, havia nacionalismo de direita e de esquerda. Ou mesmo o trabalhismo, que não foi essa água de barrela em que se transformou o PT. Mas eu gostaria de colocar isso na moldura maior do esgotamento, da mesmice e do oportunismo de dois partidos: o PT e o PSDB. Eles polarizaram e polarizam para desmobilizar. O PSDB já veio desmobilizado porque conseguiu fazer as jogadas erradas nas horas erradas. E, com isso, o Fernando Henrique ficou falando sozinho. Você pode encontrar um Álvaro Dias no Paraná, mais três ou quatro que preciso fazer um esforço para lembrar, mas o esvaziamento é algo mortal para um partido. De outro lado tem o PT, de um autoritarismo desmobilizador, como diria o Michel Debrun, em cima dessa palavra horrenda que é o carisma. Se Lula sair candidato, Dilma dificilmente aguenta. E talvez o maior baque dessa aliança entre Marina e Campos tenha sido para Lula. Eu posso imaginar, no seu ABC, como deve ter sido descobrir que não era o grão-senhor do jogo.

Há carismas positivos?

CARLOS GUILHERME MOTA - Qualquer carisma é negativo para quem quer montar uma sociedade civil moderna e nova. Inclusive não posso ser simpático ao carisma da Marina, dentro da minha lógica. A sociedade precisa de líderes civis que se imponham pela formação, pela competência, pela capacidade de ver o conjunto, no sentido de aprofundar as relações democráticas. O carisma infantiliza. Pode-se dizer que o Bill Clinton tinha carisma? Não, era uma pessoa muito bem formada. O carisma do Obama tende a zero. É só um homem bem formado, casado com uma mulher bem formada. Merkel apenas sabe o que quer.

Que sociedade civil é a brasileira?

CARLOS GUILHERME MOTA - É uma cidadania machucada, com uma grã-burguesia deseducada. Em outros países, com aqueles financiamentos de universidades, de museus, de hospitais, a alta burguesia dá referência civilizadora. Não fica andando nesses Pajeros de vidro preto jogando latinhas de Coca na rua. Vivemos um clima de barbárie, com as categorias sociais embrulhadas, sem projetos sociais políticos e sociais claros. Não é uma sociedade sem terra, sem teto. É sem história e facilmente paternalizada. Há outra coisa grave nesse quadro: o vazio mental. Ele pode ser preenchido com qualquer coisa. Não por acaso se dá o avanço dos pentecostais. Onde estão as universidades formando quadros para a rede de escolas públicas? Estão no silêncio, no corporativismo, na ascensão da classe C de certa época que virou classe B nos quadros universitários. "Ganhei, subi, acomodei." Há uma nova classe média satisfeita na universidade, apesar dos salários não tão confortáveis. O ganho é em status, um statusinho.

As manifestações de rua estão mais para sonháticas ou para pragmáticas?

CARLOS GUILHERME MOTA - Eu traduziria "sonhar" por construir novas utopias. É preciso procurar novas utopias, porque sem isso nenhuma sociedade anda. Mas as manifestações de rua mostram que nossos conceitos não têm dado conta de explicar o que está acontecendo. Dizer que a água transbordou do leito do rio é precário. Tirando a espuma, o que tem embaixo é saúde, educação, transporte, segurança e ética. Tivemos o desfecho cambaio do mensalão e um propinoduto do PSDB não explicado até agora. Como a opinião pública pode reagir positivamente? Em outros países, em outros momentos, os advogados foram mobilizados para grandes causas. Na Revolução Francesa, nas revoluções inglesas do século 17, eles chegavam para malhar o regime antigo e construir um novo. Na época do Roosevelt, na crise de 29, os advogados criaram uma legislação nova. Aqui os advogados, cada vez que vêm, é para reforçar uma visão de D. João IV no século 17: "Nós devemos aprimorar a arte de protelar". No mundo luso-brasileiro, temos a tradição de nunca resolver a questão. E mais, dizia ele: "Governar é nomear". Enfim, não estamos bem na fotografia.

Fonte: O Estado de S. Paulo / Aliás

Bases para o crescimento - Aécio Neves

Entre os muitos desafios a serem enfrentados para a retomada do nosso crescimento, um deles, o demográfico, tem sido pouco considerado como fator de grande impacto sobre a economia brasileira.

