quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Petrobras quer gasolina mais cara. Mantega, não

Para a empresa responsável pela produção de combustível no Brasil, o reajuste de 6,6% no valor da gasolina autorizado na semana passada é insuficiente. Um dia após a Petrobras apresentar o menor lucro em oito anos, a presidente da companhia, Maria das Graças Foster, defende novos aumentos, a fim de restabelecer “saúde no fluxo de caixa”. Na divulgação dos resultados da empresa, Foster disse que haverá mais dificuldades em 2013 e alertou para a necessidade de equiparar o preço do combustível no Brasil comas cotações internacionais. A reivindicação de Foster teve resposta imediata em Brasília. “É inviável pensar em outro reajuste agora, uma vez que acabamos de conceder um aumento à Petrobras”, disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Petrobras pede mais. Mantega diz não

A presidente da estatal admite que a situação da empresa é difícil e diz que vai cobrar novos reajustes no preço dos combustíveis

Sílvio Ribas

A presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, avisou ontem que vai cobrar do governo novos reajustes dos preços dos combustíveis para que a companhia volte a mostrar “saúde no fluxo de caixa”. Durante a apresentação dos resultados da estatal, que teve em 2012 o menor lucro (R$ 21,1 bilhões) em oito anos, ela ressaltou, diversas vezes, que os aumentos concedidos desde o ano passado — 16,1% para o diesel e 14,9% para a gasolina — ainda não foram suficientes para zerar a diferença entre os valores cobrados dos consumidores no Brasil e os pagos na importação de derivados, um dos principais motivos da queda de 36% no resultado da empresa em relação a 2011.

A cobrança, feita pela manhã, no Rio de Janeiro, foi respondida, no início da noite, pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Queremos estar mais colados ao preço do petróleo no exterior, mas é inviável pensar em outro reajuste agora, uma vez que acabamos de conceder um aumento à Petrobras”, disse ele. Segundo o ministro, nos últimos cinco anos, os preços dos combustíveis subiram em torno de 80%, contra um inflação de 60%. “Portanto, houve aumento real para a Petrobras, que não foi repassado aos consumidores porque o governo reduziu a Cide (tributo sobre a gasolina).”

Graça Foster, como é conhecida, destacou que a recomposição dos preços é importante para que a estatal mantenha os planos de investimento, de R$ 97,7 bilhões neste ano, e consiga, pelo menos, manter a produção, que caiu no ano passado. “Uma petroleira que investe pesado na área de refino tem de buscar continuamente a paridade com as cotações internacionais”, resumiu a executiva. Ela informou que vai intensificar a “discussão permanente” com o acionista controlador (a União) dentro do conselho de administração, mostrando que a maior companhia do país vive uma realidade preocupante.

Com endividamento crescente e sem perspectiva de aumentar a produção de petróleo a curto prazo, a Petrobras também sofreu, no ano passado, com a elevação do dólar. “O câmbio jogou contra e resultou numa alta de 17% do preço em reais do petróleo brent (referência internacional)”, sublinhou a presidente da estatal. O efeito negativo da taxa de câmbio sobre o balanço foi potencializado porque, sem capacidade de ampliar rapidamente a produção doméstica de combustíveis, a empresa vem tendo que aumentar as importações de derivados para garantir o abastecimento interno.

Em 2012, somente as compras de gasolina no exterior cresceram 102%. Com isso, o deficit da balança comercial da companhia saltou 96% chegando a 231 mil barris diários. E não há indicações de que o problema vá diminuir neste ano. Mesmo com o aumento da mistura de etanol na gasolina, de 20% para 25% a partir de maio, o diretor de Abastecimento da estatal, José Cosenza, prevê que a importação de gasolina vai crescer 22% em comparação ao ano passado, alcançando, em média 110 mil barris por dia. Também deverão aumentar as compras de gás natural no exterior.

2013 ainda pior

O mercado reagiu mal aos números da companhia. Não bastassem os fracos resultados operacionais, a decisão de pagar dividendos de forma diferenciada — R$ 0,97 para as ações preferenciais, mas apenas R$ 0,47 para as ordinárias — derrubou os papéis da empresa na Bolsa de Valores de São Paulo (BMF&Bovespa), ampliando as perdas que já haviam sido registradas na segunda-feira.

Depois de cair até 9,17% durante o dia, as ações ordinárias terminaram o pregão com desvalorização de 8,29%, a maior queda desde junho do ano passado. A cotação de R$ 16,60 no fechamento foi a mais baixa desde dezembro de 2005. Os papéis preferenciais tiveram melhor desempenho e conseguiram registrar alta de 0,44% no fim do dia, depois de sofrerem fortes variações ao longo da sessão. “Isso mostra que, de fato, falta capacidade para a companhia conseguir entregar resultado e distribuir dividendos”, avaliou a equipe de análise da XP Investimentos. Para o ministro da Fazenda, contudo, a queda das ações é natural, por se tratar de um mercado de renda variável. “As ações sobem e descem normalmente a cada semana”, afirmou.

Diante da cobrança dos acionistas, Graça Foster explicou que o ano passado foi de grandes dificuldades para a empresa. Acrescentou, contudo, que 2013 “será ainda pior, sobretudo no primeiro trimestre”. Isso porque o câmbio continuará tendo efeitos danosos sobre os custos operacionais e as dívidas. Além disso, será necessário um esforço para sustentar os investimentos já iniciados, considerados fundamentais para levar a estatal “a um novo patamar a partir do segundo semestre”. Desempenho operacional melhor, porém, só virá a partir de 2014, reconheceu. 

Desembolso menor

O diretor de Finanças e Mercado da Petrobras, Almir Barbassa, explicou que a decisão de diferenciar o pagamento de dividendos teve o objetivo de preservar o caixa da companhia. Se a remuneração das ações ordinárias fosse igual à das preferenciais, como ocorria tradicionalmente, o desembolso da estatal subiria em R$ 3,5 bilhões, informou. Ele disse ainda que cortar investimentos para pagar mais dividendos traria perdas maiores para a empresa e afirmou que a política de dividendos “vai continuar a mesma”.

Bolsa desaba mais uma vez

As empresas de petróleo levaram o principal índice da Bolsa de Valores de São Paulo (BM&FBovespa) ao vermelho pelo segundo pregão seguido, ontem, após a Petrobras ter anunciado mudanças na distribuição de dividendos, em meio a fracos resultados operacionais. O Ibovespa recuou 0,22% por cento, caindo para 59.444 pontos, na contramão das bolsas externas. A maior contribuição veio da queda de 8,29% das ações ordinárias da estatal. A OGX, petrolífera do grupo do empresário Eike Batista, caiu 6,22%, ampliando as fortes perdas recentes. Na véspera, a companhia desapontou o mercado ao anunciar produção abaixo da expectativa. A retração do Ibovespa só não foi maior devido ao avanço dos papéis do Itaú Unibanco e da sua holding controladora Itaúsa, que subiram 2,52% e 2,24%, respectivamente.

Fonte: Correio Braziliense

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