Apesar dos juros nas alturas e de o país amargar a recessão mais profunda e duradoura das últimas três décadas, ainda não há sinal claro de moderação da inflação.
Ao contrário, os riscos parecem ter crescido nos últimos meses, dificultando o trabalho do Banco Central e jogando por terra a tênue esperança de que o aperto monetário pudesse ser aliviado em breve.
Com alta de 0,82% em outubro, o índice oficial de inflação subiu 9,93% nos últimos 12 meses. Trata-se da maior taxa acumulada desde novembro de 2003 (11,02%). A correção de 17,5% nos preços administrados, como energia e combustíveis, continua a ser o principal fator por trás dessa escalada, mas não é o único –infelizmente.
Os preços de serviços, que tendem a refletir a dinâmica inflacionária como um todo, aumentam 8,5% ao ano, mesmo num quadro de demanda fraca. A desvalorização do real, por sua vez, resulta em correção de valores de bens duráveis e itens como higiene e limpeza, impactados pelo encarecimento de insumos importados.
Para piorar, soma-se a esses itens uma circunstância nada auspiciosa: desde julho, quando ficou evidente que o rombo nas contas do governo Dilma Rousseff (PT) era maior do que se supunha, tornou-se palpável um cenário de descontrole inflacionário persistente.
Não se descarta que o ora incontido desequilíbrio orçamentário resulte em fuga de ativos brasileiros, em particular da dívida pública, com desvalorização adicional da moeda e repasses mais rápidos para os preços internos.
As projeções para 2016, de fato, têm mostrado taxas cada vez mais elevadas, já apontando para 6,5% –o teto do regime de metas.
Eis um dos frutos podres semeados pela administração petista. Ao agir com leniência diante do avanço dos preços em geral, o governo Dilma contribuiu para cristalizar as expectativas nas alturas. A descrença quanto ao controle da inflação reforça a cultura da indexação, e choques que deveriam ser pontuais reverberam por mais tempo.
Na semana passada, por causa disso, o Banco Central se viu forçado a reafirmar que estará pronto para aumentar a dose de juros (a taxa Selic) caso as perspectivas para a inflação insistam em piorar.
Por enquanto, o novo arrocho não passa de hipótese; a autoridade monetária acredita que o governo resolverá o imbróglio do Orçamento e calcula que a recessão, afinal, reduzirá o ímpeto dos repasses.
A paciência do BC encontra boas justificativas apenas na conjuntura: taxas de juros mais elevadas pouco farão para restaurar a credibilidade da política econômica.
O essencial, para retomar as rédeas da inflação, é promover um ajuste estrutural nas contas públicas –raciocínio que cabe repetir até ser devidamente assimilado pelo governo e pelo Congresso.
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