Passamos por um rápido processo de transição demográfica: o grupo etário de 15 a 59 anos, que cresceu a uma taxa de 1,6% ao ano na última década, passará a crescer 0,8% ao ano. Ou seja, teremos menor crescimento na oferta de mão de obra. Esse dado, aliado a uma taxa de desemprego que hoje está em 5,6% significa que não haverá uma massa grande de desempregados a ser incorporada ao processo produtivo, como ocorreu nos anos recentes.

A baixa taxa de poupança doméstica (16% do PIB), que tende a diminuir ainda mais com o envelhecimento de nossa população, representa um limite ao crescimento esperado da taxa de investimento. A única forma do país crescer mais rápido é promovendo a produtividade. Infelizmente, não há propostas eficazes para lidar com desafios como esses.

Na verdade, o governo acabou aprisionado na armadilha do curto prazo. Passou a intervir de forma excessiva na economia, conceder subsídios para empresas e setores escolhidos, se fechar para o resto do mundo e ainda modificou marcos regulatórios que precisavam apenas de ajustes.

A percepção de investidores estrangeiros é que o governo brasileiro não se preparou para as mudanças estruturais em curso aqui e no resto do mundo. Adicionalmente, aumentou a incerteza, ao combinar o excesso de intervenção na economia com uma atitude leniente no combate à inflação.

Ao final, estamos sem uma agenda para o crescimento.

No curto prazo, é preciso resgatar a matriz econômica que prevaleceu até recentemente: controle fiscal, taxa de câmbio flutuante e regime de metas de inflação com liberdade de atuação para o Banco Central. Essa agenda deve ser complementada por um esforço imediato de simplificação tributária, redução do número de impostos e estabilidade de regras para o investimento.

No longo prazo, como venho alertando, precisamos resgatar a agenda de reformas estruturais, que passa pela contenção do crescimento do gasto público, maior integração comercial, incentivos à inovação e à competitividade e redução gradual da carga tributária, além da educação como prioridade nacional. Vencer esses desafios depende de um novo sentido de liderança política, capaz de compartilhar com a população e com o Congresso as grandes tarefas que a economia globalizada impõe a países emergentes como o nosso.
Temos todos os ativos para crescer e mudar o atual patamar de desenvolvimento. Precisamos de projeto claro, planejamento rigoroso e mobilização em torno das grandes causas nacionais.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB

Fonte: Folha de S. Paulo

Lembrando Raul Pilla - Paulo Brossard

Faz alguns dias, o mundo inteiro divulgou e comentou a vitória do partido União Democrata-Cristã (CDU), do qual é líder a senhora Angela Merkel; um dos jornais que tenho sob os olhos, em meia dúzia de palavras, resumiu o fato dizendo: Alemanha elege Merkel pela terceira vez, e me lembrei do deputado Raul Pilla, o incansável defensor do sistema parlamentar de governo, e que, mercê de seu apostolado, chegou a contar com o apoio da maioria da Câmara dos Deputados.

A lembrança não foi gratuita, pois o ocorrido na Alemanha deixou transparecer de maneira objetiva uma das superioridades do parlamentarismo com relação ao sistema presidencial. Neste, no mesmo dia, o mesmo eleitorado, em regra, elege tanto o presidente da República quanto o Congresso e pode ocorrer que o presidente eleito não venha a contar com o apoio da maioria do Congresso, e durante o quadriênio os poderes políticos por excelência, ambos de origem popular, podem viver em testilhas permanentes, um puxando para o norte e outro para o sul; no caso do país que tenha adotado o sistema parlamentar de governo, normalmente os evita ou supera. O ocorrido na Alemanha ilustra a hipótese; note-se que o eleitorado não elege o chanceler que conduzirá o governo e a administração, mas o líder do partido mais numeroso tem assegurada sua consagração como chefe do governo, pela circunstância de ele representar a maioria. De uma forma simplificada, se pode dizer que à maioria compete governar, enquanto fiscalizar cabe à minoria.

