• Decisões estaduais e acordos entre PSB e PSDB, como o de São Paulo, podem minar a aliança programática da Rede Sustentabilidade com o ex-governador de Pernambuco.
Eduardo Miranda – Brasil Econômico
Interlocutores da Rede Sustentabilidade, de Marina Silva, dão a entender que a decisão do PSB de São Paulo, que declarou na semana passada apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin, torna mais complicada a manutenção da aliança nacional da ex-senadora com o presidenciável Eduardo Campos. Porta-voz da Rede em São Paulo, Alexandre Zeitune fez críticas ao presidente regional do PSB, deputado Márcio França, mas disse que o grupo de Marina ainda espera por uma mudança nas convenções estaduais.
"O PSB de São Paulo vai na contramão da história que estamos formatando. Ele não entendeu o anseio da sociedade e defende velhos paradigmas que a Rede não aceita de jeito nenhum. Vínhamos avançando a passos largos, mas isso é um retrocesso. Nossa militância é aguerrida, ela debate esse posicionamento do PSB e temos alas que entendem que esse envolvimento, no maior estado da nação, poderia se constituir numa ruptura, apesar de não existir nenhuma movimentação nesse sentido".
Ontem, em Belo Horizonte, Marina Silva disse, durante coletiva de imprensa, que a decisão do PSB paulista saiu da direção esperada, mas rechaçou a possibilidade de uma ruptura com o partido de Campos: "Não estamos discutindo a chapa e o programa. Isso está compatível. O que saiu da compatibilidade foi o compromisso do Márcio França de que haveria candidatura própria em São Paulo. A Executiva Nacional da Rede ainda não debateu esse assunto", disse a ex-senadora, afirmando que a chapa PSB-Rede terá candidato próprio em Minas Gerais.
Além das diferenças ideológicas, a crise interna dos últimos dias deixa entrever e antecipa a discussão a respeito do prazo de validade da aliança de Eduardo e Marina. Coordenador da campanha de Eduardo Campos e secretário-geral do PSB, Carlos Siqueira disse que a saída da senadora é um dado da realidade.
"Inicialmente, oferecemos ao integrantes da Rede maior participação dentro do PSB. Eles, com toda razão, fizeram questão de afirmar que a Rede é um partido, e nós, do PSB, encaramos isso com muita naturalidade. É esperado que, no momento que eles consigam o registro como partido, eles migrem para essa nova legenda", disse Siqueira, deixando claro que a Executiva Nacional do PSB não intervirá no "praticamente concretizado" apoio do diretório paulista à candidatura de Geraldo Alckmin. "Embora haja o desejo de um candidato próprio em São Paulo, 90% do partido quer essa aliança com o PSDB. Não podemos impor nada, respeitamos as instâncias partidárias", afirmou.
Cientista social da PUC-Rio, o professor Luiz Werneck Vianna não acredita na ruptura da aliança entre Marina e Campos. Para ele, já era sabido, mesmo antes de Marina se tornar vice de Campos, que essa seria uma relação difícil. "A expectativa sempre foi a de que haveria muitos problemas. Mas não vejo a possibilidade de que os dois rompam antes das eleições, que cada um siga um caminho diferente antes de outubro. Marina e Campos podem estar aos trancos e barrancos, mas irão até o fim. Eles não têm outro remédio, a não ser se abraçarem", comentou Werneck Vianna.
O cientista social da PUC-Rio foi além, afirmando que, além de não acreditar na ruptura da aliança, Eduardo Campos não cederá a cabeça de chapa para Marina Silva, apesar da queda nas intenções de voto — na pesquisa do instituto Datafolha, divulgada na semana passada, o socialista caiu de 11% para 7%. "Não acredito na inversão. O projeto político de Eduardo Campos, o objetivo dele, não é 2014. Ele entrou no cenário para ser um candidato viável e mais forte em 2018. Não faria sentido ele sair da disputa para deixar de ganhar força e se tornar mais conhecido pelo Brasil. Ele não vai abrir esse espaço, porque quer marcar posição", argumentou.
Werneck Vianna frisou que o "casamento de conveniência" de Campos e Marina deve ter seu divórcio anunciado logo após as eleições, já que ambos têm o mesmo projeto. "Assim como o Eduardo Campos, a Marina também tem planos de ser candidata à Presidência da República em 2018, quando seu partido já terá o registro. É um desejo que ela teve que adiar, mas que não abrirá mão na próxima eleição", afirmou ele.
Nenhum comentário:
Postar um comentário