- O Estado de S.Paulo
O presidente Temer ganhou no voto, mas até que ponto sai fortalecido da decisão da Câmara que determinou o arquivamento das denúncias de corrupção?
Para alguns, ficou reforçada a estabilidade política. Para outros, a nova vitória do chamado presidencialismo de coalizão (ou seria de colisão?) melhorou as condições para aprovação das reformas. Mas até que ponto se pode prever o comportamento da economia a partir daí e que efeito terá a quase inevitável deterioração das contas públicas para a política e o resto da atividade econômica?
A afirmação de que Temer saiu fortalecido no processo é de lógica duvidosa. Temer conta com apenas 5% da aprovação da opinião pública, como demonstram as pesquisas. E a safra das denúncias parece longe do fim. A vitória na Câmara foi por margem considerável de votos, mas bem mais modesta do que a esperada pelo governo e por muitos analistas. Sua base política perdeu coesão e os tucanos mostraram desarticulação. São elementos que sugerem um Michel Temer mais enfraquecido do que revigorado.
No entanto, as análises têm de ser mais abrangentes. A oposição também se mostrou destrambelhada e rachada. Tinha acertado o boicote ao quórum da sessão de quarta-feira, mas depois se viu que os próprios políticos da oposição preferiram ganhar visibilidade na tribuna do que articular ações coletivas coerentes.
O ronco das ruas sumiu, não há panelaços, a palavra de ordem “fora Temer” parece mais coisa de artista do que de mobilização partidária. As esquerdas não têm estratégia nem um plano B, caso os tribunais tornem o ex-presidente Lula inelegível.
De outro ponto de vista, Temer sai, em certo grau, fortalecido também porque não há mais tempo nem energia política para tentar outra solução antes de outubro de 2018. Mesmo se vierem novas denúncias e que alguma delas consiga arrancar aprovação do Congresso para julgamento de Temer pelo Supremo, um processo desses levaria mais cinco ou seis meses, como se viu no caso Dilma. E aí já estaríamos em 2018, à beira das eleições.
Na hipótese de Temer ser condenado, o interino teria três meses para convocar eleições indiretas que, por sua vez, definiriam mandato-tampão de apenas alguns meses. Enfim, trata-se de um cronograma pouco viável.
Do ponto de vista da economia, o que se pergunta são duas coisas: até que ponto a relativa estabilidade política pode ajudar a aprovação da reforma da Previdência? E até que ponto o governo conseguirá controlar as contas públicas sem aumentar impostos e sem arrochar ainda mais a despesa?
Não há respostas simples para essas questões. Não está claro de quanta bala política ainda dispõe o presidente Temer para viabilizar a reforma da Previdência, mas a aprovação de alguma rodela desse salame parece inevitável. Mas não dá para prever o que será das contas públicas nesse clima de emperramento da atividade econômica, apesar das garantias de boca do ministro Henrique Meirelles.
No mais, dentro de menos de dois meses, terão de ser definidas as regras do jogo para as eleições, num ambiente de salve-se quem puder entre os políticos, de baixas disponibilidades para financiamento de campanha – e de uma população cansada e fortemente desacreditada nos seus representantes.
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