Entrevistei uma vez, nos anos 80, um amigo de infância de Ulysses Guimarães. Soube que o pequeno Ulysses, na faixa dos dez anos de idade, já falava em ser presidente da República.
O sonho durou 60 anos. Virou obsessão. Quando estava ao alcance da mão, era tarde demais. O Brasil era outro. Queria outros nomes. Qualquer observador atento sabia das poucas chances de Ulysses na eleição presidencial de 1989. Menos ele. Nas urnas, ficou num humilhante sétimo lugar, com meros 4,4% dos votos.
A história me veio à memória depois de assistir aos discursos recentes de outros dois peemedebistas obcecados. Renan Calheiros e Henrique Alves. Eles foram eleitos para comandar o Senado e a Câmara dos Deputados, respectivamente.
Ambos sonharam muitos anos em presidir as duas Casas do Congresso. Renan Calheiros teve sucesso uma vez e caiu em meio a um escândalo até hoje inconcluso.
O bom político deve ter vários predicados. Alguns são insubstituíveis. Por exemplo, o senso de oportunidade e a capacidade de fazer uma análise fria da conjuntura.
Em 1989, Ulysses Guimarães poderia ter usado o seu prestígio à época para evitar que o Brasil tivesse o desastre anunciado de Fernando Collor. Mas a visão da maior estrela do PMDB estava obnubilada pelo desejo de chegar ao Planalto. Não enxergou a realidade à sua volta.
Acho um erro criminalizar a política de maneira generalizada. Acredito que Renan Calheiros e Henrique Alves têm todo o direito de disputar cargos. Também deve ser dado a eles o direito de se defenderem das acusações que têm contra si.
A única coisa que Renan e Henrique não podem, se desejarem continuar suas longevas carreiras na política, é permitir que o desejo por um cargo os impeça de entender que agora talvez não fosse a hora deles.
Os dois discordarão dessa avaliação. Pode ser. O tempo dirá.
Fonte: Folha de S. Paulo
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