Por Andrea Jubé e Vandson Lima | Valor Econômico
BRASÍLIA - Sob pressão para promover mudanças em sua equipe, o presidente Michel Temer resiste, mas acabará impelido a promover uma reforma ministerial em janeiro. Ele prefere fazer as alterações em fevereiro, após a eleição para a presidência da Câmara dos Deputados. Mas tanto a disputa pela sucessão do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quanto os novos capítulos da delação da Odebrecht podem precipitar a dança das cadeiras no primeiro escalão.
Em um café com jornalistas, no último dia 22, Temer disse que "não há nenhuma intenção neste momento de fazer qualquer modificação ministerial". Logo depois, contudo, ressalvou que, "naturalmente", não sabe o que vai "acontecer lá pra frente". É nesse contexto que tanto os novos capítulos das revelações da Odebrecht quanto o embate pela cadeira de Rodrigo Maia influirão na reforma.
O presidente recebe, diariamente, conselhos de auxiliares e aliados para substituir integrantes de sua equipe. Os alvos principais dessas críticas são os ministros da Saúde, Ricardo Barros (PP), da Justiça, Alexandre de Moraes (PSDB) e do Trabalho, Ronaldo Nogueira (PTB). No outro extremo, estão ministros como Mendonça Filho (DEM), da Educação, e Bruno Araújo (PSDB), das Cidades, que segundo assessores palacianos têm a cotação alta porque proporcionam agendas positivas para Temer.
Paralelamente, há receio de que o vazamento de novos trechos das delações de executivos da Odebrecht voltem a expor seus principais auxiliares: o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o secretário-executivo do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), Moreira Franco. Ambos foram citados na delação do ex-diretor de Relações Institucionais Claudio Melo Filho, e rechaçam as acusações.
Sobre as delações, Temer tem lembrado que não têm valor de prova enquanto não forem homologadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o que não ocorrerá antes de fevereiro. No encontro com a imprensa, Temer fez uma defesa enfática de Padilha: "eu não tirarei o chefe da Casa Civil, ele continua firme e forte", assegurou.
As críticas mais persistentes ao titular da Saúde são de que ele comanda o maior orçamento da Esplanada, mas não promove projetos de governo. Além disso, Barros ganhou fama de "língua solta", provocando constrangimentos no governo. No mês passado, disse que a primeira-dama, Marcela Temer, poderia ser a "madrinha da campanha de mobilização" contra a dengue, o que irritou o presidente. Em agosto, declarou que os homens cuidam menos da saúde "até porque trabalham mais [que as mulheres], são os provedores da maioria das famílias". Depois, ele se retratou.
Por isso, o nome do líder do PP na Câmara, Aguinaldo Ribeiro (PB), começou a circular como possível substituto de Barros. Seria uma solução para aliviar a disputa acirrada no Centrão pela presidência da Câmara. Isso porque chegou ao Planalto a informação de que Ribeiro já teria o apoio de 180 deputados para a sucessão de Maia.
Acomodá-lo no ministério para esvaziar a disputa na Câmara seria a mesma solução que Temer empregou na escolha do líder do PSDB, Antonio Imbassahy (BA), para o lugar de Geddel Vieira Lima na Secretaria de Governo. Imbassahy também havia se colocado no embate pela presidência da Casa, mas em janeiro será nomeado ministro. O Planalto tem uma preferência velada pela reeleição de Maia, mas oficialmente a informação é de que Temer não interferirá no pleito.
Na cúpula do PP, a leitura é de que Barros segue no comando da Saúde. A explicação é pragmática: com quase todos os nomes de relevo da sigla no Congresso investigados na Lava-Jato, Barros, que não apareceu nas delações, fica por falta de opção em viabilizar outro representante. Ribeiro, inclusive, responde a um inquérito sobre a Lava-Jato no STF. Não o atrapalha na disputa na Câmara, mas dificulta que assuma um ministério.
Visto como personalista, Barros não é querido na bancada. Mas mesmo os que lhe têm reserva reconhecem que tem se esforçado para encaminhar as demandas dos colegas de partido. Ele tem, ainda, o apoio do presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI).
Temer também sofre pressão para substituir Alexandre de Moraes por um "notável". Aliados desferem críticas de que ele ainda se comportaria como "secretário de Segurança Pública", cargo que exerceu no governo de São Paulo. "Ele não tem a estatura de um Nelson Jobim ou um Miguel Reale", diz um aliado assíduo no gabinete de Temer.
No Planalto, o temor é que os novos capítulos da delação da Odebrecht e a sucessão na Câmara aprofundem a divisão na base aliada, de modo a ampliar a turbulência política, fragilizar o governo e frustrar o avanço das reformas estruturantes, como a da Previdência Social e trabalhista - ambas em andamento na Câmara.
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