Guiada por seu chefe e guru, Luiz Inácio Lula da Silva, a presidente em exercício, Dilma Rousseff, corre atrás da popularidade perdida sem ter cuidado para valer, até agora, dos grandes problemas imediatos do País, o enorme desarranjo das contas públicas, um dos maiores do mundo, e a devastadora mistura de estagnação com inflação.
O buraco financeiro do setor público, superior a 9% da produção anual de bens e serviços, é o triplo da média dos 34 países-membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). A inflação beira os 10% e a meta de 4,5% será atingida, na melhor hipótese, só no fim de 2017, mas até isso é duvidoso. Mas o governo, orientado por Lula, deve cuidar desde já do pós-ajuste, uma noção mal definida, mas claramente relacionada, nesta altura, aos interesses eleitorais do PT e, muito particularmente, do político mais influente nos Palácios da Alvorada e do Planalto.
Esse político, empenhado em voltar oficialmente ao governo federal na eleição de 2018, comandou uma reunião no Alvorada, na sexta-feira, para dar instruções à presidente nominal do País, Dilma Rousseff, e a alguns ministros mais vinculados ao gabinete presidencial e mais identificados com as principais estratégias do PT. Lula criticou a incapacidade do governo de enfrentar o desgaste associado à crise econômica.
“A gente precisa dar um sinal de que está governando o País. Não podemos mais ficar na mesmice do economês”, disse o guru, segundo um participante citado em reportagem do Estado.
Pelo estilo, a reprodução das declarações parece fiel tanto à linguagem quanto ao comportamento costumeiro do líder espiritual da presidente. A escolha dos sujeitos – “a gente” e “nós” – está longe de ser casual. Nada mais natural que o uso dessas palavras, quando ele fala do governo.
Afinal, quem garantiu a Dilma Rousseff dois períodos consecutivos como inquilina do Alvorada? E quem deve intervir para mostrar a saída da crise, quando o governo está acuado, com a popularidade arrasada e abandonado pelos aliados mais importantes?
A “mesmice do economês” só pode significar a conversa interminável, e sem sucesso, a respeito das medidas necessárias para o ajuste das contas públicas e para a superação dos problemas associados. Lula insiste na liberação de créditos pelos bancos oficiais, como se isso bastasse para a retomada do crescimento.
A presidente, segundo fontes próximas do Planalto, mostra-se cada vez mais inclinada a aceitar a ideia, mesmo contra a resistência da equipe econômica, ou pelo menos de alguns de seus componentes. A ideia obviamente é arriscada. A expansão do crédito por um longo período gerou inflação, enquanto a produção industrial ficou estagnada e o investimento produtivo declinou.
Mais crédito poderá animar um pouco o comércio e dar um respiro à indústria, se os consumidores estiverem dispostos a se endividar, mas isso é duvidoso, e, de toda forma, a economia continuará sem potencial de crescimento.
Em busca de apoio, o governo estuda a reativação do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, um instrumento de cooptação política de grandes empresários e de sindicalistas. O Conselhão funcionou durante os mandatos de Lula e nada produziu de útil para o País e serviu para facilitar o lobby empresarial. Reativado, será tão inútil quanto antes e talvez mais perigoso para a economia nacional.
Se o governo cuidar da eleição de Lula sem resolver os grandes nós econômicos, fará o País afundar mais no atoleiro. De fato, o governo já tem recuado das tentativas de ajuste. Acaba de recuar mais uma vez, ao revogar a data final, 31 de outubro, para os pedidos de financiamento da linha Finame PSI, operada pelo BNDES. O anúncio foi antecipado pelo presidente da associação das montadoras de veículos, Luiz Moan, no Salão Internacional do Transporte Rodoviário de Carga. Recuar já é ruim. Descuidar da compostura é um exagero.
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