- Folha de S. Paulo
O abandono das promessas de campanha e o escândalo de corrupção na Petrobras imobilizaram quem poderia ajudar Dilma a sair do atoleiro. O diagnóstico é de Wanderley Guilherme dos Santos, o respeitado cientista político. Ele diz que a esquerda ficou sem motivos para sair em defesa do governo. "Apoiá-lo em nome de que? Defendê-lo em nome de que?", questiona.
Em 2012, Santos foi um dos intelectuais que criticaram o julgamento do mensalão. Sustentou que o caso era de caixa dois, não de corrupção. Ele diz que a Lava Jato é "totalmente diferente" porque revelou um "processo institucionalizado de predação de recursos públicos". "Isso é roubo. Não tem como contemporizar."
Autor do premonitório "Quem Dará o Golpe no Brasil?" (1962), lançado dois anos antes da queda de João Goulart, o professor se recusa a profetizar sobre o futuro de Dilma. "Está muito difícil fazer previsões", justifica. Ele considera, no entanto, que o impeachment perdeu viabilidade. "Não há motivo e nem há maioria que crie a aparência de que há motivo", afirma. "O que me inquieta não é se a Dilma termina o mandato. Não vejo como será possível governar mais três anos nessas condições. Ou há o impedimento, ou essa conversa acaba, deixa de ser relevante."
Para Santos, a oposição agrava o impasse com a tática de "impedir o governo de governar". Ele contesta a tese de que a economia vai impor a saída de Dilma antes de 2018. "Outros governos enfrentaram crises, e isso não implicava suspeitas sobre a viabilidade institucional deles."
O cientista político acaba de comemorar os 80 anos com um novo livro, "À Margem do Abismo" (editora Revan). Perguntei como ele viu a pesquisa recente do Ibope que mostrou alta rejeição a todos os pré-candidatos ao Planalto, de Lula a Aécio.
"A política não está se mostrando capaz de solucionar os conflitos", respondeu o professor. "Se você perguntar, estou achando tudo uma porcaria. É nota zero para todos eles."
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