Nelson de Sá | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - A Rede Globo tirou do ar a grade histórica do horário nobre, o sanduíche novela/telejornal nacional/novela que sustenta sua mescla de entretenimento e jornalismo, mas não foi o bastante para constranger os deputados a votar contra Michel Temer.
Um por um, na tela da Globo, única emissora aberta a trocar a programação regular pela transmissão ao vivo da Câmara, os parlamentares deram seus votos, desta vez mais contidos, não só nas declarações e nos gestos, mas até nas roupas.
Desde 17 de maio, quando veio a público o conteúdo da gravação que o empresário Joesley Batista fez no Palácio do Jaburu, a rede aberta e veículos como a GloboNews, que é dirigida pelo jornalismo da Globo, atiram sem intervalo contra Temer.
No dia 9 de julho, organizou um encontro do presidente da Câmara e então provável sucessor, Rodrigo Maia, com o vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet Camargo, na casa deste, em Brasília.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a saída, na GloboNews. O deputado Sérgio Zveiter, cujo escritório de advocacia tem a Globo como um de seus principais clientes, foi relator do caso –e encaminhou contra Temer.
Todos foram derrotados, no horário nobre de quarta. O apresentador William Bonner não deu as caras, mas Renata Vasconcellos noticiou por ele: "Com 263 votos pelo sim, 227 votos pelo não, duas abstenções, 19 ausências e um total de deputados votantes de 492, a maioria da Câmara aprovou o parecer pela rejeição da denúncia contra o presidente Michel Temer, por corrupção passiva".
Em enunciados e análises posteriores na Globo/GloboNews, a vitória foi relativizada, pelo número de votos. E o comentarista Merval Pereira não recolheu as armas: "A vitória do Temer foi a vitória do clientelismo, da politicagem, do baixo clero".
O certo é que Temer venceu –ou, como descreveu o comentarista Alexandre Garcia, no final da transmissão, às 22h, direto do plenário: "Ele pode não ter popularidade fora da Câmara, mas aqui ele já viu que tem governabilidade".
Derrotados como Zveiter, que já estaria de saída do PMDB para o Podemos, começaram a sentir os primeiros efeitos. A dúvida é quanto ao alcance da retaliação de Temer contra o que chamou, nos últimos dois meses, de "conspiração".
Por exemplo, quanto à Globo, a questão é se vai manter a queda nos gastos publicitários do governo com a rede, que vêm baixando ano a ano: R$ 666 milhões em 2014, R$ 438 milhões em 2015, R$ 324 milhões em 2016 –este já com Temer, a partir de 12 de maio, no poder.
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