• Ninguém sabe o que querem tucanos no pós-Dilma
- Valor Econômico
É mais ou menos consensual no PSDB que a presidente Dilma Rousseff não chega ao fim do mandato. Se não for por impeachment, será por pura exaustão. Num partido de tanto dissenso, desta vez ninguém acredita que a presidente tenha condição de liderar o processo de recuperação econômica, política e moral que requer o país. O PSDB já fala no "pós-Dilma". O que ninguém exatamente sabe dizer é o que isso significa para os tucanos.
Não é cobrança gratuita. Desde 1994, o PSDB elegeu Fernando Henrique Cardoso para dois mandatos consecutivos e disputou com o PT o segundo turno de todas as eleições presidenciais subsequentes. O que falta para os tucanos dizerem o que pensam, quando até o PMDB escreveu uma carta aos brasileiros apresentando-se como alternativa à crise? O PSDB estaria disposto a ajudar o PMDB e partes do PT numa transição?
No momento, o PSDB tergiversa sobre três assuntos cruciais: o impeachment da presidente da República, o afastamento e a cassação do mandato do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e qual será o seu candidato a prefeito de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país e onde as repercussões da crise parecem mais latentes. PMDB, PRB e PT já estão em campanha; os tucanos, divididos.
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, parece ter dois nomes na manga. Um deles é o do empresário João Dória Jr, que tem 3% das intenções de voto, a um ano da eleição, segundo pesquisa Datafolha divulgada no início deste mês. Outro é o do vice-governador do Estado, Márcio França (PSB), que transferiu seu título para a capital a pedido do governador. Até resolver trocar o PT pelo PMDB, a senadora Marta Suplicy era alternativa para dupla Alckmin-França.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e os senadores José Serra e Aloysio Nunes Ferreira apoiam o nome do vereador Andrea Matarazzo, que há dez anos se preparara para ser prefeito de São Paulo e costuma repetir que não é candidato a nada mais a não ser prefeito da cidade. Na principal simulação do Datafolha com seu nome, Matarazzo aparece com 4% das intenções de voto do eleitorado paulistano.
Na prática, tanto Matarazzo quanto João Dória Jr precisam de tempo para tentar equilibrar a disputa com adversários mais conhecidos, casos de Celso Russomano (34%), Marta (13%) e até mesmo do apresentador de TV José Luiz Datena (PP), da Bandeirantes, que também tem 13%, mas que dificilmente levará sua candidatura até o fim. O que o PSDB precisa é tomar uma decisão e mostrar uma posição clara sobre seus pontos de vista não apenas sobre São Paulo como também sobre o país. A campanha de 2016, nunca custa lembrar, será também menor.
O PT nunca entrou tão frágil numa disputa eleitoral, pelo menos desde que venceu a Presidência da República, segundo mostram números do Ibope. O partido é rejeitado por 38% da população, segundo pesquisa divulgada por "O Estado de S. Paulo". O PSDB está bem atrás, com 8%, mas deve-se lembrar que o PT é o mais citado quando a pergunta é sobre qual partido a população mais gosta. PMDB e PSDB estão em segundo lugar, empatados, com 10%. Mas 40% dos entrevistados afirmam não ter simpatia por partido nenhum.
Os índices de Haddad pioraram em relação ao levantamento do Datafolha feito em fevereiro. A aprovação do prefeito caiu de 20% para 15%, enquanto sua taxa de reprovação subiu de 44% para 49%. Aparentemente, as políticas reducionistas que o prefeito adotou para a capital não tiveram o efeito esperado. São Paulo é uma cidade que está menos para Nova York e mais para Nairóbi, a capital do Quênia, noves fora o tamanho de cada cidade. Talvez menos ciclovia e mais transporte urbano, habitação e saúde. Mas é também em São Paulo que os efeitos perversos de uma crise com emprego em baixa e inflação em alta são mais sentidos.
No domingo, houve manifestações contra a permanência do deputado Eduardo Cunha na presidência da Câmara em nove Estados. A caligrafia dos protestos é mais que conhecida, é a mesma de quem se dispõe a ocupar as ruas contra o impeachment da presidente Dilma. Esse é o impasse, 2015 é tanto um ano que não acabou como o que não aconteceu. O PSDB pode até achar que a saída de Dilma da Presidência da República é uma questão de tempo, mas precisa desde já tomar decisões e dizer o que quer na hipótese de o impeachment - ou renúncia - efetivamente vier a ser confirmado.
Estrelas de primeira grandeza do PT voltaram a mencionar a palavra impeachment, no momento em que ela parecia cair em desuso. Segundo avaliação dessas fontes, curiosamente compartilhada com integrantes da cúpula do PSDB, Dilma tem apenas uma chance de concluir o mandato: nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, com pleno poderes para indicar também o ministro-presidente do Banco Central e o ministro do Planejamento. História antiga, mas o reuso exige registro. Os mesmos petistas dizem que o novo ministério Dilma tem três pontas soltas que dificultam a coesão interna, da base e em torno de Joaquim Levy: Miguel Rossetto (Previdência Social), Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo) e - para não fugir à regra - José Eduardo Cardozo (Justiça).
Já não é a mesma a relação política do governador Rodrigo Rollemberg (PSB-DF) com o senador Reguffe (PDT), talvez o seu maior eleitor no Distrito Federal. Está certo que Rollemberg recebeu as contas de Brasília sucateadas pela administração anterior de Agnelo Queiroz, mas Reguffe não consegue deixar de demonstrar incômodo com as concessões feitas pelo governador de Brasília aos antigos métodos que sempre determinaram o toma lá, dá cá na Câmara Distrital. Rollemberg e Reguffe eram dois dos maiores símbolos daquilo que, na eleição presidencial de 2014, era chamado de "nova política", cuja representante maior era a ex-senadora Marina Silva (Rede Sustentabilidade).
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