Abro um parêntese para trazer à colação fato recente ocorrido na Itália. Como é sabido, a representação parlamentar dos três maiores partidos poderia formar uma coligação que desse estabilidade ao governo por ele constituído, mas o desacordo predominou e ficou claro que nem uma nova eleição resolveria o dissenso; declarando que a nação não podia continuar sem governo, e inexistindo precedente a respeito, usando de poderes não expressos, mas imanentes ao seu cargo e à gravidade da situação, o presidente da República escolheu personalidades expressivas de cada um dos três maiores, e a singularidade da emergência e da judiciosa solução adotada pelo presidente convalidou a construção e a Itália voltou a ter governo graças ao engenho e arte do chefe do Estado.

Voltando ao tema, se no sistema presidencialista o presidente tem dia certo para assumir e concluir seu período, seja ele excelente ou desastroso, no sistema parlamentar não há prazo certo para o mesmo fim, enquanto o primeiro-ministro contar com a maioria parlamentar, ele continuará primeiro-ministro, no momento em que o apoio da maioria lhe faltar, ele deixará o poder, a menos que o presidente se valha da prerrogativa de dissolver a casa legislativa e convocar simultaneamente eleição e, desse modo, o eleitorado resolverá o conflito.

Haveria muita coisa a dizer, mas, se a história é longa, o espaço é curto, devo finalizar encarando apenas um aspecto do problema, e que o leitor concordará com a lembrança de figura modelar de homem público, em longos anos de atividade pública e fidelidade democrática.

Jurista e ministro aposentado do STF

Fonte: Zero Hora (RS)

Partidos são, de fato, necessários? - Renato Janine Ribeiro

As decisões do TSE, negando registro ao Rede e concedendo-o a dois partidos desconhecidos, suscitam uma pergunta radical: partidos são mesmo necessários? Ainda mais porque o Rede, embora seja partido, defende candidaturas avulsas, como há em vários países do mundo. O assunto merece debate.

Uma forma de democracia - a democracia dos partidos - triunfou após a II Guerra Mundial. A democracia é o poder do povo, mas há vários modos de implantá-lo. A democracia dos partidos é típica só de nossa época, tão diferente da Atenas antiga, mas tem o grande mérito de ser o modo pelo qual ela, finalmente, se globalizou. Só que isso traz problemas sérios. Convém apontá-los, até porque um lugar comum brasileiro sobre o aprimoramento da democracia passa pelo mantra de que a democracia depende de partidos fortes, ponto esse que foi contestado nas ruas em junho.

Essa forma de democracia é criação anglo-saxônica. Consolida-se no Reino Unido, Estados Unidos, Canadá. Espraia-se pela Europa ocidental. Ganha o mundo ao se difundir pela Ásia (Índia, Japão), América Latina e Europa oriental. Só que exige uma sociedade constituída por indivíduos livres, mas individualistas. Supõe que cada um de nós tome decisões rompendo com seus vínculos de grupo. Essa liberdade do indivíduo em face dos outros e de sua história é sua maior condição. Mas não é óbvio que isso sempre seja bom. E essa não é a única forma boa de democracia.

O Ubuntu e a política sem partidos

Porque esse experimento histórico é problemático. Primeiro, exclui do poder quem não pertence ao partido (ou à coligação) que vença as eleições. Quem perde a eleição não pode cooperar com o poder. Isso é desnecessário e mesquinho. A divisão em facções faz que o vencedor não só assuma a liderança política, mas aparelhe o Estado. Disso é acusado o PT, mas o PSDB não faz por menos - basta ver a preferência da TV Cultura por entrevistados tucanos numa área, o jornalismo, que deveria ser imune a injunções partidárias. Assim é a democracia dos partidos.

Isso decorre de um segundo defeito. A frase do catolicismo triunfante - "Não há salvação fora da Igreja" - cabe aqui: não há política fora dos partidos competitivos. Temos poucas opções de participação política. Há partidos para vários gostos. Mas quem não se encaixar nos poucos com chances de êxito eleitoral só haverá de falar, sem agir: "Verba, non acta".

