- O Globo
Se fosse deputado, o presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati, teria votado pela aceitação da denúncia contra o presidente Michel Temer. Por ele, o partido já teria saído do governo, mas não faria oposição sistemática. “Não seríamos do tipo ‘fora Temer’. Votaríamos a favor das reformas”. O PSDB espera ter até o fim do ano um candidato a presidente para 2018.
Tasso Jereissati, em entrevista para o meu programa na Globonews, explicou que votaria a favor da investigação do presidente Temer por coerência, por ter votado assim no caso da ex-presidente Dilma, e por ser a favor da investigação. Quando perguntei sobre o senador Aécio Neves, atingido pela mesma delação, ele disse que Aécio tem o direito de se defender e invocou o princípio da presunção de inocência. Negou que o partido esteja dividido, apesar das cenas explícitas desse racha durante o processo que levou à rejeição da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra o presidente Temer.
— Defendo que não houve divisão porque esse não era um assunto programático. O líder sustentou o voto a favor da denúncia porque esse foi o entendimento da maioria do partido, mas cada um votou com as suas convicções — disse, explicando que houve um voto a mais a favor de Temer (22 a 21) porque houve uma série de coincidências, “algumas tristes”, que fizeram com que quatro deputados se ausentassem.
O PSDB fará autocrítica, segundo Tasso, por ter errado muito e se afastado demais dos ideais que o fundaram:
— Erramos muito. O partido nasceu de um movimento de pessoas que saíram do PMDB por oposição a uma política quercista que era muito parecida com a de hoje. Nosso nascimento veio da revolta com aquela maneira de fazer política. Todos esses princípios que levaram à fundação do partido, há 30 anos, foram sendo abandonados. Nos misturamos com essa política do fisiologismo que gera corrupção. Entramos nesse jogo. Hoje temos que reconhecer isso e voltar a ser uma alternativa para o país com uma postura ética da política e qualidade na administração pública.
O partido, em reunião ontem, definiu um calendário de decisões. Tasso permanecerá na presidência, como interino, até o fim do ano, mas o partido fará uma revisão do seu programa, para atualizá-lo com respostas para diversos problemas que não estavam no foco quando o partido foi fundado. Para isso, serão convocados os formuladores do partido. Até o fim do ano será eleita uma nova executiva para o comando partidário e se definirá o nome do pré-candidato a presidente. Se houver mais de um candidato, serão realizadas prévias.
Tasso usou a palavra “catastrófica” para definir a crise fiscal atual:
— A questão mais grave hoje não é se vota ou não as reformas. Existem problemas com esse adiamento mas eles são reversíveis. A pior crise é a fiscal, que está saindo do limite da dramaticidade e vai entrar no grau catastrófico irreversível. Essa é outra crítica que faço ao governo Temer. A equipe econômica é boa, mas está sendo atropelada pela política e o ajuste fiscal deixou de ser a prioridade número um, o foco do governo. Isso que é vital, fundamental, ficou em segundo plano e quanto mais vai se agravando mais dolorido fica para a população. Temos que consertar antes que a dor seja insuportável.
Ele disse que, se o presidente Temer quiser tirar os ministros tucanos do partido, tem esse direito, mas não defendeu a entrega dos cargos.
— É um direito do presidente, direito que ele tem e deve exercer. Se ele achar que é o melhor para o país, ele tira e coloca um melhor. Não vamos mudar um milímetro a nossa posição em relação aos projetos do governo que vierem para o Congresso, naquilo que acreditamos que seja o melhor para o país. Não será por causa disso que vamos votar contra. Se ele estiver incomodado, que tire, não vamos reclamar, nem mudar de postura sem os ministros. Mas também não nos impedirá de ser críticos.
Tasso disse que tem estado em contato com os economistas tucanos que enviaram carta com crítica ao partido. Disse que o PSDB tem “os melhores economistas do país” e profissionais de outras áreas, que participarão da renovação do programa partidário.
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