- O Globo
A melhor solução para Lula é o impeachment de Dilma, segundo o ex-ministro de Fernando Henrique, Lula e Dilma Nelson Jobim, que se transformou na figura mais importante a atuar nos bastidores dos três poderes dos quais já participou: foi o relator da Constituinte, foi ministro de Estado, e presidiu o Supremo Tribunal Federal.
A melhor solução para Dilma é Eduardo Cunha permanecer na presidência da Câmara, na avaliação de importantes assessores do Palácio do Planalto. Enquanto Cunha tiver o poder de aceitar o processo de impeachment, terá força para continuar a chantagear governo e oposição, sem sair do lugar.
Até que o tirem de lá, tarefa que depende basicamente dos deputados, mas que tudo indica não será cumprida devido ao receio, diria mesmo pânico, de que Cunha revele os muitos segredos que sabe de vários deputados e senadores.
Este é o resumo da situação a que chegamos, em que de chantagem em chantagem os poderes da República vão ficando paralisados, cada um tentando sobreviver aos ataques previsíveis apenas para sobreviver, sem maiores projetos para o futuro.
Para a presidente Dilma, o mais importante é não cair, seguir adiante até que seu mandato termine e ela possa ir para casa com o troféu de pior presidente da República da História, mas sem o constrangimento de ter sido derrubada.
Já Eduardo Cunha luta para não ser preso. Assim como acha que o Palácio do Planalto tem capacidade de manipular a Polícia Federal e o Ministério Público para persegui-lo, acha também que o procurador-geral da República não terá coragem de processá-lo enquanto presidir a Câmara, pois o Planalto o protegerá. Ledo e ivo engano, como diria o Cony.
Tudo indica que Cunha vai ter que explicar para os ministros do STF essa história da carne moída num processo que, de acordo com as provas que já foram anunciadas, possivelmente o levará para a cadeia.
Desse ponto de vista, é mais fácil derrubar Cunha do que Dilma, pois no Brasil criou-se a fantasia de que só roubo em benefício próprio justifica um impeachment. Com essa tese jurídica, permite-se que diversas leis sejam violadas pelo presidente da República do momento, dando a ele o poder de estar acima das leis se não for um reles ladrão.
Roubar pela causa, ou utilizar o dinheiro público para criar as condições para a eleição de seu candidato, como fez Lula em 2010, fazendo o país crescer a 7,5% no ano, mas escangalhando as contas públicas, isso pode. Ou facilitar a reeleição com abuso do poder econômico, hábito da política brasileira que a Lei de Responsabilidade Fiscal pretendeu evitar, isso também pode, sem que se veja nesses atos o que eles realmente são: crimes contra o patrimônio público puníveis com impeachment.
Enquanto a política brasileira segue nessa pasmaceira, pioram as previsões para a economia também em 2016 e a crise tripla — política, econômica e moral — não parece ter uma saída plausível, pois os acordos políticos já não obedecem a parâmetros civilizados.
Os players desse jogo truncado ganham com a paralisia das ações, e não há regras morais que as limitem. Vale tudo para alcançar o objetivo imediato, que é o de sobreviver no cargo.
Esse, como se vê, não pode ser o caminho virtuoso de um país em busca de seu destino. Não temos hoje na vida pública figuras que inspirem confiança, e por isso não é surpreendente que pesquisas de diversas procedência informem a rejeição maciça aos políticos e aos partidos.
Forma-se nessa marcha a condição para uma disputa presidencial em 2018 mais fragmentada do que a de 1989, a primeira eleição direta para presidente da República depois dos anos ditatoriais e a transição para a democracia iniciada com a eleição indireta de Tancredo Neves.
A não ser que saiam das operações Lava-Jato, Zelotes e similares definições de culpa que mudem o panorama atual e encurtem o caminho.
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