Terceiro, cai a pluralidade de opiniões. Quando o PDT se constituiu, fez um debate para tomar posição sobre a condição feminina. O tema é crucial, mas não é óbvio que um partido deva ter posição única a respeito. Recordo uma reunião da revista "Teoria e Debate", do PT, de cujo conselho eu era membro, na qual um militante defendeu que o periódico discutisse o que seria o modo petista de amar. Ora, petistas amariam de forma diferente de peemedebistas? Entendo a preocupação generosa de democratizar o mundo afetivo. Mas me choca ver até onde vai a partidarização de um mundo complexo.

Partidos evocam o verbo partir: cindir, rachar, dividir. Nascem da ideia de que a sociedade não precisa ver o mundo de uma só forma, de que o conflito é legítimo e até mesmo a norma em nosso mundo - uma tese positiva, aberta, com a qual concordo. Mas o máximo que conseguimos é, em vez do pensamento único, dois ou três pensamentos.

Essa política não serve em sociedades de forte teor grupal. Para nós, ocidentais, soa absurdo que em eleições democráticas tribos votem de forma unida, tribalizando a política, rachando a sociedade segundo linhas étnicas, negando a liberdade individual de cada um escolher livremente o seu caminho. Mas, se para mim o principal for o laço com meus próximos, por que não? Se na Bolívia, hoje um Estado plurinacional, uma aldeia discutir o que lhe convém mais nas políticas públicas e seus moradores votarem coesos nas eleições, por que não? Mas, aí, a liberdade individual não faz sentido. O indivíduo faz pouco sentido.

Uma expressão resume essa visão que contrasta com a democracia vitoriosa de nosso tempo. É a palavra Ubuntu, a grande contribuição da África do Sul ao pensamento mundial. Quer dizer algo como "Somos, logo sou" - uma alternativa ao "Penso, logo existo", que desde Descartes molda a experiência ocidental com base no indivíduo racional. Ubuntu é "eu existo a partir de minha rede de relações sociais". Nada sou, sozinho. É uma ideia que faz sucesso, mundo afora, na área da educação. Vejam na internet o "Vamos ubuntar", que Lia Diskin escreveu para a Unesco. Devemos levar essa ideia para a organização política - porque pode criar uma sociedade na qual se dispute, sim, a hegemonia, mas não com base em indivíduos e sim em redes, e na qual não mais se promova a exclusão do derrotado.

Não estranha que o partido que não conseguiu registro de partido se chame "rede". Uma rede é horizontal, não vertical. Procura juntar o maior mundo de pessoas, em vez de excluir. Sequer deveria estabelecer lideranças - embora seja difícil fazer política sem elas, e Marina seja a líder mais inconteste que o Brasil viu desde Brizola e Lula. Não acredito que uma política funcione sem hegemonias atribuídas pelo voto. Mas dá para fazer política sem impor, a todos, que para participar do poder se encaixem numa das poucas identidades disponíveis (no Brasil, o duelo petistas/tucanos), e sem que o derrotado na disputa perca tudo. Abrir mais as identidades e admitir a participação no poder mesmo dos vencidos já bastaria para um avanço político notável. Mas isso supõe uma redução significativa do poder dos partidos, e que se aposente o mantra de que não há salvação fora deles.

Renato Janine Ribeiro é professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo.

Fonte: Valor Econômico

Constituinte, cidadania e democracia - Marcus Pestana

E 25 anos se passaram. Parece que foi ontem. Lembro que era vereador e presidente do PSDB de Juiz de Fora em 5 de outubro de 1988. Eram mais ou menos sete e meia da noite e, na avenida Rio Branco, artéria central de minha cidade, resolvi parar para um chope no balcão do bar de um amigo. A TV estava virada para mim e transmitia o discurso do “comandante” Ulysses Guimarães promulgando a “Constituição cidadã”.

“Não nos desencaminhamos na longa marcha, não nos desmoralizamos, não desertamos, não caímos no caminho”, disse Ulysses. “Traidor da Constituição é traidor da pátria, (...) promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo. (...) A sociedade com Teotônio Vilela, na anistia, libertou e repatriou. A sociedade foi Rubens Paiva, não os facínoras que o mataram. (...) Foi a sociedade, mobilizada nos colossais comícios das Diretas Já, que, pela transição e pela mudança, derrotou o Estado usurpador. (...) A nação quer mudar. A nação deve mudar. A nação vai mudar. A Constituição pretende ser a voz, a letra, a vontade política da sociedade rumo à mudança. Que a promulgação seja o nosso grito”. Em tempos tão bicudos, que saudade, Ulysses!

