- Folha de S. Paulo
Apesar de o desfecho do caso Temer não ser dos mais alvissareiros para os que pensam ser possível conciliar a Presidência da República com rigor ético e governança economicamente responsável, não dá para dizer que o resultado tenha sido inesperado.
O problema é a Constituição. Ela dá ao presidente da República uma blindagem exagerada. Mesmo se existisse um vídeo (periciado) do titular estuprando e estripando uma criancinha durante seu mandato, ele só poderia ser processado por isso se 2/3 dos deputados autorizassem o STF a dar início à ação penal. E, convenhamos, excetuados casos mais extremos como o do estupro, não é muito difícil para o detentor da caneta presidencial fazer com que 172 dos 513 deputados o apoiem ou apenas faltem no dia da votação.
O surpreendente não é que Temer tenha se safado, mas sim que Dilma não tenha sido capaz de arregimentar 1/3 dos membros da Câmara para barrar o impeachment. Uma consulta rápida aos arquivos dos jornais mostra que ela não hesitou em recorrer às mesmas armas que Temer: farta promessa de cargos e liberação de emendas parlamentares.
Sob esse aspecto, não há como deixar de qualificar os discursos que antecederam a votação da quarta-feira como mensagens de hipocrisia explícita. A turma que defendeu Temer evocou a estabilidade econômica como justificativa, mas não mencionou que participou de um toma lá dá cá que é altamente nocivo ao equilíbrio fiscal. Só a MP que alivia a dívida de ruralistas deverá custar ao país R$ 8 bilhões. Já a oposição se esmerou em defender a ética na política, como se o PT não estivesse envolvido até a medula nos principais esquemas de desvio de dinheiro público desbaratados pela Lava Jato.
Pelo tom das manifestações, podemos esperar, em 2018, uma campanha tão mentirosa quanto a de 2014, o que pressagia novo estelionato eleitoral e mais problemas lá adiante.
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