Pesquisa da insuspeita Fundação Perseu Abramo feita no entorno da cidade mostra que valores de ex-eleitores do PT são liberais
OPT e sua corrente hegemônica, o lulopetismo, não erraram apenas no projeto de uma política econômica nacional-populista, inspirada no espírito terceiro-mundista da segunda metade do século passado, de pedigree intervencionista nos moldes dos tempos do Muro de Berlim.
Também foram derrotados na visão de que o Estado deve tutelar a sociedade, em nome da redenção dos pobres. O partido, no poder, elevaria a carga tributária para supostamente redistribuir recursos em favor das classes ditas populares, e estas retribuiriam na forma de voto e apoio político incondicional.
Na economia, o fracasso encontra-se à vista de todos. Para os menos atentos, está visível desde 2015, no início do segundo mandato de Dilma, com a disparada da inflação, o mergulho da economia na recessão e os hoje 13 milhões de desempregados. Mas já vinha de muito antes.
O rombo nas contas públicas, provocado pela recaída de Lula na velha política econômica do PT e radicalizada por Dilma — impedida por este motivo —, é tão grande que o governo Temer está obrigado a fazer um enorme esforço para fechar as contas em 2017 ainda com um déficit nas alturas (R$ 139 bilhões).
Já a derrota do projeto político está registrada nas conclusões de pesquisa qualitativa de fonte insuspeita — Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT —, realizada junto a um público representativo, na periferia da cidade de São Paulo: ex-eleitores do PT que já não tinham votado em Dilma, em 2014, tampouco em Fernando Haddad, no pleito municipal de 2016, todos na faixa de renda entre dois e cinco salários mínimos, beneficiários e exbeneficiários de programas sociais.
A perda de substância eleitoral do partido ficara exposta na derrota em 2016. A pesquisa ajuda a entender a razão do divórcio desse público, morador numa região considerada durante algum tempo cativa do PT, mas que, no ano passado, votou no tucano João Doria, um “não político”.
Uma das conclusões é que toda a pregação de Lula de “nós contra eles” — os pobres contra as “elites” — não vingou. Não existe esta divisão para os entrevistados na periferia paulistana. A luta de classes não está em seu universo. A ideia, também, de um Estado benfeitor, amigo do povo, para o qual cobra pesados impostos é a inversa: o Estado é malvisto exatamente por cobrar muitos impostos, a mesma percepção que tem o morador dos bairros abastados paulistanos.
Em vez de querer ser tutelado, também revela a pesquisa, este morador da periferia de São Paulo quer ascender socialmente pelo esforço próprio. Tanto que dizem se identificar com Lula, Sílvio Santos e João Doria, por representarem histórias de sucesso pessoal, não fruto de algum programa assistencialista. Buscam crescer na vida pelo mérito, não por meio de cotas ou alavancas semelhantes, uma das marcas do PT.
O partido terá muito o que refletir sobre este recado de uma periferia representativa do Brasil cosmopolita. Será um erro se a militância preferir o aconchego do apoio sem crítica dos beneficiários do Bolsa Família, e outros programas sociais, de áreas empobrecidas do Nordeste e Norte. Consolidará, assim, um pacto clientelista com a pobreza e a miséria, como partidos conservadores já fizeram.
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