As lágrimas do militante pela democracia, em pé, tomando chope, numa avenida do interior de Minas, foram inevitáveis. Chegávamos a bom porto numa etapa da utopia coletivamente construída tendo à frente nosso grande timoneiro.

Lembro quando entrei na vida pública, aos 16 anos, como líder estudantil ligado aos movimentos católicos inspirados pela Teologia da Libertação e, depois, à esquerda organizada. A frente democrática tinha um programa mínimo: anistia ampla, geral e irrestrita; constituinte livre e soberana; e eleições diretas para presidente da República. Essa era nossa agenda, essa era nossa utopia.

Vencemos. A duras penas e com o sacrifício de muitos, vencemos. A Constituição cidadã de 1988 e as eleições diretas em 1989 premiaram nosso esforço. A constituinte foi o estuário de nossas aspirações. Mais do que uma democracia adjetiva, conquistamos o maior e mais profundo ciclo de liberdade da história brasileira, os direitos coletivos materializados no SUS, no seguro desemprego, entre tantas outras conquistas.

Fui diretor do Comitê Brasileiro da Anistia, coordenador da Diretas Já e do Comitê por uma Constituinte Livre e Soberana, em minha cidade. O 5 de outubro, em seus 25 anos, não poderia passar em branco. Dizem que o Brasil é um país sem memória e onde até o passado é imprevisível.

A Constituição de 1988 tem suas distorções. Mas ao pensarmos em mudá-la, pensemos sempre na herança e no legado que nos deixaram Ulysses Guimarães, Mário Covas, Teotônio Villela, Franco Montoro e tantos outros protagonistas da redemocratização brasileira. Que saudade, vocês estão fazendo falta num país tão corroído pela corrupção e pela falta de amor à pátria.

Marcus Pestana, deputado federal e presidente do PSDB –MG.

Fonte: O Tempo (MG)

Incômodos & incertezas - Denise Rothenburg

As desconfianças da classe política e empresarial em relação ao estilo da presidente Dilma Rousseff, somadas à perda de força eleitoral do Bolsa Família, formam uma mistura tão perigosa quanto beber e dirigir

Para os petistas que se dedicaram à leitura dos jornais no último fim de semana, a pior notícia foi que o Bolsa Família vem perdendo força eleitoral, conforme demonstrou a reportagem de Paulo de Tarso Lyra, Renata Mariz e Étore Medeiros, nas páginas dos Diários Associados. Especialmente, agora, num momento em que a economia dá alguns sinais preocupantes, o partido esperava contar com o prestígio de seus programas sociais para obtenção de votos.

Mesmo aqueles que se mostram mais tranquilos depois da pesquisa do Datafolha — em que a presidente Dilma surgiu com intenções de voto acima de 40% — estão preocupados com a queda de influência eleitoral do programa. Isso significa, na avaliação de muitos, que a população absorveu o Bolsa Família e agora quer mais. E esse “querer mais” pode levar o eleitor a outras opções partidárias. Por enquanto, isso ainda não ocorreu, mas nada nas pesquisas feitas até agora garante a permanência da maioria do eleitorado no mesmo lugar daqui a um ano. E isso incomoda o PT sob vários aspectos.

Um desses aspectos é a política. Os petistas sabem que a maioria da base aliada não gosta do jeitão da presidente. Os partidos só estão com ela hoje porque sabem que o eleitor está. No momento em que o eleitor olhar para o outro lado, será a hora de a classe política dar “tchau, Dilma”, pois, da mesma forma que o PT se incomoda com a perda de força eleitoral do Bolsa Família, os políticos se incomodam e muito com uma presidente que mal os recebe e tem pouco diálogo.

É bem verdade que a presidente tem mudado o jeitão. Ela recebe os aliados, conversa. Nos últimos tempos, tem ouvido bastante, por exemplo, o vice-presidente Michel Temer, e dedicado mais atenção à base. Além disso, tem maioria e se sai bem em público, caso dos taxistas na semana passada.

