Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - A escolha do candidato do PSDB às eleições presidenciais de 2018 é um dos motivos, talvez o principal deles, da crise pela qual passa o partido. Se dependesse do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, a escolha se daria o mais rápido possível. O governador teme perder terreno para o prefeito da capital, João Doria. Por isso está em campanha aberta para assumir o comando do partido.
Mas outros caciques partidários como Fernando Henrique Cardoso, José Serra e Aécio Neves preferem que o PSDB espere assentar a poeira da Operação Lava-Jato, antes da definição de um nome, a fim de não ser surpreendido mais adiante.
O ex-governador de São Paulo Alberto Goldman, por exemplo, acha que se poderia esperar até mesmo a convenção de maio, para a tomada da decisão. O mais provável, no momento, é que a escolha ocorra em dezembro, uma exigência do governador Alckmin para apoiar o arranjo pelo qual Aécio se mantém como presidente licenciado do PSDB e o senador Tasso Jereissati, presidente interino. O projeto de Alckmin é ter ele próprio ou um aliado no comando quando o PSDB escolher o candidato.
O arranjo interno concluído ontem pelo PSDB se deu na esteira de uma explosão do senador Tasso Jereissati, que substituiu Aécio, caído em desgraça quando foi gravado pelo empresário Joesley Batista pedindo R$ 2 milhões. Aécio se afastou formalmente, mas nunca deixou de atuar nos bastidores do partido, cuja máquina tenta manter sob controle. O duplo comando deixou irritado o interino. Tasso teve pelo menos uma discussão áspera com Aécio. Discutiu também com José Aníbal, presidente do Instituto Teotônio Vilela. "Eu não aceito ser questionado pelos jornais", esbravejou.
Tasso também tomou o partido dos "cabeças pretas", como são designados os parlamentares que não integram a geração dos fundadores e votaram a favor do afastamento do presidente Michel Temer. Mas foi o conflito com Aécio que o levou a dizer que deixaria a presidência interina, devolvendo o cargo Aécio. Afinal - argumentou Tasso -, Aécio reassumira o mandato de senador, do qual fora afastado pelo ministro Edson Fachin, por decisão do Supremo Tribunal Federal. Com a virtual saída de Tasso, o governador Alckmin retomou o assédio para conquistar o espaço praticamente vazio, uma vez que Aécio é hoje um presidente fragilizado cuja candidatura ao Palácio do Planalto foi abatida pela Lava-Jato e as gravações de Joesley.
Embora em menor escala, Alckmin também bordejou delações premiadas da Lava-Jato, mas sua candidatura também tem adversários em São Paulo, como o senador José Serra, atualmente numa aliança de conveniência com Aécio para impedir o avanço do governador paulista.
Os tucanos apararam arestas em reuniões realizadas em Brasília, nas madrugadas de quarta-feira e quinta-feira. E Tasso, que não via mais sentido em continuar como interino, resolveu ficar, depois que Aécio Neves se comprometeu a não mais se intrometer em assuntos da presidência do PSDB. Encurralado, Alckmin exigiu em contrapartida uma definição do candidato até dezembro.
Os tucanos concordaram também em tentar demonstrar um mínimo de união, numa sigla que nos últimos dias expôs as vísceras tanto na discussão sobre a licença de Aécio, como na discussão sobre o apoio ao presidente Michel Temer. Isso implica - e foi dito - que o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores), por exemplo, deve evitar críticas contundes e públicas a adversários internos. Ficou também decidido que seria levado um pedido para presidente Temer não se aproveitar da situação para aprofundar a divisão do PSDB. Serra esteve ontem à tarde com Michel Temer.
Para os caciques tucanos, o PSDB deve procurar um candidato que seja "adequado" e "viável" eleitoralmente para 2018. Por "adequado" deve-se entender um nome com "experiência e preparo" para enfrentar os atuais desafios do país - um critério aparentemente feito sob medida para tirar do páreo o prefeito Doria, que não é aceito pelos "cabeças brancas" do partido, mas sobretudo para se prevenir de um nome que em plena campanha possa ser atingido pela Lava-Jato. Os tucanos, como os petistas, temem ações que possam ser desencadeadas a partir de Curitiba.
O tempo também pode jogar a favor de quem hoje está enroscado nas investigações, mas com possibilidades de ser exonerado por uma decisão do Supremo Tribunal Federal. Esse poderia ser o caso, por exemplo, do senador José Serra, hoje peça fora do tabuleiro tanto da sucessão presidencial como da disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Aécio, que saiu das eleições de 2014 como fava contada para 2018, hoje considera a hipótese até de disputar uma vaga à Câmara dos Deputados.
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