Ocorre que, do ponto de vista dos políticos, isso é apenas jogo de cena. O raciocínio deles é o de que, se Dilma levou três anos para prestar atenção à classe política e, ainda assim, não são raras as vezes em que faz pouco caso dos partidos e dos aliados, “imagine como não será se ela se reeleger”? Essa é a pergunta que a maioria da base aliada hoje faz a si própria. Quem tiver curiosidade e tempo para conversar com os aliados da presidente ouvirá esse questionamento dezenas de vezes, inclusive dos petistas.

A maioria deles acredita que Dilma, se reeleita, “dará uma banana” para os congressistas, fará tudo da cabeça dela sem a menor atenção, seja com a classe política seja com a classe empresarial.

Por falar em empresários...
O partido anda meio nervoso também em relação ao empresariado. Há alguns dias, um petista ilustre me disse que os empresários estão muito incomodados porque Dilma simplesmente não quer que eles ganhem dinheiro. Se dependesse dela, trabalhariam sem margem de lucro. Para completar, os empresários reclamam ainda da insegurança jurídica em vários setores, especialmente, energia, onde as regras do jogo mudaram e toda mudança que pareça maior intervenção estatal termina afastando os investidores.

Diante de tantos incômodos e a certeza de que a oposição está a mil por hora tentando desconstruir a imagem do partido, surgirá nos próximos dias alguma pressão para que Dilma assine uma carta aos brasileiros, mais necessariamente aos políticos, no sentido de deixar claro que não pretende isolar a sua maioria num segundo governo. Se houver o menor sinal de que os congressistas devem ser mantidos em terceiro plano no futuro governo, a diáspora virá, ainda que de maneira silenciosa, no sentido de tentar minar a popularidade presidencial. E esse jeito é o mais perigoso, porque aquele que está no poder custa a perceber.

No momento, a conclusão de muitos petistas é a de que esses ingredientes, somados à perda de influência do Bolsa Família, representam uma mistura tão perigosa quanto beber e dirigir. Embora, muitas vezes, o sujeito chegue em casa inteiro, o risco de acidente não está descartado.

Fonte: Correio Braziliense

Ao gosto do freguês - Valdo Cruz

Digamos que a pesquisa Datafolha permite leituras favoráveis ao gosto do freguês. Dilmistas ficaram felizes, aecistas, idem. Campistas, também. Marinistas tiveram motivos para sonhar e até serristas vislumbram uma janela.

Vista, porém, como ponto de partida e sendo a base, com pequenas oscilações, para o ano que vem, fica praticamente certo que a eleição será disputada por Dilma Rousseff, Aécio Neves e Eduardo Campos.

Impossível imaginar o presidente do PSB abrindo mão de sua candidatura em favor de Marina com intenções de voto na casa de 15%. E com chances de subir diante de seu baixo conhecimento nacional.

Difícil acreditar que o tucano José Serra consiga tirar a vez de Aécio com os dois na mesma faixa de preferência do eleitorado. Ainda mais com o paulista tendo rejeição bem maior do que a do mineiro.

Dilma, claro, está em posição privilegiada. À frente em todos os cenários, depende, como num campeonato de futebol, basicamente dela para levar a taça da reeleição.

Tem trunfos à mão na reta final. Além da caneta presidencial, vai colher frutos de programas como Mais Médicos e Minha Casa Melhor.

O título, porém, não está garantido. O ponto fraco dilmista foi cultivado pela própria presidente. A inflação não está fora de controle, mas segue sendo uma incerteza.

Dilma errou ao acreditar que era possível conviver com uma inflação rodando na casa dos 6% em troca de mais crescimento. Receita velha e comprovadamente ineficaz.

Deu no que deu. Crescimento medíocre e risco sempre à porta de os preços dispararem. Basta apenas uma pequena faísca vinda do cenário externo para a inflação superar o teto da meta, de 6,5%.

Não por outro motivo o Banco Central reagiu e ensaia levar os juros para casa dos dois dígitos, pondo fim a uma das bandeiras eleitorais da petista. Pode dar certo, mas pode ter vindo tarde demais.

Fonte: Folha de S. Paulo

Zona de confusão - José Roberto de Toledo

O Datafolha mostra a mesma divisão medial do eleitorado que levou as eleições de 2002, 2006 e 2010 ao segundo turno. Mas uma diferença pode mudar o fim da história. A chapa "EduMarina" pretende-se uma frente anti governo. Aposta na clivagem enquanto busca monopolizar os votos de quem quer mudança no poder. Se bem-sucedida, aumenta a chance de tudo acabar em 5 de outubro.

Os governistas podem acreditar na simplória conta aritmética que dá maioria absoluta a Dilma Rousseff (PT) ou se prepararem para enfrentar uma frente única antipetista cuja estratégia é transformar a votação em plebiscito sobre o governo. Embora a primeira versão sejasedutora, a segunda encontra mais amparo nas pesquisas de intenção de voto.

Qual a maior diferença entre os dois cenários que têm Dilma e Aécio Neves (PSDB), mas alternam Eduardo Campos (PSB) eMarina(PSB)? A taxa daqueles que dizem que votarão em branco, anularão ou não sabem responder. Com Marina na disputa, os eleitores sem candidato são 15%. Com Eduardo, 23%.

Na hora da urna, a história mostra que essa taxa tende a ficar abaixo de 10%. Logo, a questão é para quem penderão os 13% extras de eleitores que ficam sem candidato quando Eduardo Campos é o nome do PSB: à candidata governista ou aos oposicionistas.

Sem Marina na cabeça de chapa, Dilma ganha três pontos, e Aécio leva quatro a mais. A diferença mínima é inconclusiva. Outros elementos são necessários à comparação. Eles existem.

Eduardo tem metade dos votos de Marina, mas é desconhecido por 43% dos eleitores, quase quatro vezes mais do que sua nova companheira de partido. Se, à medida que a campanha avançar, ela pedir votos para ele como Lula pede para Dilma, é possível que o candidato do PSB conquiste mais eleitores do que apresidente entre os que ficam sem candidato diante da saída de Marina.

Por dois motivos:

1) Dilma tem rejeição muito mais alta do que Eduardo entre os eleitores de Marina. Pesquisado Ibope em meados de setembro mostrou que 60% dos que declaravam voto em Marina não votariam de jeito nenhum em Dilma para presidente. A proporção cai amenos da metade (27%) com Eduardo, porque 36% dos eleitores de Marina dizem que não o conhecem o suficiente para opinar;

2) O Datafolha fez experiência heterodoxa e testou dois cenários de segundo turno citando nomes de candidatos a presidente e a vice. A chapa Eduardo/ Marina perderia por 37% a 46% para Dilma/Michel Temer. Mas a chapa invertida do PSB,Marina/Eduardo, aparece tecnicamente empatada com Dilma/ Michel: 42% a 44%. A diferença vem do grau de conhecimento de Campos.

Tudo depende, portanto, de quão dedicada e eficiente será a campanha de Marina por Eduardo. Não está claro qual a melhor tática: se apostar na confusão, como aparentam por ora, não deixando claro quem é o cabeça de chapa; ou se definindo logo quem é a locomotiva e quem é o vagão. Seja quem vier a ser o candidato, ele será fruto da decisão de Eduardo Campos.

A chapa "EduMarina" não é o fim da polarização eleitoral brasileira. Quer é substituir um dos polos, o do PSDB. Tem chances, por vários motivos: decadência eleitoral dos tucanos e o apelo de novidade que carrega são dois dos principais.

Se continuar avançando nas pesquisas de intenção de voto, "EduMarina" colocará a candidatura de Aécio em xeque. O tucano se segura em dois ativos eleitorais que fazem falta à dupla contra quem disputa o protagonismo da oposição: tempo de TV e palanques estaduais.

Nas últimas cinco eleições presidenciais, a diferença entre o primeiro colocado e a soma dos adversários nunca superou 5% dos votos válidos do primeiro turno. Em 1994 e 1998, a seu favor; nas outras três, contra. A margem é tão apertada que prognósticos são tãobons quanto um cara ou coroa. Nada indica que em 2014 essa zona de confusão será menos decisiva.

Fonte: O Estado de S. Paulo

Painel - Vera Magalhães

Reserva de luxo
Auxiliares próximos a Dilma Rousseff defendem, nos bastidores, que Josué Gomes da Silva seja o sucessor de Fernando Pimentel no Ministério do Desenvolvimento quando for deflagrada a reforma do primeiro escalão. Recém-filiado ao PMDB com apoio de Lula, o filho de José Alencar entrou na legenda como opção para vice na chapa do ministro, que disputará o governo mineiro. Petistas, contudo, desejam que o empresário atue como interlocutor do governo com o PIB.

Dois em um Como parte da sigla se queixa da filiação de Gomes, a estratégia visa a atrair, nas palavras de um interlocutor do Planalto, o "PMDB de raiz'' para o palanque de Pimentel em 2014.

Aviso... Um consórcio que quer disputar o leilão do Galeão (RJ), mas está restrito a 15% pois já controla outros aeroportos administrados pela iniciativa privada, promete acionar a Justiça com mandado de segurança para suspender o leilão do governo.

... prévio Se não obtiver decisão favorável, o grupo interessado vai protocolar em cartório a oferta que daria no leilão, com valor superior ao dos atuais concorrentes.

Nada disso A despeito da controvérsia entre governistas acerca do leilão de aeroportos, Gleisi Hoffmann (Casa Civil) diz que a posição do Planalto e de seus ministros sobre o tema é a que está publicada no edital. "Não existem divergências sobre isso", afirma a ministra.

Azedou 1 Quem acompanha os bastidores do setor de petróleo relata que a diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo), Magda Chambriard, e a presidente da Petrobras, Graça Foster, andam se desentendendo.

Azedou 2 Segundo interlocutores, Dilma tem ouvido muito Magda para discutir temas envolvendo a área. "A Graça é mais poderosa porque a empresa é maior, mas é a ANP que regula o setor", diz um assessor presidencial.

Como assim? Membros do Conselho Nacional de Justiça querem conversar com Joaquim Barbosa sobre liminar de Ricardo Lewandowski que suspendeu decisão do órgão prevendo que só os mais antigos no TJ-SP pudessem disputar cargos de direção.

Reduto Na pesquisa Datafolha divulgada no sábado, Dilma recuperou nove dos 19 pontos que perdeu no Nordeste após os protestos de junho, e chegou ao patamar de 54% --ainda abaixo dos 64% que tinha em março.

Em casa No Nordeste, o apoio de Lula faria com que 53% dos eleitores votassem "com certeza" no candidato escolhido pelo ex-presidente.

Melhor... O crescimento de Aécio Neves surpreendeu sua pré-campanha. Estrategistas destacam que seu eleitorado se concentra nas classes de renda mais alta, que acompanharam de perto a declaração de apoio de Marina Silva a Eduardo Campos.

... que encomenda O estafe do senador esperava, portanto, que ele não ganhasse espaço nesse grupo.


Só médicos O PR de São Paulo filiou na semana passada o médico Claudio Lottenberg, presidente do Hospital Albert Einstein. A sigla diz que contou com a articulação do ministro Alexandre Padilha (Saúde), que será candidato ao governo paulista e busca o apoio da sigla.

Tentando a sorte Andressa Mendonça, mulher do empresário Carlinhos Cachoeira, se filiou ao PSL em Goiás e planeja uma candidatura nas eleições. No ano passado, disse a amigos que escolheria como plataformas a legalização dos jogos de azar e o combate à corrupção.

Tiroteio

"Fernando Haddad acabou com a inspeção veicular na cidade em que a poluição provoca mortes e foi respirar novos ares na Itália."

DE GILBERTO NATALINI (PV), médico e vereador, sobre o prefeito suspender as vistorias que aferem as emissões dos veículos registrados em São Paulo.

Contraponto

Só para baixinhos

O ministro Aguinaldo Ribeiro (Cidades) participava da cerimônia de anúncio do metrô de Porto Alegre, no sábado, Dia das Crianças. Sentado à mesa, junto à presidente Dilma Rousseff e outras autoridades, o ministro foi chamado a discursar. De início, lembrou dos investimentos do governo em mobilidade urbana e, ao ressaltar a importância da obra para a cidade, resolveu fazer alusão ao dia comemorativo:

-- Hoje é um dia especial. Afinal, quem nunca brincou com um trenzinho quando era criança?

Dilma e as demais autoridades caíram na gargalhada.

Fonte: Folha de S. Paulo